O Globo, Sociedade, p. 26
24 de Set de 2014
Em Minas Gerais, a nascente do Rio São Francisco está seca
Fenômenos é inédito; se não chover até o fim de outubro, trecho de 40 quilômetros ficará sem água, estimam especialistas
CLEIDE CARVALHO cleide.carvalho@ oglobo.com. br
-SÃO PAULO- A nascente do Rio São Francisco, que fica dentro do Parque Nacional da Serra da Canastra, em São Roque de Minas (MG), está seca. Segundo Vicente Faria, analista ambiental do parque, o curso até a primeira queda d'água, a Cachoeira Casca D'Anta, só não secou totalmente porque outros tributários ainda têm abastecido o sistema. Na avaliação do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), se não chover até o fim de outubro, um trecho de 40 quilômetros do rio, entre a Usina Hidrelétrica de Três Marias e o primeiro afluente, o Rio Abaeté, poderá ficar sem água.
- É a primeira vez que isso acontece. A Cachoeira Casca D'Anta, que fica a 10 quilômetros, recebe água de outros tributários, mas está com apenas um fio d'água. Isso é emblemático, pois o São Francisco é o rio mais importante do Brasil. A Serra da Canastra tem centenas de nascentes, perenes e intermitentes, e a maioria já secou - diz Faria.
RESERVATÓRIO TEM SÓ 5,9% DA CAPACIDADE
Segundo Sílvia Freedman, secretária nacional do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF) e coordenadora-geral do Consórcio Municípios do Lago de Três Marias, apenas 14 metros cúbicos de água estão entrando por segundo na represa da hidrelétrica de Três Marias, em função da pouca água que vem do próprio rio e dos afluentes Pará e Paraopeba. O volume é inferior à vazão da represa, em torno de 150 metros cúbicos por dia, o que faz com que o reservatório continue a baixar.
- Não há como soltar água do volume morto da represa para o curso do rio - ela diz.
O reservatório de Três Marias está com 5,9% de capacidade. Nesse trecho há uma unidade de metais do grupo Votorantim e várias tecelagens. Um projeto de irrigação na região foi suspenso.
O comitê vai pedir à Agência Nacional de Águas que suspenda as outorgas para usos múltiplos caso não haja segurança para abastecimento humano e de animais.
- Infelizmente, não há previsão de chuva antes de novembro - afirma Sílvia.
O Globo, 24/09/2014, Sociedade, p. 26
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