Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/
Autor: Andrezza Trajano
15 de Abr de 2010
A exuberante beleza natural de Roraima torna a região propícia para o turismo, segmento ainda pouco explorado pelo empresariado do extremo norte do Brasil, mas que se apresenta com um enorme potencial econômico. Em 2007, o setor movimentou R$ 150 milhões, ou seja, 12% do Produto Interno Bruto (PIB).
Aqui, há espaço para o ecoturismo, geoecoturismo, turismo esportivo e tantas outras derivações para quem sabe aproveitar de forma racional o que o meio ambiente sabiamente oferece. Como paisagem sem o homem é como se fosse uma fotografia de natureza morta, o empresário Magno Souza, 48, proprietário de uma agência de turismo, não pensou duas vezes em investir no negócio, quando descobriu um filão que ninguém via, apesar de seus 2.734,06 metros: o Monte Roraima.
Antes de entrar no ramo, qualquer turista que desejasse conhecer a montanha tinha que adquirir o serviço de agências de turismo venezuelanas. Pioneira, a empresa dele ainda é a única em Roraima que oferece guias para a escalada.
"Tive uma sacada muito grande, e hoje todas as viagens para o Monte Roraima que passam pelo Brasil utilizam os serviços de minha agência. Foi a própria demanda que me colocou no mercado", destaca.
A sacada veio depois que ele subiu o Monte Roraima, em 1992. Naquela data, ele passou da condição de amante da natureza a empreendedor sustentável. Viu no trekking (caminhada ecológica) e no ecoturismo o futuro de sua família e uma forma de contribuir com a preservação "de um ambiente, mágico, único e inesquecível", como define o quarto maior monte do Brasil, situado na tríplice fronteira do Brasil, Venezuela e Guiana.
Dois anos depois de escalar o monte pela primeira vez, passou a organizar grupos informais para a aventura. Em 1999, fez parceria com agências de Boa Vista e passou a trabalhar como guia, chegando em 2003 a formalizar seu negócio e tornar-se referência no país quando o assunto é subir o Monte Roraima.
Antes disso, investiu na capacitação. Fez cursos no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e em diversas instituições, filiando-se à Associação Brasileira das Empresas de Turismo de Aventura (Abeta).
"O que aconteceu comigo é o que costuma ocorrer com qualquer pessoa que ingressa no ramo do turismo. Primeiro se conhece um lugar, depois leva os amigos, em seguida amigos dos amigos, até a atividade de lazer mudar para negócio", explica.
De relojoeiro a empreendedor sustentável, este sul-matogrossense já escalou o Monte Roraima 69 vezes. "Cada subida é diferente da outra. Existe uma magia no monte que faz com que você mude seus conceitos sobre tudo o que conhece", conta, lembrando que já tinha visto as montanhas rochosas de mais de 2 bilhões de anos quando criança, em livros de cartografia.
A empresa dele ainda é pequena, mas gera 11 empregos diretos, além do apoio da mulher e dos dois filhos. Toda a família, exceto a filha mais nova, que tem apenas 12 anos, já escalou o Monte Roraima em nome do amor a natureza e do espírito empreendedor.
Consciência sustentável combina com espírito empreendedor
Magno Souza diz que a sustentabilidade está presente em todas as atividades de seu empreendimento. Em Boa Vista, os turistas que adquirem pacotes da agência dele utilizam serviços de transporte, hospedagem e culinária.
Para a escalada ao Monte Roraima, que só é feita pelo lado venezuelano, quando chegam a Santa Elena de Uairén, os turistas usam transportes de lá e algumas vezes contam também com um guia auxiliar. Os carregadores indígenas são contratados na aldeia Paraitepuy, no "pé" da montanha, gerando renda para aquele povo.
Guias e turistas cuidam para causar o menor impacto possível. É desaconselhável retirar os cristais que se formaram ao longo de bilhões de anos na montanha, gritar [para os índios, falar alto demais na montanha é uma ofensa, pois incomoda os espíritos] e interferir na cultura local. É preciso ainda preservar a vegetação, não sair da trilha e recolher todo o lixo.
Escalar a montanha exige resistência e preparo físico
Pegando a estrada a partir de Boa Vista, são 220 quilômetros de carro até Santa Elena de Uairén. De lá até o "pé" do Monte Roraima são mais 100 quilômetros em um veículo 4x4, que exige tração para trafegar pela estrada de chão batido.
Magno Souza explica que a agência de turismo dele trabalha com quatro pacotes, que variam de R$ 1.050,00 a R$ 1.500,00, a depender da quantidade de dias no platô.
A parte mais "ralada" da viagem é a volta. "Essa história de que para voltar todo santo ajuda não serve, se preciso for, o santo empurra. Na descida do monte, dói até o cabelo, em razão do esforço no joelho e na coluna. Por isso, para escalar a montanha, é preciso estar em boa forma física", recomenda. A caminhada é de 28 quilômetros de subida e outros 28 na descida.
Etnoturismo também ganha mercado
Ninguém melhor do que os "filhos da natureza" para mostrar as belezas da selva Amazônica. A mistura entre turismo e cultura indígena, conhecida como etnoturismo, vem ganhando força no Estado. Índios wapixana da reserva São Marcos exploram uma rota na comunidade Nova Esperança, em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela.
O passeio, de apenas um dia, inclui visita à trilha ecológica do Kuatá, de aproximadamente seis quilômetros, cujos mistérios da natureza são interpretados por guias e especialistas indígenas. Além disso, o visitante tem contato com a damurida (ensopado apimentado de carne ou peixe, acompanhado por outras iguarias locais, como aluá e o caxiri). Para fechar o dia, os turistas assistem à dança parixara.
O pacote varia entre R$ 790,00 a R$ 1.990,00, dependendo da quantidade de pessoas, e inclui seguro-viagem. A reserva deve ser feita com 20 dias de antecedência e é negociada pelo empresário Magno Souza. Ele também agencia viagens para passeios à comunidade do Bananal, que fica próxima a Kuatá. O preço da viagem é o mesmo de Kuatá.
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