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13 de Out de 2024
Eleição na Amazônia reflete desafio de acabar com o desmatamento
Cidades com garimpo clandestino e madeireiras ilegais elegeram prefeitos autuados por autoridades ambientais
13/10/2024
Não é surpresa que, nos principais centros do agronegócio brasileiro, os eleitores tenham escolhido prefeitos mais comprometidos com a produção que com a questão ambiental. Oito das dez cidades mais ricas em estados como Mato Grosso, Goiás e Bahia elegeram políticos de legendas como União Brasil, PL, Republicanos e PP. O setor agrícola que move a economia brasileira tem buscado representação política, e parece claro que os partidos de esquerda - em geral defensores das causas ambientais - não têm apresentado propostas capazes de sensibilizar esse eleitorado. Um efeito indesejado dessa situação tem sido a representação fraca da agenda ambiental em alguns municípios onde o combate ao desmatamento é prioritário, especialmente na Amazônia.
Cidades que ocupam o topo do ranking de desmatamento elegeram prefeitos que foram, eles próprios, alvo de autuações por órgãos ambientais. É o caso de Apuí (AM), Marcelândia (MT), Lábrea (AM), Colniza (MT) e São Félix do Xingu (PA). Como mostrou reportagem do GLOBO, esses municípios somam mais de 488 quilômetros quadrados de área devastada neste ano, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Ocupando o segundo lugar no ranking de desmatamento e o quarto no de queimadas em 2024, Apuí elegeu prefeito o fazendeiro Antônio Maciel Fernandes (MDB), autuado sete vezes por órgãos ambientais entre 1999 e 2022. As infrações foram motivadas por atos como derrubar ou danificar florestas em áreas de preservação, usar fogo sem autorização e instalar sem licença represas que alteram o regime dos cursos d'água. A eleição de nomes como Maciel está vinculada ao peso que atividades nocivas ao meio ambiente, como extração ilegal de madeira ou garimpos clandestinos, ainda têm na economia desses municípios.
Políticos e moradores dessas cidades costumam rechaçar os responsáveis pela fiscalização ambiental. Em agosto, uma operação conjunta da Polícia Federal, da Funai e do Ibama contra o garimpo ilegal no Rio Madeira resultou num violento confronto entre garimpeiros e agentes. No governo passado, ações contra o garimpo ilegal costumavam gerar romarias de prefeitos a Brasília para se queixar dos órgãos ambientais.
Na Amazônia, as atividades que deterioram o meio ambiente continuarão a contar com apoio de políticos e das populações locais enquanto os governos não oferecerem alternativas de produção sustentável. A dificuldade para retirar os milhares de garimpeiros ilegais que ocupam a reserva ianomâmi ilustra o problema. A despeito de seguidas operações com destruição de maquinários, eles sempre reaparecem. As cidades que enriquecem com o agronegócio produtivo e ambientalmente sustentável oferecem uma resposta apenas parcial à questão da Amazônia. A situação não mudará enquanto o enorme contingente ocupado nas atividades ilegais não for absorvido em projetos que assegurem renda e, ao mesmo tempo, garantam a preservação da floresta.
https://oglobo.globo.com/opiniao/editorial/coluna/2024/10/eleicao-na-am…
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