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Em seca, quilombolas do oeste do Pará aguardam entrega de água e comida

FSP - https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2023/10/
20 de Out de 2023

Em seca, quilombolas do oeste do Pará aguardam entrega de água e comida
OUTRO LADO: Prefeitura de Oriximiná (PA) diz que estiagem atrasa distribuição de mantimentos

Mariana Brasil
Salvador
20.out.2023 às 23h15

Em meio à seca severa na Amazônia, comunidades quilombolas e ribeirinhas de Oriximiná, cidade do oeste do Pará, estão à espera de ajuda humanitária e mantimentos. A região Norte tem enfrentado uma grave estiagem nas últimas semanas, com diversos rios atingindo mínimas históricas em certos pontos de medição.

O governo do estado do Pará afirma ter enviado itens para ajudar as comunidades nesta quinta-feira (19). Os recursos, porém, ainda não chegaram aos moradores, que se queixam da demora em meio a dificuldades para conseguir água e alimentos.

A prefeitura de Oriximiná, responsável pelas entregas, diz que está realizando o transporte até as áreas afetadas com recursos próprios e que, com a seca muito acentuada, o atendimento é prejudicado. "Demora-se muito mais para cobrir as comunidades", diz a gestão, em nota enviada à Folha.
Barcos na areia do porto; uma mulher caminha ao lado de um deles
Porto do núcleo urbano de Oriximiná (PA), em foto de agosto deste ano - Rubens Cavallari/Folhapress

Na quarta-feira (18), a administração municipal afirmou que já estava levando mais de 30 mil litros de água potável a comunidades atingidas, mapeadas em levantamento da Defesa Civil de Oriximiná.

Ainda de acordo com a prefeitura, bombas e caixas d'água também foram distribuídas às famílias mais carentes.

Na segunda-feira (16), comunidades de Oriximiná e Óbidos (PA), município vizinho, emitiram uma carta aberta em pedido de apoio para enfrentar a forte seca.

Na semana anterior, no dia 11 de outubro, o governador Helder Barbalho (MDB) já havia anunciado o envio de cestas com alimentos e água potável para população das regiões do baixo Amazonas e Tapajós, onde se localizam as cidades.

"Além do problema de acesso à água para beber, cozinhar e até tomar banho, as comunidades
da zona rural enfrentam dificuldades para assegurar a alimentação. A locomoção, que nessa região se faz principalmente por via fluvial, também foi prejudicada", diz trecho da carta aberta.

"Muitas crianças não conseguem chegar até as escolas. E o deslocamento da zona rural até a cidade está muito difícil. Em diversas comunidades, já não é possível o acesso pelos barcos, mas somente por embarcações de pequeno porte, tornando as viagens muito mais difíceis, arriscadas e longas", escrevem também.

Lenivalda Xavier, 54, coordenadora da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Alto Trombetas, uma das associações a assinar a carta, diz que a seca já os afeta há três meses. "Secou como nunca tinha secado. Das últimas, essa foi uma das maiores secas que teve dentro do nosso território", conta.

Conforme dados da Defesa Civil de Oriximiná, até o dia 11 de outubro, 23.010 pessoas, de 4.602 famílias, haviam sido impactadas pela seca no município que tem pouco mais de 68 mil habitantes.

"Secou dentro dos lagos, as nascentes onde a gente pegava água. Estamos pegando do rio, onde passam os barcos pequenos. A gente já tinha dificuldade porque os poços artesianos, neste período de seca, também secam e a gente tem que levar a bomba de água para o rio. Hoje está com esse problema de gosto de lama e muito suja. Já está começando a aparecer um surto de vômito, diarreia e dor de estômago nas nossas comunidades", diz Xavier.

De acordo com as lideranças locais, o acesso das autoridades da região é difícil, e o contato com as gestões municipais e estaduais não costuma ser efetivo. "Já fiz vários procedimentos de comunicação, mas a gente ainda não foi contemplado com nada", diz Ari Carlos Printes, 42, coordenador da Associação Quilombola Mãe Domingas.

A maior necessidade é a água potável. "Isso é uma das prioridades, uma água de qualidade, com uma quantia boa, porque, dentro só da nossa área, entre as seis comunidades, é uma faixa de 390 famílias."

Em Óbidos, os recursos já chegaram. O prefeito Jaime Silva visitou as comunidades atingidas, e medidas emergenciais, como o envio de água para as escolas, foram tomadas.

De acordo com os levantamentos do município, o número de afetados é de 8.970 pessoas, em 39 comunidades.

Helder Barbalho enviou na quinta-feira um ofício para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pedindo que o estado seja incluído em medida provisória que será editada para aliviar os efeitos da seca na Amazônia.

O projeto Quilombos do Brasil é uma parceria com a Fundação Ford

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