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Empresários japoneses podem investir em lavouras de Roraima

Folha de Boa Vista-RR
29 de Nov de 2001

Antes de voltar ao seu país, o grupo de empresários japoneses visitou lavouras de soja e milho em Roraima. Responsável pelo êxito na produção de soja no Centro-Oeste, a empresa Campo - composta por capital nipo-brasileiro - está entusiasmada com as possibilidades de transformar o lavrado roraimense em novo celeiro para produção de soja e milho e, possivelmente, banana.
Apesar das boas expectativas, os empresários japoneses deixaram transparecer que investir no Estado não significa obrigatoriedade. Seria resultado da soma de esforços com o objetivo de habilitar a região ao processo que pode ser deflagrado no curto prazo e ampliada nos seguintes a instalação do projeto piloto.
Na liderança do grupo estava o vice-presidente e administrador do capital japonês na Campo, Shigeki Tsutsui. Ele destacou que durante 23 anos a empresa trabalhou com o Prodecer (Programa de Desenvolvimento do Cerrado) e este ano encerrou o contrato do projeto agrícola entre Brasil e Japão.
Com o fim do projeto, e ao constarem que o esforço ao longo deste tempo apresentou resultados diferentes dos que eram esperados, agora os japoneses estão interessados num projeto integrado que cubra a produção e comercialização. Para viabilizar a produção de soja e milho, esperam contar com a iniciativa privada e apoio do governo.
De acordo com Tsutsui, nos últimos dois anos a Campo mantém contato com autoridades de 10 estados brasileiros, pretendendo criar um novo modelo do Prodecer. Depois de detalhada análise técnica, a direção da empresa chegou à conclusão de estreitar entendimentos com Roraima. Considerou a disponibilidade de energia elétrica e estrada asfaltada até Manaus (AM) e de lá a Itacoatiara (cerca de 1.000 quilômetros no total), o que considera próximo do corredor de exportação.
"Daqui a Caracas são 1.500 quilômetros, e isso é interessante. Talvez até 2003, a Campo comece o projeto convidando 40 empresários rurais, que chamamos de integrador, para plantar milho e soja. Hoje o mercado japonês talvez seja o maior importador de soja e milho. Mas está ficando cada vez mais difícil comprar produtos não-transgênicos. Roraima é totalmente isento da cultura transgênica e temos interesse em comprar produtos não-transgênicos", declarou o vice-presidente da Campo.
"Gostei", disse Tsutsui, entusiasmado, ao falar sobre o solo que viu em Roraima. Informou que trouxe com ele uma comitiva do grupo Mitsubishi, o maior comprador de soja do Japão. Conforme ele, se der certo o projeto, com certeza o grupo Mitsubishi comprará a soja - desde que seja não transgênica - diretamente do produtor de Roraima.
"Apesar dos governos do Brasil e do Japão investirem US$ 600 milhões no Prodecer e o projeto ter sido um grande sucesso, os consumidores japoneses não têm condições de comprar a soja brasileira. Os consumidores japoneses são obrigados a comprar a soja na bolsa de Chicago, de conglomerados norte-americanos. Com este projeto, pela primeira vez o mercado japonês terá condições de comprar diretamente dos produtores roraimenses".
O vice-presidente da empresa declarou que com base nos estudos feitos pela Campo, o governo japonês inicialmente poderá investir cerca de R$ 200 milhões. "Quanto às terras, os empresários rurais é que têm que adquirir com capital próprio. Eu estou negociando com o governo japonês para financiar investimentos fixo e semi-fixo, para infra-estrutura dos projetos".
Carvílio Pires
editor de Política
Empresa pesquisa variedade de soja específica para RR
Caso o projeto de transformar o Estado em celeiro da produção de soja e de milho dê certo, o doutor Sebastião Pedro da Silva Neto, chefe do Departamento de Biotecnologia da Campo, terá importante tarefa na consolidação da região como fornecedora destes produtos para o mercado japonês.
Pessoalmente já está trabalhando na criação de uma variedade de soja adaptada às condições dos solos de Roraima e com características desejáveis para consumo humano. Entusiasmado com as possibilidades de êxito do projeto, acredita que aqui existe potencial para produzir soja de alta qualidade dirigida ao consumo humano. Alega que a localização geográfica facilitaria a exportação para os mercados japonês, chinês e europeu, que querem soja não-transgênica e dirigida ao consumo humano.
"Atualmente o mercado japonês importa 2 milhões de toneladas. É o maior importador de soja do mundo. Futuramente, caso o Estado se fixe como produtor de soja de alta qualidade, pode ser que parte deste mercado seja abastecido por Roraima. O nosso objetivo é fazer com o Estado ofereça a sua produção. E pelo interesse que a Mitsubishi está dispensando, provavelmente isso vai acontecer".
Dando assessoria direta ao grupo, Sebastião Neto disse ter gostado das áreas que viu, por isso ficou animado com o projeto como um todo. Acrescentou que as condições físicas do solo, as características climáticas e a localização geográfica, do ponto de vista técnico, são amplamente favoráveis ao desenvolvimento do projeto.
Produtores - O chefe do Departamento de Biotecnologia informou que a seleção de produtores será feita pela Campo, obedecendo critérios técnicos, levando em conta o profissionalismo e a capacidade de investimento. "Existe um conjunto de fatores que determinarão a escolha dos produtores, mas esta parte não está afeita ao meu trabalho".
De acordo com o engenheiro agrônomo, a expectativa inicial é que sejam cultivados 80 mil hectares de soja, considerando que o Governo de Roraima já vem apoiando este projeto. "Com o tempo esta fase inicial deverá servir de modelo para ampliação das áreas".
Banana - Além de trabalhar na melhoria genética da soja para Roraima, Sebastião Neto declarou que nos últimos dez anos sua empresa tem pesquisado e trabalhado na área da fruticultura. Para ele, depois da soja, a maior potencialidade do Brasil é a produção de frutos tropicais.
"Nestes dez anos, por suas características, a banana foi identificada como a fruta que produz mais rápido e tem mercado, seja interno ou para exportação. Por isso, trabalhamos na melhoria genética para fornecer aos produtores mudas que sejam geneticamente superiores e isentas de doenças. Nossos estudos indicam que podemos fazer em Roraima a bananicultura mais produtiva do mundo".
Pesquisador acredita no potencial do Estado
O pesquisador da Embrapa Daniel Gianluppi espera que se realize a idéia de produzir soja e milho em Roraima para o mercado japonês. Para ele, este é o passo que o Estado precisa para desenvolver a agricultura.
"Afirmo que se aplicarmos a tecnologia própria, aqui produzimos grãos melhores que nos demais estados brasileiros, numa condição de mercado privilegiada. Embora algumas pessoas contestem, afirmo que a tecnologia que temos é suficiente para produzirmos grãos acima da média nacional".
Gianluppi foi o técnico que em nome da Embrapa apresentou aos japoneses os resultados de pesquisas realizadas em Roraima com variedades de soja e milho. Disse ser do conhecimento de todos que aqui é possível produzir mais soja em menos tempo que nas regiões produtoras do país.
"Os teores de proteína e óleo da nossa soja são maiores que os do Centro-Oeste e Sul. Isso dá característica de qualidade ao nosso produto. Eu insisto em afirmar que dispomos de tecnologia para ter qualidade e produtividade de grãos acima da média nacional", comentou. O pesquisador informou que os empresários japoneses ficaram impressionados com os teores de proteína e óleo mais altos não só da soja, mas também do girassol. A pesquisa com este grão foi iniciada há três anos, e a Embrapa-RR tem obtido produtividade altíssima em termos de grãos e concentração de óleo.
"Para dar uma idéia, nas regiões produtoras do Brasil se produz de óleo em torno de 35% a 40%. Aqui, com algumas variedades, atingimos acima de 50% de óleo. Ou seja, em cada mil quilos de grãos, temos 500 litros de óleo de girassol, considerado um dos melhores para consumo humano devido suas propriedades terapêuticas", analisou

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