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Em Brasília, Encontro dos Povos das Florestas reúne quase duas mil pessoas

Amazônia.org
19 de Set de 2007

Em Brasília, Encontro dos Povos das Florestas reúne quase duas mil pessoas
Para governador do Amazonas em primeira mesa de discussão, "a maior razão de devastação é a pobreza"; jornalista Miriam Leitão criticou o conformismo com os dados oficiais sobre o desmatamento

Eduardo Paschoal

No primeiro dia do II Encontro Nacional dos Povos das Florestas, em Brasília, foi registrada a presença de 1800 pessoas, entre grupos indígenas, seringueiros e demais participantes. São mais de 65 etnias da região Amazônica. O evento não ocorria desde 1989, pouco depois da morte de Chico Mendes.
Na mesa de abertura do evento, na manhã dessa quarta-feira (19), representantes do governo e do terceiro setor discutiram sobre Mudanças Climáticas, com enfoque nos povos das florestas e o impacto do aquecimento global nos biomas brasileiros.
Eduardo Braga, governador do Amazonas, comentou que o Estado é o menor em nível de desmatamento da região Amazônica, com 98% de sua área preservada. Segundo ele, uma medida importante para combater a invasão das plantações de soja e a pecuária extensiva na Amazônia, é aumentar a quantidade de Unidades de Conservação na floresta.
Segundo o governador, "a maior razão de devastação é a pobreza", e para contorná-la é fundamental investir nas populações locais, e promover a tecnologia, como os métodos de medição do desmatamento.
Sobre programas de remuneração para comunidades tradicionais, como o Bolsa Floresta, Braga argumentou que o governo está pagando as populações que tanto contribuem para o país e nunca foram recompensadas.
Aquecimento Global
"Se nós não desmatamos, se nós respeitamos a natureza, por que temos de arcar com as conseqüências do aquecimento global?", é o que questiona Adilson Vieira, do Grupo de Trabalho da Amazônia (GTA), sobre a grande seca na região amazônica dos últimos anos.
Vieira, que é um dos organizadores do evento, através do GTA, afirma que a grande questão é reduzir o desmatamento, pois os povos das florestas perceberam que há uma relação muito estreita com o aumento do desmatamento e a redução das chuvas, e finaliza: "o que queremos é floresta em pé".
Lembranças
Julio Barbosa, do Conselho Nacional dos Seringueiros, também organizador do evento, lembrou o primeiro encontro dos Povos das Florestas, na ocasião incentivados por Chico Mendes.
Ele contou que ao mesmo tempo em que as lideranças consolidaram as alianças, organizaram o encontro: "há vinte anos, resolvemos nos reunir para falar que os índios estavam morrendo", relata.
Conformismo
Para a jornalista Miriam Leitão, há um conformismo diante dos números do desmatamento e da situação da Amazônia. Ela também criticou a postura do governo brasileiro em não assumir metas para redução de emissão de gases que causam o aquecimento global, apesar de ressaltar o papel de Marina Silva nas questões ambientais: "quando o time corre em lados contrários, não está bem", afirmou.
A jornalista econômica traçou um panorama da exploração da floresta ao longo dos anos, e concluiu: "A destruição da Amazônia não traz nenhum valor agregado. O Brasil não ganha rigorosamente nada com a devastação da floresta".
Miriam ressaltou a importância em o país buscar fontes alternativas de energia, e não somente as hidrelétricas: "a diversidade traz credibilidade ao setor energético brasileiro".
Pesquisa
Paulo Moutinho, do Instituto de Pesquisas Ambiental da Amazônia, relatou que 80% dos gases de efeito estufa é fruto da queima de combustíveis, e 20% do desmatamento, apesar de protocolos ambientais, como o de Kyoto, não levarem em consideração as queimadas das florestas.
No Brasil, 70% desses gases provêm do desmatamento da floresta Amazônica, e os restante da queima de combustíveis fósseis.
O pesquisador relatou também que há, na Amazônia, um "processo de empobrecimento muito rápido", devido ao desmatamento da floresta. A maior parte desse desmate é de terras para pastagens extensivas que, segundo Moutinho, "não são rentáveis".
Ele também acredita que uma das boas maneiras de preservação são as Unidades de conservação, já que os próprios moradores da região cuidam das áreas.
Evento
Segundo os organizadores, a intenção é fortalecer as lideranças dos grupos tradicionais da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica, do Cerrado, da Caatinga e outros biomas brasileiros, além de debater o Programa de Aceleração do Crescimento Ambiental, proposto pelo governo federal.
A organização é da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), e conta com apoio de diversas organizações governamentais e do terceiro setor.
Também participaram dessa mesa Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA), que mediou o debate, Egberto Tabo, da Coordinadoria de lãs Organizaciones Indígenas de La Cuenca Amazônica (COICA) e Stephan Schwartzman, da ONG internacional Environmental Defense, além da Ministra do Meio Ambiente Marina Silva.

Amazônia.org, 19/09/2007

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