VOLTAR

Em defesa do clima

O Globo, Opinião, p. 15
Autor: POLMAN, Paul
12 de Fev de 2015

Em defesa do clima
É preciso optar por uma economia sustentável em lugar do atual modelo emissor de carbono

PAUL POLMAN

Representantes de quase 190 nações mantiveram conversações cruciais em Genebra para criar o rascunho de um acordo universal do clima. Junto com um grupo de diretores-executivos de grandes companhias e organizações da sociedade civil conclamamos os líderes mundiais a se comprometerem com um acordo global de eliminação total da emissão de gases de efeito estufa até 2050 , de modo a incluir este compromisso no acordo a ser assinado em Paris.
Isso é necessário para garantir que fiquemos dentro de um aquecimento de dois graus centígrados, invertendo a tendência de uma catastrófica mudança climática. Caso contrário, teremos como resultado um planeta mais quente e volátil, vulnerável a secas e inundações mais severas. Já estamos sentido os efeitos. A ONU estima, por exemplo, que as perdas com desastres naturais desde 2000 alcançaram US$ 2,5 trilhões, pelo menos 50% maior do que as estimativas internacionais anteriores. E isto é apenas o começo.
Empresas e investidores começaram a agir. Mais de um quarto das 200 maiores companhias do mundo criou metas de redução da emissão de carbono em consonância com a proposta de corte anual de 6%, e 150 delas têm projetos sociais e ambientais em andamento.
Mas a liderança dos governos é necessária para garantir uma mudança mais permanente. Os líderes mundiais precisam deixar claro que preferem uma economia inclusiva e sustentável em detrimento do envelhecido modelo emissor intensivo de carbono, baseado na queima de combustíveis fósseis. E mais: nós, empresários, precisamos que eles estabeleçam instrumentos financeiros bem estruturados e regras que nos deem estabilidade e destravem os investimentos - de alternativas de energia limpa a infraestrutura inteligente para tecnologia de agricultura.
Eles deveriam também aproveitar a queda dos preços do petróleo e as baixas taxas de juros dos países desenvolvidos para conter o afunilamento de cerca de US$ 600 bilhões, usados anualmente do dinheiro dos contribuintes para subsidiar combustíveis fósseis, que em geral beneficiam os ricos que consomem desproporcionalmente mais energia. Em vez disso, deveriam investir esse dinheiro em fontes renováveis e estimular a inovação. Isso não apenas beneficiaria o clima, mas enfrentaria questões como o aumento da desigualdade social. Este é apenas um exemplo de como as agendas de ação pelo clima e de desenvolvimento se reforçam mutuamente.
A Comissão Global sobre a Economia e o Clima divulgou um relatório ano passado revelando que as melhores estratégias para obter crescimento econômico sustentável seguem lado a lado com a redução das emissões de carbono. O mundo vai investir US$ 90 trilhões em infraestrutura nos próximos 15 anos, e a Comissão, que inclui líderes empresariais, de governo e da academia - e até mesmo dois prêmios Nobel -, concluiu que um melhor gasto desses recursos vai gerar um crescimento de melhor qualidade, assim como um clima melhor.

Paul Polman é diretor-executivo da Unilever e membro da Comissão Global sobre a Economia e o Clima

O Globo, 12/02/2015, Opinião, p. 15

http://oglobo.globo.com/opiniao/em-defesa-do-clima-15309698

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.