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Energia a partir do lixo

OESP, Notas e Informacões, p. A3
25 de Jan de 2004

Energia a partir do lixo

Finalmente chegou ao fim o desperdício do gás produzido pela decomposição de 7 mil toneladas de lixo depositadas diariamente no Aterro Bandeirantes, em São Paulo. Na sexta-feira, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente inaugurou a maior usina do mundo de geração de energia a partir do gás metano, construída numa parceria entre Unibanco, Biogás Energia Ambiental e Eletropaulo. A produção de 170 mil megawatts por hora abastecerá aproximadamente 200 mil pessoas ou 50 mil famílias e evitará o lançamento de 10 milhões de metros cúbicos de metano na atmosfera. A nova usina termoelétrica traz, enfim, vantagens para a economia, para a saúde pública e para o meio ambiente da capital.
O investimento de R$ 60 milhões foi assumido na maior parte pelo Unibanco. A tecnologia utilizada é da empresa holandesa Van Der Wiel, sócia da Biogás, que já desenvolveu projetos semelhantes em Paris, Londres e Barcelona. A Eletropaulo investiu R$ 2,5 milhões na construção de uma subestação que receberá a energia produzida e a colocará na rede de distribuição. A usina funcionará em regime de concessão por 15 anos.
Parte da produção servirá às sete comunidades vizinhas do aterro, onde vivem cerca de 2.200 famílias em concentrações de submoradias, utilizando-se de perigosas gambiarras, ligações clandestinas na rede elétrica. Em São Paulo, a Eletropaulo estima a existência de 200 mil ligações clandestinas, principal causa de perdas comerciais que chegam a 7%, enquanto o padrão mundial é 1%. O roubo de energia, além de significar prejuízos financeiros para a Eletropaulo, traz sérios riscos aos moradores: a maioria dos incêndios em favelas é provocada por curto-circuitos nessas ligações improvisadas.
O Unibanco, por sua vez, terá descontado da sua conta de energia o total referente à produção da usina. O crédito permitirá o abastecimento de mil agências localizadas no Estado de São Paulo e significará, para a instituição, redução de 20% nos custos com energia.
Por fim, a Biogás aposta na comercialização de certificados de redução de emissões num futuro mercado de créditos de carbono, previsto pelo Protocolo de Kyoto. Os dividendos dessas negociações seriam divididos na proporção de 50% para a Prefeitura e 50% para a empresa que vai operar a usina.
São Paulo sai na frente com a implantação dessa nova tecnologia. A Cetesb calcula perdas no Brasil de pelo menos 325 MW de potência (0,4% do total instalado) na geração de energia provocadas pelo não-aproveitamento do gás metano. Se na capital o gás produzido nos dois aterros em funcionamento e nos dois já fechados fosse utilizado, haveria energia para atender a 22,5% da iluminação pública.
Os bons resultados da Usina Termoelétrica Bandeirantes poderão incentivar novas parcerias entre governo e empresas, dando o exemplo para que outras unidades sejam instaladas no País. Municípios em todos os Estados já começaram a demonstrar interesse pelo projeto desenvolvido em São Paulo.
Para tanto, em primeiro lugar, as prefeituras precisarão substituir os danosos lixões por aterros - a tecnologia empregada só pode ser instalada em aterros construídos de forma regular, com infra-estrutura exigida pela legislação ambiental. A partir desse primeiro passo, as cidades só terão a ganhar, com a redução da poluição e dos riscos à saúde.

OESP, 25/01/2004, Notas e Informacões, p. A3

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