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Em Dourados, desnutricao mata a quinta crianca india

OESP, Nacional, p.A14
26 de Fev de 2005

Em Dourados, desnutrição mata a quinta criança índia
Após a morte do guarani-caiová Rosivaldo Barbosa, de 1 ano e 11 meses, cresce revolta das tribos de MS
João Naves de OliveiraEspecial para o Estado
CAMPO GRANDE - Mais uma criança indígena morreu ontem na cidade de Dourados, a 220 quilômetros de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. O guarani-caiová Rosivaldo Gonçalves Barbosa, de um ano e onze meses, foi a segunda vítima da desnutrição desta semana e a quinta deste ano nas aldeias da região.
Os pais da criança, Hermes Vera Gonçalves e Luzinete Barbosa, residentes na Aldeia Bororo, chegaram a internar o menor no Hospital da Missão Kaiowá, no início da noite de ontem. Não adiantou. Rosivaldo morreu com paralisia cerebral, decorrente de desnutrição calórica severa, segundo o boletim médico. Pelo mesmo motivo, morreu anteontem a guarani-caiová Janifer Duarte, com um ano e quatro meses de idade.
A Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que cuida dos índios no Estado, distribuiu uma nota esclarecendo que está fazendo o máximo possível para reduzir a mortalidade infantil entre os índios. "A Funasa tem acompanhado a situação da desnutrição infantil em Dourados em conjunto com outros órgãos do governo federal, como o Ministério do Desenvolvimento Social e a Fundação Nacional do Índio. No dia 22/02, o presidente da Funasa, Valdi Camarcio, e o diretor do Departamento de Saúde Indígena da fundação, Alexandre Padilha, estiveram na região para acompanhar de perto as ações desenvolvidas. Na oportunidade, decidiu-se pelo reforço da equipe médica", diz a nota.
A nota destaca ainda que entre 2003 e 2004 houve redução da desnutrição em crianças menores de cinco anos na região. "Em 2003, 15% das crianças avaliadas apresentavam desnutrição e 16% estavam em risco nutricional. Estes percentuais caíram em 2004 para 12% de casos de desnutrição e 15% de risco nutricional." E ressalta: "O programa atende 90% das crianças indígenas menores de cinco anos."
OMISSÃO
Um dos líderes dos guarani-caiovás na região, Carlos Antônio Duarte, o Piririta, lamentou mais uma morte entre os índios. E afirmou que a Fundação Nacional do Índio está "paralisada". "Estão apenas olhando a situação. Jogam a culpa na prefeitura. A Funai é omissa em Dourados", acusou.

Funasa cria força-tarefa em Dourados
EMERGÊNCIA: Após mais uma morte, foi criada ontem uma força-tarefa da Fundação Nacional da Saúde (Funasa) em Dourados para combater a desnutrição entre as crianças indígenas. A medida foi anunciada pelo diretor nacional de Saúde Indígena da instituição, Alexandre Padilha. Seis medidas emergenciais foram colocadas em ação nas aldeias Bororo e Jaguapiru, onde a situação é mais grave. Padilha explicou que a Funasa vai intensificar o acompanhamento de crianças internadas com desnutrição e as que estão com peso abaixo do normal em todas as aldeias. Também, já na próxima semana, pretende iniciar um programa de capacitação de agentes de saúde para cuidar das índias gestantes. "Vamos mobilizar o máximo possível de pessoas, para sensibilizar as famílias indígenas a não rejeitarem os filhos e cuidarem melhor das crianças", acrescentou. Afirmou, ainda, que o trabalho compreenderá ainda a implantação de saneamento básico nas aldeias. Quatro nutricionistas e três médicos que vieram de Brasília reforçarão as equipes locais a partir da próxima segunda-feira. Padilha disse que ficará em Dourados por tempo indeterminado, mantendo reuniões constantes com a prefeitura e os parceiros para avaliação dos trabalhos.

OESP, 26/02/2005, p.A14

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