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Empresas ainda lucram com trabalho escravo

O Globo, O País, p. 13
13 de Mai de 2007

Empresas ainda lucram com trabalho escravo
Ministério Público do Trabalho inclui carvoarias na lista suja e investiga outros suspeitos de explorar empregados

Fellipe Awi
Enviado especial

As carvoarias têm ganhado espaço na lista suja de trabalho escravo divulgada pelo Ministério do Trabalho. Na relação das que tiveram trabalhadores libertados pelo grupo móvel do ministério desde 2006, constam empresas como Carvoaria do Claudir (Goianésia), Carvoaria do Osvaldino (Goianésia) e Carvoaria do Carlinhos (Nova Ipixuna), nomes que dão mais um exemplo da informalidade do setor.

O Ministério Público do Trabalho de Marabá (PA) investiga cerca de 30 carvoarias acusadas de manter trabalhadores em condições análogas à escravidão. O número é considerado pouco representativo. Segundo os procuradores, os grupos móveis têm dificuldade de localizar as produtoras de carvão e seus responsáveis.

- Assim como ocorre em fazendas, o trabalho escravo nas carvoarias também é caracterizado pelas condições degradantes a que as pessoas são expostas. Eles bebem a água dos animais, não têm privacidade, comem comida estragada e moram debaixo de lonas - afirma um dos procuradores do Trabalho de Marabá, Adolfo Jacob.

Segundo Jacob, a maioria dos trabalhadores é recrutada em outros estados, como Maranhão, Piauí e Tocantins. São trazidos por intermediários, apelidados de gatos, que prometem trabalho. Na maioria das vezes, os direitos trabalhistas não são respeitados e o carvoeiro acumula dívidas com o patrão.

Quando regular, o trabalho nas carvoarias é rústico e desgastante. Um enchedor leva um dia e meio para encher os fornos de madeira. A função mais insalubre, porém, é a de tirador de carvão. São, em média, oito horas de trabalho respirando um ar altamente poluído. Na carvoaria de Breu Branco não identificada pelos fiscais do Ibama, os tiradores Jurandir Rodrigues e Pedro Lima trabalham sem máscara. Sentem dor de cabeça, mas se dizem felizardos.

O trabalho é duro, mas ninguém aqui é humilhado.

Tem lugar em que, se você não esvazia o forno no prazo, o negócio fica feio. Quanto mais afastada da cidade, pior é a carvoaria conta Pedro.

Em geral, carvoeiros não conseguem trabalhar no forno por mais de dez anos e, com menos tempo, costumam apresentar problemas de respiração. O ganho por produtividade os leva a passar mais tempo nos fornos, que nunca evoluíram. Segundo o sindicato das carvoarias, o setor quer um financiamento do BNDES para comprar modelos de alta tecnologia, que poluem menos e são menos agressivos.

No Pará, as carvoarias são mais comuns na rodovia BR-422, entre Tucuruí e Novo Repartimento, e em cidades como Paragominas e Rondon do Pará, quase divisa com o Maranhão, onde tem se concentrado a fiscalização do grupo móvel.

O Globo, 13/05/2007, O País, p. 13

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