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Em busca do número real

A Crítica-Manaus-AM
03 de Mar de 2002

A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) calcula que 8,5 mil indíos moram em Manaus, enquanto a Fundação Estadual dos Povos Indígenas fala em 20 mil. Essa desinformação incomoda, tanto que uma das principais reivindicações do documento final do 1o Encontro dos Índios da Cidade de Manaus é um censo que mostre a realidade, com relação a números e condições de vida dos indígenas.

O encontro foi realizado durante três dias, em uma chácara no quilômetro 22, da BR-174 (Manaus-Boa Vista), com a participação de 80 pessoas. O primeiro dia foi dedicado a troca de experiências e depoimentos sobre o principais problemas. Eles apontaram o preconceito da sociedade, a falta de qualificação profissional para competir no mercado de trabalho, a falta de moradia e de assistência à saúde. No sábado houve trabalho em grupo e a participação da representante da gerência técnica da Secretaria Estadual de Educação e Qualidade do Ensino (Seduc), Arlene Bonfim, e do representante da Fundação Nacional do Índio (Funai), João Melo. A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) não se fez representar.

Além do censo demográfico, o documento final do encontro propõe também que os órgãos governamentais e não governamentais, assim como a sociedade em geral reconheçam essa população como índios, onde quer que estejam. Os participantes querem um pólo-base de saúde dotado de médicos, enfermeiros, agentes de saúde indígenas e um veículo, para encaminhar ao hospital as pessoas que necessitarem de um atendimento mais específico. E o atendimento, por meio da medicina alopática deve ser feito sem prejuízo à cura tradicional.

Os índios da cidade propõem também escolas indígenas diferenciadas, com conteúdo curricular específico, que garanta o resgate da língua materna e da cultura. No encontro eles criaram uma comissão de articulação com um representante de cada etnia para criar uma entidade representativa deles.

O coordenador do projeto Yakiño, da Coiab, que cuida da parte cultural, Ismael Tariano, 38, reconhece que devido a discriminação, muitos indígenas passaram a esconder suas origens. "Mas Manaus um dia já foi uma aldeia", enfatiza. Nos últimos anos, com o surgimento de entidades de articulação, como a Coiab, começou um movimento pela valorização da identidade indígena.

Enquanto um grupo se apresentava no encerramento do encontro, Ismael explicava que a dança é uma forma de resgate da cultura, que muitos já tinham esquecido. Ele já escreveu dois livros tratando da mitologia e lendas tarianas e está finalizando um outro sobre a religiosidade do povo. Iniciativas como essa estão resgatando a cultura milenar dos povos indígenas.

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