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A encíclica e a batalha pelo clima

O Globo, Opinião, p. 19
Autor: COELHO, Fernando Bezerra
12 de Jul de 2015

A encíclica e a batalha pelo clima
Mensageiro de novas luzes ecumênicas, religiosas e sociais, o Papa Francisco assume a condição de guerreiro na "batalha pelo clima"

FERNANDO BEZERRA COELHO

Urbi et Orbi, de Roma para o mundo, a encíclica "Louvado Seja", apresentada pelo Papa Francisco neste último mês de junho, aborda a questão do meio ambiente faltando seis meses para a Conferência Mundial do Clima - a COP 21 -, que ocorrerá em Paris (França), em dezembro deste ano. Como cidadão e presidente da Comissão Mista de Mudanças Climáticas do Congresso Nacional, comungo do pensamento do nosso Pontífice de que todas as nações devam ter "ação decisiva, aqui e agora" para o enfrentamento da degradação ambiental e do aquecimento global.
Também entendo, a exemplo do Papa Francisco, que o planeta Terra, herança divina recebida pelo homem, deve ser regido por uma visão global da ecologia e sob novos modos de produção, distribuição e consumo. O princípio é a "ecologia humana" - tema mais abrangente que a defesa da natureza - e que diz respeito à forma como a sociedade administra a criação de Deus para usufruto dos seres viventes. A questão essencial consiste em reduzir drasticamente as emissões de dióxido de carbono e outros gases poluentes que intoxicam a natureza e comprometem a saúde do homem e do planeta.
Aliás, uma comissão criada pela revista médica britânica "The Lancet" divulgou, também em junho, estudo mostrando que as mudanças climáticas poderão aniquilar os avanços médicos dos últimos 50 anos por conta de acontecimentos extremos, como ondas de calor, tempestades, inundações ou secas. Segundo os pesquisadores dessa comissão, os problemas de segurança alimentar e o desenvolvimento de doenças transmitidas por mosquitos que migram para as zonas mais quentes, devido ao aquecimento do planeta, resultarão em prejuízos concretos à saúde global.
O trabalho dos especialistas da "The Lancet" coincide com as negociações internacionais direcionadas à COP 21. E, afinado com a revista, acredito que a crise provocada pelas mudanças climáticas exige uma resposta urgente dos países, bem como a utilização de todas as tecnologias disponíveis para a reversão do problema. Por isso, tenho defendido que o Brasil seja ousado nas propostas que apresentaremos na conferência de Paris; especialmente, em relação ao desmatamento e ao uso de fontes de energia prejudiciais ao meio ambiente.
Em recente visita à Alemanha, onde conheci experiências na geração de energia solar, deparei-me com a seguinte indagação: como seguir aumentando a produção energética sem degradar ainda mais o planeta? Uma das derivadas positivas é a utilização de fontes limpas e renováveis, a exemplo da energia solar, eólica e de biomassa.
Dados da consultoria internacional Bridges to Brazil ("Pontes para o Brasil") revelam que menos de 0,01% da nossa matriz energética provém dos raios solares. Fonte inesgotável, o sol privilegia o território brasileiro tropical, sobretudo o Nordeste, com a insolação astronômica equivalente a mais de mil megawatts por hora. Ou seja, o potencial de energia solar é fator exponencial em nosso país.
Mensageiro de novas luzes ecumênicas, religiosas e sociais, o Papa Francisco assume a condição de guerreiro na "batalha pelo clima". Com base em evidências científicas, a encíclica chama a atenção sobre as ações humanas, passíveis de controle, como causadoras de danos à natureza mais que os fenômenos naturais.
Saúdo a encíclica papal como uma lição de esperança ao vislumbrar horizontes mais promissores em termos de educação ambiental na sociedade contemporânea. Os mandamentos da "ecologia humana" para salvar o planeta são ditados pela defesa de florestas, rios, matas ciliares e mananciais; redução de gases poluentes; exploração de energias limpas e renováveis; conscientização social em torno da cultura do verde e políticas públicas afirmativas de preservação ambiental nas áreas de saneamento, esgotamento sanitário, aterros sanitários e tratamento de resíduos.
Louvando o que bem merece e, como diz o cancioneiro popular, louvada seja a encíclica do Papa Francisco!
Fernando Bezerra Coelho é senador (PSB-PE)

O Globo, 12/07/2015, Opinião, p. 19

http://oglobo.globo.com/opiniao/a-enciclica-a-batalha-pelo-clima-167405…

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