O Globo, O País, p. 11
17 de Nov de 2006
Encontrado corpo de funcionário do Ibama em RR
Grupo foi atacado terça-feira em emboscada de caçadores e traficantes de tartarugas; outros dois estão feridos
Ismael Machado
Policiais federais e militares encontraram, ontem à tarde, o corpo do praieiro José Santos Cruz, funcionário do Ibama morto a bala num ataque de caçadores e traficantes de tartarugas à equipe do órgão, na terça-feira à noite, em Roraima. Seis funcionários do Ibama foram alvo de uma emboscada quando faziam trabalho de marcação e identificação de ovos de tartarugas no projeto de preservação dos animais em Santa Fé, região do Baixo Rio Branco. Outros dois funcionários do Ibama ficaram feridos.
José, conhecido como Pimenta, foi baleado e caiu na embarcação do Ibama, que foi roubada pelos traficantes. Ele havia sido contratado por temporada no dia 6 de novembro. Outro funcionário do Ibama, o veterinário Raimundo Pereira Luiz, ficou desaparecido por um dia. Ele foi atingido por um tiro na perna e caiu no rio, sendo levado pela correnteza. Foi resgatado por uma equipe de buscas.
Também baleado, o colaborador Josué Melo da Silva foi levado de avião para Boa Vista e internado no Pronto Socorro Francisco Elesbão, onde permanecia em observação, fora de perigo.
A equipe estava de saída para o trabalho de marcação dos locais de desova quando os traficantes começaram a atirar. Josué e Raimundo caíram no rio e foram obrigados pelos traficantes a se afastarem da margem.
Os outros funcionários e colaboradores do Ibama - Dinarde da Silva Monteiro, Silas de Almeida Souza, Adaias Tenório Correia, além dê José da Silva Araújo, auxiliar administrativo - saíram ilesos da emboscada e se esconderam. Anteontem à noite, um dos sobreviventes conseguiu chegar ao posto de fiscalização da Femact (Fundação Estadual do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia). A Polícia Militar e fiscais da fundação foram ao local da emboscada e resgataram os outros sobreviventes. 0 local fica entre as comunidades de Mata-Matá e Catrimani, área de difícil acesso.
Traficantes ainda não foram encontrados
Os funcionários do Ibama estavam todos desarmados e sem acompanhamento policial, porque o trabalho não era de fiscalização. 0 local de desova dos quelônios é alvo de traficantes de animais, que capturam ilegalmente as tartarugas.
- Foi uma ação covarde. Os funcionários faziam um trabalho rotineiro de acompanhamento das tartarugas quando foram atacados - disse a superintendente do Ibama em Roraima, Nilva Baraúna.
De manhã, uma equipe de policiais do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) da Polícia Militar foi ao local e iniciou buscas. Suspeita-se que os traficantes tenham fugido para o Amazonas. A Polícia Federal também foi acionada. Uma equipe se deslocou para Santa Fé de avião e outra foi por terra. A Polícia Federal do Amazonas também foi acionada, mas os traficantes ainda não foram encontrados.
A chefe de Administração do Ibama em Boa Vista, Raquel Sobral, afirmou que o órgão vai traçar novos planos para aumentar a fiscalização nas localidades mais afastadas. Atualmente, o Ibama mantém 19 fiscais treinados para o trabalho.
Já a superintendente Nilva Baraúna acredita que o ataque pode ter sido uma represália ao trabalho de combate à caça e ao tráfico dos quelônios desenvolvido pelo Instituto. No ano passado, o Ibama apreendeu cerca de 700 tartarugas em uma embarcação no Baixo Rio Branco, que seguia para Manaus.
O Globo, 17/11/2006, O País, p. 11
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