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Em editorial, FT diz que Brasil deveria ser punido por desmatamento

Valor Econômico - https://valor.globo.com/mundo/noticia
14 de Jul de 2021

Em editorial, FT diz que Brasil deveria ser punido por desmatamento
Texto provoca investidores e sugere ameaça de retirada de ativos do país caso o desmatamento não diminua

Por Valor, Valor - São Paulo 14/07/2021

O jornal de economia e negócios britânico "Financial Times" publicou em seu site hoje um editorial no qual diz que o Brasil deveria ser punido por não conter o desmatamento na Amazônia. Leia abaixo a íntegra do editorial. O ativismo dos investidores pode ser uma força poderosa em favor do bem. Os detentores de títulos e ações estão pressionando empresas e governos em todo o mundo para melhorar a governança, reduzir as emissões de carbono, buscar equilíbrio de gênero e diversidade racial, bem como gerar lucros crescentes. Mas e se seus alvos ignorarem a pressão? Este é o dilema enfrentado pelos gestores de ativos que se uniram no ano passado para pressionar o governo brasileiro e seu presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro, a conter o desmatamento da Amazônia.
O grupo de investidores, que cresceu para englobar US$ 7 trilhões em ativos, tinha cinco objetivos: o mais importante era uma "redução significativa" no desmatamento. Outros incluíram a aplicação do Código Florestal do Brasil e a prevenção de incêndios em áreas florestais ou próximas dessas áreas para evitar a repetição das queimadas observadas em 2019. Pouco mais de um ano e várias reuniões de alto nível depois, os resultados são claros: o desmatamento aumentou 17 por cento nos primeiros seis meses de 2021, de acordo com dados preliminares do governo. O impressionante Código Florestal está rapidamente se tornando letra morta, uma vez que as agências que o policiam tiveram seus orçamentos destruídos. No mês passado, o ministro do Meio Ambiente - um aliado próximo de Bolsonaro - pediu demissão em meio a uma investigação criminal sobre se ele tinha sido conivente com madeireiros ilegais para exportar madeira amazônica. Com a maioria de seus objetivos não alcançados, o que os investidores devem fazer agora? A questão é urgente porque os especialistas ambientais acreditam que até 40 por cento da Floresta Amazônica restante está se aproximando de um ponto crítico, no qual incêndios e secas correm o risco de transformá-la em uma savana aberta e seca.
Argumentar por mais tempo parece pouco. Poucos acreditam que Bolsonaro, em dívida com um eleitorado barulhento de madeireiros, fazendeiros e evangélicos, mudará seus hábitos nos 18 meses finais de seu mandato. Os orçamentos das agências ambientais podem ser restaurados com um golpe de caneta e a fiscalização aumentada, se houver vontade política. O Brasil mostrou no passado recente, notadamente entre 2009 e 2017, que pode reduzir o desmatamento de forma acentuada quando desejar. A recente promessa do governo de enviar o Exército de volta à Amazônia para combater o desmatamento repete uma estratégia fracassada; agências ambientais devidamente financiadas mostraram-se muito mais bem-sucedidas no passado. Os membros do grupo de investidores não disseram o que aconteceria se as metas que estabeleceram não fossem cumpridas. Alguns argumentam que o envolvimento contínuo é preferível a vender seus títulos e perder influência - uma tese frequentemente usada para defender o investimento contínuo em produtores de combustíveis fósseis. Mas nem tudo está perdido. O desrespeito arrogante do governo Bolsonaro pelas riquezas naturais do País não é compartilhado por muitas empresas brasileiras. Empresas que exportam para a Europa e América estão alarmadas com o risco de boicotes de consumidores ou investidores se a inação do governo tornar a "marca Brasil" muito tóxica. Algumas empresas brasileiras buscam atender aos melhores padrões globais de métricas verdes; eles merecem encorajamento. Até mesmo o setor de carne, que converteu tardiamente, despertou para a necessidade de métodos confiáveis de rastrear a origem do gado abatido, embora a implementação seja muito lenta. Ainda assim, no caso do governo Bolsonaro, um ano de diálogo de alto nível coincidiu com uma forte deterioração na Amazônia. O envolvimento contínuo em tais circunstâncias corre o risco de minar a credibilidade de um compromisso com a economia sustentável. Em um ano de circunstâncias excepcionais em meio à pandemia, tem sido difícil discernir um desconto ambiental nos títulos do governo brasileiro. Isso precisa mudar. É hora de os investidores enviarem um sinal de US$ 7 trilhões para Brasília de que, a menos que o desmatamento diminua, eles se desfarão dos seus ativos.

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