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Embargo de SC deixa moluscos mais raros e provoca prejuízos

FSP, Mercado, p. A22-A23
10 de Jul de 2016

Embargo de SC deixa moluscos mais raros e provoca prejuízos

JEFERSON BERTOLINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS

O embargo estadual imposto há 45 dias na extração de ostras, vieiras e mexilhões em Santa Catarina, após o acúmulo atípico de algas e o risco de contaminação por uma toxina, já provoca prejuízo de R$ 6 milhões no setor.
A estimativa é da FEAq (federação das empresas de aquicultura) do Estado e do governo catarinense. A anomalia foi detectada em 25 de maio, e a extração, imediatamente suspensa. "O quadro é extremamente alarmante", afirma Fábio Brognoli, vice-presidente da FEAq.
Com volume anual de 20 mil toneladas, Santa Catarina é responsável por 98% da produção nacional dos três tipos de molusco. Do total, quase 60% são destinados para São Paulo e Rio, os maiores mercados consumidores.
A extração nacional é a principal fonte de ostras, vieiras e mexilhões consumidos pelos brasileiros. Em 2015, o país importou só 7.700 toneladas de todos os tipos de molusco, incluindo lulas e polvo, de acordo com o Ministério da Agricultura.
Os moluscos, que precisam ser consumidos em curto espaço de tempo, faltam no mercado. Para Rio e São Paulo, as ostras catarinenses são enviadas vivas e devem ser consumidas em até quatro dias.
O acúmulo anormal das algas restringe a venda e o consumo dos moluscos. As algas contêm toxinas que, se ingeridas, causam dores abdominais, vômitos e diarreia.
Em 20 anos de produção comercial de ostras, mexilhões e vieiras em Santa Catarina, nunca o acúmulo de algas com toxinas foi tão alto e durou tanto tempo.
Já houve suspensões por causa do problema, em menor intensidade, em 2007, 2008 e 2014.
Na costa catarinense, há 23 áreas destinadas ao cultivo dos três tipos. Elas são demarcadas com boias. Até sexta (8), só 11 estavam livres da toxina e haviam sido liberadas para extração e venda dos três moluscos. Outras 11 áreas estavam autorizadas só para ostras, mais resistentes à toxina.
Os maricultores estão apreensivos porque, apesar de 95% da produção de ostras estar restabelecida, cerca de 80% da produção de mexilhões, os mais cultivados, ainda está embargada.
A ostra é vendida pelos produtores a R$ 7 a dúzia, mas representa menos de 15% da produção local. Os mexilhões, vendidos por R$ 3 a dúzia, representam 84% do volume extraído. O restante está a cargo das vieiras, mais raras, vendidas a R$ 32 a dúzia.
RESTAURANTES
Nos restaurantes de Florianópolis especializados em frutos do mar, a frequência de clientes diminui em até 20% por causa do embargo aos moluscos.
Mas a queda não foi generalizada. Alguns proprietários conseguiram manter o movimento oferecendo aos clientes outros pratos, como a tainha, peixe abundante no inverno.
O presidente do Sindicato de Bares, Hotéis e Restaurantes da capital catarinense, Tarcísio Schmitt, diz que a situação é preocupante.
"Só nos resta lamentar. Sabemos que [o excesso de algas] é um problema incontrolável, que depende da natureza. Mas estamos profundamente tristes."
Os donos de restaurante dizem que a liberação gradativa das áreas de cultivo de ostras, iniciada em 22 de junho, ainda não restabeleceu o movimento, porque há o que chamam de "clima de desconfiança" em relação à qualidade do produto.

Governo de Santa Catarina afirma que estuda criar seguro para produtor

JEFERSON BERTOLINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS

A Secretaria de Agricultura e Pesca catarinense diz que a interdição das áreas de cultivo de molusco "acontece para preservar a saúde pública".
A pasta afirma que o "rigor com que trata a questão dá confiabilidade aos moluscos produzidos no Estado".
O secretário-adjunto, Airton Spies, diz que "está estudando" um seguro que forneça renda aos maricultores durante esse tipo de embargo.
"A maricultura é uma atividade nova em Santa Catarina. Tem 20 anos de produção comercial. O seguro seria uma forma de manter a renda dos trabalhadores em caso de crise", diz Spies.
A maricultura gera 2.300 empregos diretos em Santa Catarina e dá aos produtores renda anual de R$ 78 milhões, diz a Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural) do Estado.
A Cidasc (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina), órgão do governo estadual, diz que as algas acumuladas no litoral neste ano foram trazidas por uma corrente marítima surgida na bacia do rio da Prata. "A toxina contida na alga acaba se acumulando no molusco. E isso o deixa impróprio ao consumo", diz Pedro Mansur, veterinário da Cidasc.
Ostras, vieiras e mexilhões expostos às algas não precisam ser descartados porque, quando as algas se dissipam, os moluscos processam a toxina em poucos dias.
Atualmente, o mexilhão é usado como parâmetro nos testes que medem o nível de toxina. O resultado dele é aplicado aos outros moluscos.
Os maricultores pedem testes separados para ostras e vieras, pois as consideram mais resistentes à toxina.
Com a crise atual do setor, a Secretaria de Estado da Agricultura e Pesca fez testes separados, o que permitiu a liberação só de ostras em nove áreas de cultivo. Mas o procedimento ainda não está formalizado em lei.
Para que uma área de cultivo seja considerada livre de toxinas e desinterditada, é preciso que haja dois testes negativos seguidos no mesmo local.

FSP, 10/07/2016, Mercado, p. A22-A23

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/07/1790136-embargo-de-sc-deix…

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/07/1790134-governo-do-santa-c…

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