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Em Mato Grosso, etanol vira alternativa para o milho

OESP, Economia, p. B4
04 de Nov de 2017

Em Mato Grosso, etanol vira alternativa para o milho
Biocombustível ganha espaço nos projetos para melhorar aproveitamento da produção do Estado

Gustavo Porto, enviado especial, O Estado de S.Paulo

LUCAS DO RIO VERDE (MT) - Maior celeiro agropecuário do País, Mato Grosso busca no etanol a saída para reduzir gargalos econômicos e logísticos gerados por um excedente anual de 25 milhões de toneladas de milho - 27% da oferta brasileira. Essa é a produção que não é consumida localmente, mas que enfrenta desafios para ser levada para outras regiões. Nessa nova rota do biocombustível, o cenário é animador, mas também aponta desafios. Ao mesmo tempo em que o processamento do milho para se obter álcool gera subprodutos que proporcionam remuneração extra ao produtor, como o farelo, alimento de qualidade e de menor custo para o rebanho de 30 milhões de bovinos do Estado, a expansão do combustível precisa ser acompanhada de avanços nas questões estruturais. Entraves observados em anos de ampla produção de milho, entre eles dificuldade de escoamento e preço baixo, podem ser um limitador no futuro.
Com 11 usinas, Mato Grosso é autossuficiente em álcool. Consome um terço do 1,4 bilhão de litros que oferta. Três das unidades existentes no Estado são flex e já produzem o biocombustível com o uso de cana-de-açúcar e milho. As outras oito usam apenas cana. Em agosto, foi inaugurada em Lucas do Rio Verde (MT) a primeira unidade produtora de álcool exclusivamente do cereal, a FS Bioenergia.
Produtores dessa região, principal polo produtor de milho naquele Estado, sofrem para escoar os grãos. Até o terminal ferroviário mais próximo, em Rondonópolis (MT), são 600 quilômetros ao sul por rodovia. Uma alternativa, ao norte, é enfrentar 1.100 quilômetros pela BR-163, com trechos precários, para exportar pelo porto de Miritituba (PA). O resultado do gargalo logístico é que o preço do frete dobra e a competitividade do milho diminui.
Em Lucas do Rio Verde, distante 330 quilômetros ao norte da capital Cuiabá, há uma mistura de euforia com a FS Bioenergia e desconfiança de produtores sobre o potencial de reação dos preços do cereal. Empresário rural e prefeito luverdense no primeiro mandato, Luiz Binotti (PSD) diz que o primeiro ponto positivo da chegada da FS é a geração de empregos, "com remuneração melhor e profissionais de alto conhecimento".
Menos otimista, o presidente do Sindicato Rural local, Carlos Alberto Simon, diz que os preços do milho já mostram reação, mas é cauteloso sobre a possibilidade de isso ser uma tendência. Segundo ele, a saca de 60 quilos a ser entregue à FS Bioenergia no segundo semestre de 2018 já foi comercializada entre R$ 16,00 e R$ 16,50, alta de até 22% em relação ao valor de mercado atual, de R$ 13,50. "Ainda é baixo, mas é uma melhora", pondera.
Flex. A 150 quilômetros de Lucas do Rio Verde, em São José do Rio Claro (MT), está a Destilaria de Álcool Libra, uma das três usinas flex mato-grossenses. Lá, já virou realidade aquilo que em Lucas do Rio Verde é uma expectativa. De acordo com o diretor comercial da Libra, Celso Eduardo Ticianeli, o etanol de milho responde por 35% da receita da companhia, o farelo por 25% e o álcool de cana pelos 40% restantes.
Os pecuaristas agradecem. "O farelo de milho tem quantidade de proteína comparada ao de soja, é mais barato e, pelo alto teor de umidade, é mais palatável aos animais", diz Jefferson Albino, gestor da unidade da empresa de pecuária LFPEC em Diamantino (MT), a 50 quilômetros da Libra.
Mas a cana é considerada indispensável para as usinas flex por gerar o bagaço. A biomassa é queimada em caldeiras e transformada em energia elétrica, insumo fundamental na unidade fabril. Quem não dispõe de cana utiliza eucalipto picado como biomassa para a produção de energia. Estudo feito pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) aponta que a construção de novas usinas do biocombustível a partir do milho terá como fator limitador justamente a oferta restrita de biomassa para a geração de energia.
O governo federal trata o advento das usinas de etanol de milho como "uma revolução", pelos impactos econômicos, sociais e até fundiários gerados onde as unidades são instaladas. Para o diretor de biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Miguel Ivan Lacerda, a rota alternativa de produção do bicombustível "cria uma nova fronteira de desenvolvimento". O ex-governador e senador licenciado de Mato Grosso, o ministro da Agricultura Blairo Maggi, diz que, "diferentemente de uma usina de cana, que precisa mudar todo sistema fundiário e social para ser instalada, a implantação de uma usina de milho vem como incremento para a região produtora do grão".
Apesar do protagonismo estadual, o uso do milho na produção de etanol e de farelo para a pecuária não deverá ser restrito às lavouras mato-grossenses, para o ex-presidente e conselheiro consultivo da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja) Glauber Silveira. "Se o etanol de milho é viável a até R$ 36 a saca, como mostra estudo do Imea, e como unidades flex precisam de menos investimentos, o maior potencial de crescimento da nova rota está em usinas de cana de São Paulo", diz, referindo-se à principal região canavieira do mundo.

FS Bioenergia quer dobrar produção
Joint venture da brasileira Fiagril e o americano Summit Agricultural Group, usina é a primeira a produzir etanol exclusivamente de milho

Gustavo Porto, enviado especial, O Estado de S.Paulo

LUCAS DO RIO VERDE (MT) - Inaugurada em agosto deste ano, com investimento de R$ 450 milhões, a FS Bioenergia - joint venture entre a brasileira Fiagril e o americano Summit Agricultural Group - pretende dobrar a capacidade de produção de etanol de milho em 2018. A unidade localizada em Lucas do Rio Verde (MT) é a primeira do País a produzir o combustível exclusivamente de milho e deve atingir capacidade de quase 500 milhões de litros por ano com o aporte de R$ 300 milhões no ano que vem.
Baseada no modelo fabril que fez os Estados Unidos superarem o Brasil no ranking global de países produtores de etanol, a FS Bioenergia processa 600 mil toneladas de milho por ano e deve atingir 1,2 milhão de tonelada em 2018. A industrialização do cereal produzirá quase 200 mil toneladas de farelo para a alimentação animal e 7 mil toneladas de óleo de milho para a produção de biodiesel em uma fábrica vizinha, segundo o presidente da FS Bioenergia, Henrique Ubrig, em entrevista ao Broadcast Agro na sede da companhia, no município mato-grossense.
Cautela. Considerado um dos projetos mais audaciosos do empresário Olacyr de Moraes, morto em 2015, a Usina Itamarati já foi a maior processadora de cana-de-açúcar do mundo, com uma moagem superior a 7 milhões de toneladas por safra no passado. Inaugurada em 1983, a unidade adotou parcerias com produtores de cana para diminuir custos e riscos. Agora, processa 4,5 milhões de toneladas para açúcar e etanol, volume que a coloca ainda entre os gigantes do segmento.
Localizada em Nova Olímpia (MT), área com oferta abundante de milho e um mercado pecuário capaz de absorver o farelo do cereal, a Itamarati avalia implantar uma unidade anexa para o uso do grão na fabricação do biocombustível. Segundo o diretor-presidente da companhia, José Arimatéa de Ângelo Calsaverini, seria pequeno o investimento para tornar a Itamarati uma usina flex.
Entre os entraves para a produção de etanol de milho, segundo o executivo, está o preço do grão, que tem forte variação. "Embora tudo seja etanol, as matérias-primas são negócios com lógicas diferentes. Etanol de milho é mais arriscado, apesar de extremamente viável hoje." Três novas usinas de etanol de milho devem ser construídas em Mato Grosso nos próximos anos, segundo o presidente da União Nacional do Etanol de Milho, Ricardo Tomczyk.

OESP, 04/11/2017, Economia, p. B4

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