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'Encontro de todos os povos' vai reunir trabalhos de artistas indígenas de 11 etnias

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br
Autor: ALEXSANDRA SAMPAIO
08 de Abr de 2013

Os artistas indígenas vão comemorar o dia do índio este ano de uma forma diferente. Eles vão promover uma grande exposição da arte indígena, reunindo as mais variadas manifestações artísticas e culturais indígenas de 11 etnias do estado de Roraima, durante o '1o Encontro de todos os Povos', no Espaço de Cultura e Arte União Operária da UFRR.

O idealizador e coordenador do evento, o artista plástico Jaider Esbell, afirma que esta será a primeira vez que os povos indígenas de Roraima vão se reunir - de forma autônoma, para divulgar os seus artistas em um só local. Estarão reunidos nessas duas semanas de exposição, artistas das regiões da Serra, do lavrado, da floresta e de Boa Vista.

A ideia do evento é ser um pontapé inicial para que as comunidades indígenas passem a partir desta edição a contar com um evento anual voltado para a divulgação da arte indígena para a sociedade, assim como fazer essa exposição nos lugares onde estão suas origens.

"Esse encontro será a primeira ação de um projeto maior que pretende discutir a reinvenção do tempo na perspectiva dos netos de Makunaima sobre a arte tradicional e contemporânea indígena. Ou seja, vamos discutir de que forma nós podemos e devemos incorporar outras linguagens e expressões às manifestações culturais do nosso povo", afirmou.

Para ele, esse é um caminho sem volta e que precisa ser explorado após a conquista de suas terras, pois precisam identificar formas equilibradas de desenvolver e cuidar desses recursos naturais.

"Nós acreditamos que nesse contexto a arte de um modo geral, as expressões artísticas e as artes plásticas também são ferramentas poderosas para enriquecer esse movimento que já está muito mais articulado", ressaltou.

Por fim, ele afirma que a reunião de 11 etnias apresentado suas culturas e manifestações culturais servirá como exemplo para quem ainda está iniciando o seu processo de desenvolvimento artístico.

"Os indígenas caminharam junto com a sociedade envolvente e chegou a um determinado momento que acabaram, naturalmente, incorporando as expressões dos não-índios. O artista indígena que queira se expressar em outras formas, por exemplo, nas artes plásticas não deve achar ou permitir que qualquer outra pessoa faça julgamento de que isso é errado ou que diminui a questão da cultura. Não é nada disso", ressalta.

O artista plástico completa afirmando que para que isso aconteça de forma positiva é necessário também que o projeto seja itinerante.

"No ano que vem vamos nos articular para captar mais recursos e oferecer para as organizações esse portfólio que será apresentado a sociedade de Boa Vista. Depois pretendemos nos apresentar no Caracaranã, no Maturuca e em São Marcos para os indígenas que estão na aldeia de forma que eles conheçam o que está sendo produzido pelas comunidades indígenas", informa.

Na opinião do artista plástico, o encontro pretende portanto mostrar aos indígenas que ainda estão iniciando nas artes e culturas contemporâneas que se desmitifique essa culpa imposta a alguns artistas que "deixam a aldeia para ganhar o mundo como se estivessem de alguma forma perdendo suas origens e deixando de ser índio".

Segundo ele, essa itinerância da exposição, que pode ser tanto dentro do estado como - quem sabe no futuro, para fora de Roraima e até do Brasil, tem essa missão. "Não podemos nos esquecer do mais importante que é voltar para a base: a aldeia, lugar onde tudo começou. É nossa função social como artistas indígenas, fazer esse papel de dá reforço à cultura dos nossos povos", ressalta.

Exposição começa nesta quinta e vai até o dia 19

Uma parte do grupo de artistas que farão exposição no 1o Encontro de todos os Povos

O 1o Encontro de todos os Povos, que vai reunir em um só lugar uma variedade de manifestações culturais e artísticas indígenas, começa nesta quinta-feira (11), a partir das 19h. A exposição ficará aberta ao público até o dia 19 de abril, quando se comemora o Dia do Índio.

Na abertura da exposição, que vai inaugurar as atividades do Espaço da Cultura da UFRR, terão apresentações culturais de corais, de danças e degustação de comidas e bebidas típicas indígenas. Além disso, será lançado o livro do escritor macuxi Jaider Esbell, coordenador cultural do encontro.

Outra atração será a pintura corporal que os índios estarão preparados para fazer naquelas pessoas que se interessar em experimentar essa tradição indígena.

"Terá ainda a participação de Davi Yanomami no momento da oralidade, outra experiência única que teremos no encontro ao reunir 11 etnias para dialogar entre si. O yanomami vai trocar ideia com o macuxi e vice versa e o macuxi com o taurepang. É isso que acontece com todo o conhecimento indígena até antes da chegada dos não-índios: ele é repassado através da oralidade", explicou.

A partir do segundo dia, haverá a exposição coletiva denominada "Vacas nas terras de Makunaima: de malditas a desejadas". Jaider Esbell informa que um grupo de artistas plásticos foi convidado a expor sua impressão sobre a chegada dos rebanhos nas terras indígenas, tanto pela ótica "maldita" como pela ótica "desejada".

No mesmo espaço serão montadas exposições individuais de oito artistas plásticos, cada um com suas peculiaridades. Esbell ressalta que no encontro serão apresentados dois novos artistas que estão despontando e farão suas estreias no evento: tratam-se de Diogo Lima e Mário Flores.

Além disso, haverá espaço para obras de artes em cerâmica e outros produtos do artesanato coletivo das mulheres, produtos trançados, fotografia, exposição de produtos audiovisual dos Yanomami e literatura que aborda essa temática indígena.

A partir do dia 15 de abril até o dia 19, a exposição estará aberta para visitação com grupo de alunos de escolas públicas e privada. Essa visitação deverá ser agendada com a coordenação do evento. O agendamento deve ser pelo telefone: 9959-2025.

A iniciativa do artista plástico Jaider Esbell está recebendo o apoio da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e da Fundação Nacional do Índio (Funai).

Jovens artistas deverão dar continuidade ao trabalho de divulgação da arte indígena

O objetivo maior do idealizador do '1o encontro de todos os povos' é conseguir fazer com que os povos indígenas assumam a coordenação do evento para as futuras edições. Ele explica que sua intenção é ficar a frente do projeto por mais dois ou três, até mesmo para identificar uma liderança que possa assumir essa iniciativa.

"Eu quero plantar uma semente através do meu próprio exemplo pessoal e mostrar que é possível sim continuar sendo indígena e se comunicar com o mundo de forma ampla e sem restrição, sem culpa e sem remorso. Esse projeto não é meu. Eu idealizei para as comunidades indígenas", ressalta.

Ao falar sobre quem seriam as pessoas mais indicadas para assumir o projeto no futuro, o artista plástico afirma que espera que a juventude indígena entenda essa proposta e se interesse para dá continuidade ao trabalho de divulgação das artes indígenas.

"Essa é uma questão que não tem como voltar atrás. Espero que os jovens se identifiquem dentro das comunidades para poder levar a ideia adiante", completou. E questionado sobre o que motivava a realizar o projeto, ele afirma que essa é sua missão como artista indígena.

"Eu sempre digo que a minha habilidade artística, eu não escolhi. Aconteceu, é tipo uma missão. Se eu negasse, eu ia frustrar e frustraria todo o movimento. Então entendo que tenho que dar essa contribuição", explica.

Por fim, ele acrescenta que toda essa determinação para trabalhar em prol da divulgação e fortalecimento da qualidade de vida dos povos indígenas seja através das artes, da cultura, da plantação é fruto da experiência em coletividade.

"Só quem teve essa experiência consegue compreender essa missão, de ser liderança em algum aspecto, em determinada área. A minha missão é nessa questão da arte, nesse diálogo entre os povos através da are. Faço com muito prazer, me realizo vendo os indígenas dialogando em torno da arte dando um passo mais adiante em relação a outras questões tão importantes que deram e agora queremos que a arte tome um folego para contribuir para um contexto geral", concluiu.

SERVIÇO:
1o Encontro de Todos os Povos
Local: Espaço de Cultura e Arte União Operária
Período exposição: 11 a 19h
Horário 9h as 12h e das 14h as 17h
Entrada gratuita

http://www.folhabv.com.br/noticia.php?id=149579

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