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Em dez anos, a aldeia passou de 13 para 40 pessoas no Parque Nacional do Superagui

O Estado de São Paulo - São Paulo - SP
27 de Mar de 2001

O cacique Alcides, líder de uma aldeia instalada no Parque Nacional do Superagui, no Paraná, resume assim a sua peregrinação: Em cada lugar por onde eu passava tinha alguém que mostrava um papel, dizendo que aquela não era minha terra, que o dono era outro e eu tinha de ir embora. Aqui ninguém mostrou papel, só vieram conversar, então eu fiquei.
Ele chegou com a família (13 pessoas) em 1990. Montou uma aldeia perto da vila de pescadores e depois mudou-se para o Morro das Pacas, em outro ponto do parque. Cultiva mandioca, cará e batata-doce e faz artesanato em caixeta. A aldeia recebeu outras famílias, chegando a 40 índios.
Segundo a gerente do parque, Guadalupe Vivekananda, já foram registrados casos de venda de carne de tatu, captura e venda de micos-leões-de-cara-preta e, principalmente, filhotes de papagaio-de-cara-roxa. Notifiquei a Funai quando soube da presença deles, em 90, conta Guadalupe. Um ano depois, vieram inspecionar e, três anos mais tarde, quando o cacique anunciou que ia sair, deram a ele um documento dizendo que a área era indígena e ele poderia ficar. A fragmentação do parque e a insatisfação das comunidades vizinhas em relação à imunidade legal dos índios são as duas maiores preocupações de Guadalupe, além do aumento da pressão turística e imobiliária.
Ilha do Cardoso – O cacique Marcílio, pai de nove filhos e chefe de uma aldeia no Parque Estadual da Ilha do Cardoso, em São Paulo, conta que os de mais idade sonharam e por isso eles foram para lá. Eles sabiam que tinha uma ilha na mata para viver. Chegou num grupo de 40 índios, que depois se subdividiu em dois; sua família e agregados ficaram no parque. Plantam aipim, batata, milho e abóbora e fazem artesanato de caixeta. Tentam substituir a caça de subsistência com a venda do artesanato.
A aldeia já aumentou de tamanho, com a presença de familiares visitantes ou outros grupos que querem se fixar no local. Em 1999 instalou-se lá um grupo proveniente de Peruíbe, que vivia da venda de plantas ornamentais. O total de índios passou para 76 e surgiram problemas de alcoolismo e extração ilegal de palmito. Em novembro, índios e administradores do parque decidiram pela saída do grupo, que foi para Miracatu (SP). Quem toma bebida assim, como branco, não pode ficar na ilha, não obedece ao cacique. Aqui não pode brigar, não pode roubar. Eu dei este conselho a eles, bem direitinho, explica o cacique.
Desde o início, a instalação dos guaranis na Ilha do Cardoso suscitou discussões entre os responsáveis pelo parque. A Procuradoria-Geral da República decidiu, em 1996, que os índios tinham direito de ficar.
Os planos de manejo e gestão ambiental foram discutidos com os índios e os problemas com o lixo e a caça para venda já diminuíram. Um pequeno plantio-piloto de palmito foi iniciado. Os índios também criam abelhas e têm pequenas culturas de subsistência.
Juréia-Itatins – Liderados pelo cacique Ailton, cerca de 42 índios abriram uma clareira na mata da Estação Ecológica Juréia-Itatins, em São Paulo, para construir seis casas com roças. O líder do grupo fazia parte dos primeiros índios que foram para a Ilha do Cardoso. No caminho de um lugar para outro ganhou a companhia de familiares e agregados.
O solo era arenoso demais para o plantio e ataques de insetos tornaram sua permanência inviável. Em 1999, o grupo mudou-se para o Parque Estadual Intervales, também em São Paulo. Queríamos fechar o acesso e destruir as casas para evitar invasões, mas fomos impedidos, porque a Funai aventou a possibilidade de eles voltarem, diz Joaquim do Marco Neto, da estação ecológica.
Em junho de 2000, outro grupo de guaranis, composto de 24 famílias, foi deslocado pela Funai para a Juréia-Itatins, depois de um conflito entre índios ocorrido na aldeia do Bananal, em Peruíbe.
A Juréia-Itatins tem problemas fundiários, com a extração ilegal de palmito e captura de animais para tráfico. Diversos carregamentos de palmito já foram detectados em ônibus urbanos, mas não puderam ser apreendidos porque estavam com os índios. Problemas semelhantes também existem no Parque Estadual Intervales (Ribeirão Grande) e na região de Mongaguá.

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