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Empresários criticam Governo Federal

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
Autor: CARVÍLIO PIRES
03 de Mai de 2005

Os integrantes da comissão externa do Senado estiveram reunidos, no período da tarde, com lideranças representativas do setor produtivo, no auditório da Federação do Comércio (Fecomércio). Além delas, dirigentes de entidades indígenas compareceram e, através de seu advogado, manifestaram fatos que envolvem a demarcação da reserva. Entre os empresários foram freqüentes as declarações de desagrado à decisão autoritária do Governo Federal.
O presidente da Fecormércio, Aírton Dias, protestou contra a falta de conhecimento da comunidade brasileira quanto ao grave problema que ocorre em Roraima. Para ele, é possível pensar que o Executivo Federal tenha interferido até na mídia para evitar a propagação do episódio. "Se não houver agora um encaminhamento no sentido da organização fundiária, por certo não teremos desenvolvimento".
Um dos autores da ação popular que combateu a Portaria 820/98, o advogado Alcides Lima - ex-deputado federal - fez um apanhado histórico sobre a demarcação de terras indígenas em Roraima, agravada no governo Ramos Pereira, que na época não tinha bom relacionamento com os fazendeiros. "As aldeias foram identificadas em sobrevôo", comentou.
Passado esse tempo, para o advogado o país vive um período mais crítico. "Sofremos até ameaça de perda da soberania nacional". Para ele, o processo que aqui ocorre é parte de uma tática implantada nos países da América do Sul de despovoar e imobilizar o setor produtivo. "Sugiro que se crie uma CPI para que a nação conheça o estelionato ideológico que se pratica contra este país", disse Alcides Lima.
O produtor rural Ermilo Paludo atacou o Governo Federal dizendo que o setor produtivo já espera esse tipo de comportamento do governo Lula em relação à política agrária e fundiária. "Nesse momento, acho que devemos nos unir".
Na mesma linha seguiu o presidente da Associação dos Criadores de Gado, José Luiz Zago. "As autoridades desrespeitam as pessoas que vivem aqui. Se algo ainda pode ser feito, creio que este trabalho caiba aos senhores", disse olhando para os senadores e deputados federais presentes na reunião.
Como procurador de organizações indígenas, o advogado Waldemar Albrecht informou que as entidades por ele representadas haviam pedido a demarcação judicial da reserva e que tal ação não fora atingida pela decisão do STF. Com esta ação os indígenas pretendem a demarcação da reserva analisando várias questões, inclusive o direito histórico das pessoas que lá vivem.
O empresário agrícola Paulo César Quartiero lamentou as imposições feitas pelo Governo Federal ao setor produtivo. Ele também disse que os agricultores sabem quem são aqueles (políticos) que defendem o Estado e os outros que cuidam de seus interesses pessoais. Para ele, só o trabalho conseguirá superar as dificuldades. "Nós precisamos sair dessa posição vergonhosa de termos o menor PIB do país".
Preocupado com a regressão no setor econômico, o presidente da Associação Comercial de Roraima, Derval Furtado, disse que o comércio está voltando ao que era antes (vivendo da economia de contracheque). "É uma preocupação o fato de o comércio estar assim. Sabemos que o governo quer aumentar sua arrecadação e não temos condições de suportar a carga tributária estabelecida neste país", comentou.
Cada um encontrava um motivo para justificar a crise. Na visão do deputado federal Rodolfo Pereira (PDT), o conflito em Roraima está ligado à pobreza e à desorganização, resultando no enfraquecimento de todos. "Não podemos aceitar esse processo que atenta contra a história de centenas de pessoas que vivem nessa reserva e não só os arrozeiros. O senhor Joaquim Corrêa é dono e paga impostos do Caracaranã. Essa propriedade a família tem desde 1916. E o governo quer lhe tomar a terra da qual tem título definitivo. O agronegócio cambaleia. E chama atenção a fragilidade da segurança nacional", declarou o parlamentar, mostrando a malha de problemas que aqui existe.
O empresário Afonso Faccio teme que o Estado permaneça nessa situação que está há mais de duas décadas. Para ele, o governo não escuta o clamor de quem trabalha, da classe política e despreza a opinião da maioria da população do Estado. Ele disse à comissão que a Lei do Meio Ambiente - apoiada pela ministra Marina Silva - poderá ser mais perversa do que a própria demarcação da Raposa/Serra do Sol. "Acho que os congressistas deveriam fazer um apelo aos militares para não deixarem a ditadura branca entregar a Amazônia".
O empresário Ricardo Peixoto, da Câmara de Turismo de Roraima, disse que dos cinco produtos elencados pelo Governo Federal para comercialização no exterior, todos estão dentro de reservas indígenas. Na condição de militar da reserva, disse que o artigo mencionado na portaria e que supostamente daria aos militares amparo para realizar suas atividades não é como diz o Governo Federal. "O dispositivo constitucional não garante, em tempo de paz, a presença das forças regulares e manobras do exército", disse Ricardo Peixoto.
Em pronunciamento de estímulo em defesa dos direitos do Estado e dos interesses econômicos da classe empresarial, o presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Daniel Gianluppi, disse que essa luta une índios e não índios, já que o governo demarca reservas até contra a vontade dos índios. "Esse luto que vivemos é um sinal de morte e ao mesmo tempo de renascimento de uma luta mais aguerrida", declarou.

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