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EBX traz risco ambiental, aponta parecer

FSP, Dinheiro, p. B3
14 de Mai de 2006

EBX traz risco ambiental, aponta parecer
Instalação de siderúrgica em MS pode gerar desmatamento, diz especialista; grupo sofre proibição na Bolívia

EDUARDO DE OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA

O Eia-Rima (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) do projeto para a instalação da siderúrgica EBX em Corumbá (400 km de Campo Grande, MS) não especifica qual será a fonte do carvão vegetal a ser usado nos fornos que processam a purificação do minério de ferro. Isso deverá acelerar o processo de desmatamento no Pantanal.
A opinião é de Sônia Hess, pós-doutora em química e pesquisadora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), após análise do relatório. Ela emitiu parecer que auxilia as investigações dos Ministérios Públicos Estadual e Federal.
A pesquisadora afirma que a oferta de carvão vegetal de áreas de reflorestamento em Mato Grosso do Sul não dá conta do volume a ser consumido pela EBX, estimado pela empresa em cerca de 225 mil toneladas por ano.
Atualmente, a maior parte da produção de carvão é comercializada com siderúrgicas no Estado e de Minas Gerais.
Em novembro passado, a Folha publicou reportagem em que revelou que carvoarias ilegais avançam para dentro do Pantanal, derrubando a mata para transformá-la em carvão.
Segundo a ONG Conservation International, a vegetação de cerca de 16 mil km2 do Pantanal sul-mato-grossense havia sido desmatada até o ano retrasado (dado mais atualizado). Pelo ritmo, a organização concluiu que em 45 anos a cobertura florestal original da região terá desaparecido.
Outro problema no relatório apontado pela pesquisadora diz respeito à poluição atmosférica e seus efeitos sobre a saúde humana, da fauna e flora, numa área dentro do Pantanal.
Ela afirma que a EBX não especificou a quantidade de lançamento de óxidos de nitrogênio.

Falhas graves
Por último, Hess viu contradição em trechos que tratam do fornecimento de água para a usina.
Um dos tópicos registra que sairá da perfuração de poços artesianos, apesar de outro concluir que, "devido à pouca permeabilidade do solo argiloso, não foi encontrado lençol freático único".
"Minha análise demonstra que o Rima contém falhas graves, que inviabilizam uma real avaliação dos impactos ambientais e sociais associados à implantação do empreendimento", concluiu a pesquisadora no seu parecer.
No início de abril, o governo boliviano proibiu uma outra siderúrgica do grupo EBX, do empresário Eike Batista, de funcionar em Puerto Quijarro (a 15 km de Corumbá).
O governo Evo Morales alegou que a empresa não tinha licença ambiental e estava em território boliviano na faixa de 50 km da fronteira -infringindo o artigo 25 da Constituição do país.
Isso desencadeou uma greve que paralisou parcial ou totalmente 16 cidades na fronteira entre Bolívia e Brasil contra a expulsão da siderúrgica do vizinho e confronto entre favoráveis e contrários à decisão de Morales.
A instalação de uma siderúrgica no lado brasileiro conta com o apoio do governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, e do correligionário e prefeito de Corumbá, Ruiter de Oliveira. Corumbá é a principal cidade dentro do Pantanal sul-mato-grossense.
Há duas semanas houve a primeira audiência pública na cidade sobre o processo para a concessão da licença de instalação da usina. Na ocasião, ambientalistas disseram que foram hostilizados e que sofreram ameaças de simpatizantes e defensores do projeto.
Colaborou Hudson Corrêa, da Agência Folha, em Campo Grande

OUTRO LADO

Empresa diz que plantará eucalipto para obter carvão

DA AGÊNCIA FOLHA

O diretor de administração da EBX, Adriano Vaz, rebateu as afirmações de Sônia Hess e disse que as respostas para as questões que ela suscitou foram apresentadas na audiência ocorrida há cerca de dez dias. Declarou ainda que a versão do relatório analisada pela pesquisadora não é a atualizada.
A respeito do carvão, ele disse que a empresa irá comprar de fornecedores certificados no Estado. Ele declarou que a EBX terá condições de fechar contratos de longo prazo com carvoeiros, o que deverá fazer com que a produção que hoje é revertida para Minas Gerais fique em Mato Grosso do Sul.
Ele afirmou também que o governo já sinalizou com a possibilidade de forçar os carvoeiros a manter sua produção no Estado aumentando, por exemplo, a alíquota do ICMS àqueles que optarem por continuar vendendo para Minas Gerais.
Vaz declarou que o plano da empresa é plantar eucalipto na região dos municípios de Dois Irmãos do Buriti e Ribas do Rio Pardo para conseguir, num prazo de 15 anos, produzir todo o carvão utilizado pela siderúrgica.
Sobre a água, ele disse que foi encontrado um lençol freático a 150 m de profundidade que é capaz de prover 40 m3 por hora, "mais do que suficientes" para a empresa.

FSP, 14/05/2006, Dinheiro, p. B3

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