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Em busca das verbas perdidas

O Globo, Rio, p. 8
28 de Abr de 2014

Em busca das verbas perdidas
Principal legado ambiental das Olimpíadas, projetos de despoluição só vão receber 14,7% do previsto em 2009

LUIZ ERNESTO MAGALHÃES
luiz.magalhaes@oglobo.com.br

Em 2009, a poluição que atingia a Baía de Guanabara e as lagoas da Barra e Jacarepaguá há décadas parecia ter solução. Naquele ano, ao se candidatar como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, o Rio de Janeiro prometia investir mais de R$ 8,8 bilhões (valores atualizados) para coletar e tratar 80% do esgoto despejado nesses cursos d'água. Mas a pouco mais de dois anos do evento, a cidade não tem a menor chance de ganhar medalhas no quesito ambiental, como mostram as fotos feitas pelo GLOBO em sobrevoo na semana passada com o biólogo Mário Moscatelli.
Divulgado pelos governos este mês, o Plano de Políticas Públicas do legado - que consolida os investimentos em infraestrutura dos Jogos - prevê agora que seja aplicado apenas um total de R$ 1,3 bilhão em obras de drenagem e saneamento (14,7% do previsto) na Baía de Guanabara e na região da Barra e Jacarepaguá. No entanto, muita coisa ainda não começou. É o caso do plano de drenagem e dragagem das lagoas da Barra (R$ 563 milhões), cujo prazo para ser concluído é de 30 meses. Ou seja, se as intervenções tivessem início hoje, só acabariam em outubro de 2016 - dois meses após as Olimpíadas.
Da lista oficial de propostas, está de fora, por exemplo, a implantação de Unidades de Tratamento de Rios (UTRs), para filtrar a água e reduzir a carga de poluentes que chegam à Baía de Guanabara e às lagoas da Barra, Jacarepaguá e Camorim. A construção de um cinturão sanitário para eliminar o despejo de esgoto na Marina da Glória também não consta da lista. Os governos, porém, sustentam que o plano do legado é sujeito a revisões. Ou seja, projetos podem ser incluídos ou excluídos e as contas dos investimentos revistos. Especialistas, entretanto, estão pessimistas, porque o tempo é curto.
- A despoluição da Baía seria o maior legado que os Jogos Olímpicos poderiam trazer para o Rio. Era um desafio, mas havia projetos prontos para execução. Se não saíram do papel a tempo foi por falta de planejamento - afirma o velejador Axel Grael, ex-presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
Ao ser perguntada se a meta de tratar 80% do esgoto será cumprida, a Secretaria estadual do Ambiente respondeu por nota de forma vaga. Alegou que se trata de um projeto de longo prazo, que não está ligado apenas ao legado dos Jogos. A secretaria argumentou que o principal problema para as competições de vela na Baía de Guanabara não seria a poluição, mas o lixo flutuante. O material será recolhido em ecobarreiras já instaladas ou que serão reformadas. Elas impedem a dispersão do lixo. Barcos também serão usados para recolher resíduos sólidos.
Moscatelli ironizou a estrategia:
- Usar barcos para recolher lixo não resolve o problema da poluição. É a mesma coisa que tentar tratar os ferimentos de um paciente de câncer com metástase apenas com curativos.
O estado informou que as obras de drenagem das lagoas da Barra devem começar neste semestre e o cronograma deve ser ajustado para atender às Olimpíadas. No caso das Unidades de Tratamento de Rios, a responsabilidade é da prefeitura. O município pode receber financiamento da União para o projeto, mas não há prazo para a liberação das verbas. O prefeito Eduardo Paes já admitiu não se entusiasmar com o projeto. Ele argumenta que as UTRs não atacam a raiz do problema, que é a falta de tratamento adequado de esgoto em boa parte da região.
*Colaborou Ruben Berta

O Globo, 28/04/2014, Rio, p. 8

http://oglobo.globo.com/rio/projetos-de-despoluicao-da-baia-de-guanabar…

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