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Emboscada em aldeia do Maranhão deixa cinco índios feridos

O Globo, País, p. 6
02 de Mai de 2017

Emboscada em aldeia do Maranhão deixa cinco índios feridos

Uma emboscada seguida de ataque a tiros, golpes de facão e pauladas de fazendeiros à aldeia indígena Gamela, no Povoado das Bahias, em Viana, interior do Maranhão, no fim da tarde de domingo, deixou sete feridos, sendo cinco índios, de acordo com o governo do Maranhão. No entanto, segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que atribui a violência a uma disputa por terras, 13 integrantes da etnia Gamela ficaram feridos, dois deles com as mãos decepadas. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirmou que, até a noite desta segunda-feira, o governo não havia encontrado vítimas com as mãos decepadas nos hospitais. Segundo ele, três pessoas permanecem internadas. De acordo com o Cimi, há dois índios em estado grave.
Eles invadiram e já foram atirando e tentando cercar a gente. Circularam para ficarmos no meio. Foi aí que só senti o impacto - relatou um sobrevivente ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
A aldeia, que fica a 220 quilômetros de São Luís, foi alvo dos fazendeiros por volta das 17h de ontem, quando foi cercada por capangas locais e de outras regiões, segundo o Cimi. Dois dos cinco índios que foram baleados já receberam alta, segundo o Cimi. Não há confirmação de mortes.
- Um deles levou dois tiros. Uma bala está alojada na coluna e a outra na costela. Ele teve as mãos decepadas e joelho cortados. O irmão dele levou um tiro no peito. Outro teve as mãos decepadas", relata integrante do Conselho Indigenista Missionário que esteve com os Gamela hospitalizados em São Luís.
Pelo menos de três moradores de Viana relatam boatos de novos ataques horas após o ataque aos Gamela. Segundo mensagens de áudio que circularam por redes sociais, um novo ataque seria realizado na unidade de pronto-atendimento da cidade. O boato fez com que muitos saíssem do local após os primeiros socorros.
Tememos novos ataques a qualquer momento. A concentração de jagunços segue estimulada e organizada no Santero, o mesmo lugar de onde saíram ontem pra fazer essa desgraça com o povo da gente. A polícia tá dizendo que não foi ataque, mas confronto. Não é verdade, fomos pegos de tocaia enquanto a gente saía da retomada. Mal podemos nos defender, olha aí o que aconteceu - diz um Gamela.
A ação dos fazendeiros, de acordo com o Cimi, teria sido premeditada e convocada por meio de redes sociais uma vez que no último dia 28 de abril, os Gamela recuperaram uma área próxima à aldeia Cajueiro Piraí, localizada no interior do território tradicional reivindicado pela etnia. Na ação, os Gamela bloquearam a rodovia MA-014, em apoio à Greve Geral e em sincronia com o 14o Acampamento Terra Livre (ATL), que ocorria em Brasília.
O deputado federal Aluisio Guimarães Mendes Filho (PTN/MA), ex-assessor presidencial de José Sarney e secretário de Segurança Pública na última gestão do governo de Roseana Sarney, teria estimulado o ataque após dar entrevista a uma rádio local. Nela, de acordo com o Cimi, o parlamentar se refere aos Gamela como arruaceiros.
- Houve no dia interior [sexta] uma entrevista, uma convocação, na rádio Maracu, de Viana, convocando as pessoas ditas de bem para uma reunião na mesma sexta-feira para o povoado de Santeiro. Então, essas pessoas foram para essa reunião, elas comeram, foram embriagadas, e depois foram incentivadas por um ódio tremendo para atacar os indígenas - conta Rosimeire Diniz, coordenadora da regional Maranhão do Cimi.
Em nota, a Secretaria de Estado da Segurança Pública do Maranhão informou que já instaurou inquérito para investigar o caso, enviou reforço policial para a região e que o conflito já foi contido.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública também divulgou nota em que informa que está "averiguando" o ocorrido e que o ministro da pasta, Osmar Serraglio, determinou que a Polícia Federal enviou uma equipe para o local e ofereceu apoio à Secretaria de Segurança Pública do estado:
"O Ministério da Justiça e Segurança Pública está averiguando o ocorrido envolvendo pequenos agricultores e supostos indígenas no povoado de Bahias, no Maranhão. Por determinação do ministro Osmar Serraglio, a Polícia Federal já enviou uma equipe para o local para evitar mais conflitos e ofereceu apoio à Secretaria de Segurança Pública que, por sua vez, já instaurou inquérito para investigar o caso", diz o texto.
Este não é o primeiro ataque sofrido pelo povo Gamela. Em 2015, uma área da comunidade foi alvo de ataque a tiros, mas ninguém se feriu. No ano passado, homens armados e com colete à prova de bala invadiram outra área, mas foram expulsos pelos Gamela.

O Globo, 02/05/2017, País, p. 6

http://oglobo.globo.com/brasil/aldeia-indigena-atacada-apos-emboscada-d…

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