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Autor: Helena Corezomaé
20 de Ago de 2024
Em setembro de 2020, estava em casa, na Aldeia Umutina em Barra do Bugres, quando um jovem da comunidade avisou que o fogo estava próximo e a gente precisava jogar água em volta do terreno.
Naquele momento, só estavam mulheres em casa. De manhã, os homens saíram para apagar as chamas que tinham se espalhado pelo território. O fogo que parecia distante, agora estava muito próximo.
O medo e o pavor que sentimos é indescritível. O barulho era de uma tempestade, mas na verdade era o fogo que queimava a mata e se aproximava com muita velocidade. Graças à união da comunidade, conseguimos salvar as casas. Mas boa parte do território foi devastado pelas chamas.
Este ano, a história se repetiu. O aceiro feito em uma roça de toco não foi suficiente para conter o fogo e as chamas se espalharam pelo território. Com materiais improvisados, como machados e foices, vários voluntários da comunidade ajudaram no combate às chamas. Desta vez, eles contaram com o apoio do Corpo de Bombeiros.
Segundo o governo do estado, a comunidade foi a única a ter ajuda dos bombeiros para combater um incêndio florestal. O Executivo informou que o Batalhão de Emergências Ambientais (BEA) monitora com satélites incêndios florestais na Terra Indígena Capoto Jarina, em Peixoto de Azevedo, na Terra Indígena Sangradouro/Volta Grande, na região de Poxoréu, General Carneiro e Novo São Joaquim, e na Terra Indígena Perigara, em Barão de Melgaço.
Em nota, o governo explicou que "não enviou equipes para esses locais porque é necessária autorização da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), uma vez que as terras indígenas são áreas federais".
Um levantamento recente mostra a gravidade da situação em Mato Grosso: 23 territórios indígenas no estado foram atingidos por focos de calor em apenas um dia. Os dados foram obtidos pelo geógrafo Edimar Rodrigues Roaribo Kajejeu, assessor da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt), na plataforma BDQueimadas, mantida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
A presidente da Fepoimt, Eliane Xunakalo, ressalta que a situação é preocupante, mas que a instituição tem uma equipe monitorando as ocorrências e busca apoio de outras organizações para ajudar as comunidades afetadas pelo fogo.
"Estamos com muitos focos na maioria dos territórios. Especialmente no Cerrado e no Pantanal a situação é grave. A gente tem feito ofícios para as autoridades pedindo socorro, campanhas para arrecadação de gêneros alimentícios, além de divulgar as campanhas das próprias comunidades afetadas. Nossa equipe está focada e comprometida".
Incêndio no território Paresi
O professor Gilmar Koloizomae conta que o incêndio na Terra Indígena Utiariti, entre os municípios de Campo Novo do Parecis e Sapezal, começou há mais de 10 dias, com alguns focos de calor que se intensificaram na última semana e que agora consomem o território.
Assim como na Aldeia Umutina, a aldeia de Gilmar não tem brigadistas e, neste momento, quem combate as chamas são voluntários.
"A situação aqui é gravíssima, mais da metade do nosso território, que tem mais de 1 milhão de hectares, pegou fogo e está queimando ainda. As aldeias estão cheias de fumaça. Segundo as equipes de saúde, pioraram os problemas respiratórios nas comunidades. Aqui está tudo em chamas".
Conforme Gilmar, o incêndio começou na Terra Indígena Pareci e depois seguiu para Utiariti. "Estamos conseguindo apoio de algumas pessoas que querem ajudar e das brigadas de fora, só que é muito pouco material para combate".
Mulheres valentes: conheça brigadistas Bakairi
Em Mato Grosso, mulheres indígenas também estão na linha de frente do combate ao fogo. Vinte mulheres do povo Bakairi, da Aldeia Santana, no município de Nobres, atuam como brigadistas voluntárias.
Elas se somam aos homens e formam o Núcleo Comunitário de Defesa Ambiental do Território, em que a brigada é o braço de execução das atividades de prevenção e combate aos incêndios florestais.
Em 2021, elas iniciaram o curso de brigadista. Mas as mulheres contam que já atuam há muito tempo no combate aos incêndios no território.
"A Aldeia Santana fica entre fazendas, a gente sofre muito com o fogo. Na maioria das vezes nós, mulheres, e até as anciãs, íamos apagar o fogo para não queimar nosso território, nossos animais. Todo ano é assim", disse a liderança indígena Edna Rodrigues Bakairi.
A líder Bakairi lembra que o pior incêndio na comunidade aconteceu em 2020, quando não conseguiram controlar o fogo e ele destruiu uma grande extensão do território.
"Uma máquina de um fazendeiro pegou fogo e ele não conseguiu controlar, e o fogo adentrou o nosso território. Queimou todas as palmeiras e a gente não conseguiu palha para reformar as nossas casas. Queimou as frutas, os animais. Devastou o nosso território".
Na época, eles pediram apoio do Corpo de Bombeiros, mas com a alta demanda no estado, não conseguiram profissionais para ajudá-los.
"A gente até saiu para tentar combater o fogo, mas não conseguimos. Solicitamos bombeiros de todas as partes, mas não fomos atendidos. Dessa forma foi importante fazer esse curso de qualificação para que a gente possa trabalhar em nosso território com segurança".
Segundo Edna Rodrigues Bakairi, na Terra Indígena Santana não há focos de calor, mas neste momento os brigadistas ajudam a apagar o fogo em uma fazenda vizinha.
Prevfogo
O coordenador regional do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Ibama (Prevfogo) em Barra do Garças, Altair Luiz, informou que foram registradas 46 ocorrências de incêndios que foram combatidos pelo Prevfogo, até 31 de julho, no Norte do estado.
Segundo Altair, 146 brigadistas atuam em atividades preventivas nesta região e ao todo foram realizados 96,10 quilômetros de aceiros pelas equipes neste ano.
O coordenador do Prevfogo em Mato Grosso, Yugo Marcelo, informou que existem brigadas em nove terras indígenas do estado: Bakairi, Juininha, Paresi, Irantxe, Menkü, Capoto Jarina, Urubu Branco, Marãiwatsédé e Território Indígena do Xingu com um total de 270 brigadistas nessas áreas.
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