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É o melhor documento dadas as circunstâncias

O Globo, Especial, p. 4
Autor: ZUKANG, Sha
23 de Jun de 2012

É o melhor documento dadas as circunstâncias
Para secretário-geral da Rio+20, o acordo tem pontos positivos, como o estabelecimento do processo para a criação de metas de desenvolvimento sustentável

Entrevista: Sha Zukang.

Roberta Jansen
roberta.jansen@oglobo.com.br

O secretário-geral da Rio+20, o chinês Sha Zukang, fez uma análise positiva do documento final da conferência, tão criticado por não fixar metas nem meios de financiamento. Segundo ele, é a primeira vez que se fala oficialmente em economia verde e se estabelece um processo para os objetivos de desenvolvimento sustentável: "É o melhor documento dadas as circunstâncias". Sua única reclamação foi contra o trânsito do Rio: "Tivemos engarrafamentos gigantes".

O senhor acha que um documento final sem meios de financiamento e sem a definição dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é um bom resultado?

SHA ZUKANG: O objetivo da conferência, que era renovar o compromisso político com o desenvolvimento sustentável, foi alcançado. Esse era o único objetivo da conferência. Agora, de acordo com o resultado, todos os princípios passados, da Rio 92, da Agenda 21, incluindo o $responsabilidades comuns, mas diferenciadas, foram reafirmados. Está lá, preto no branco. Pela primeira vez na história da ONU, seus membros concordaram em estabelecer objetivos de desenvolvimento sustentável. Pela primeira vez concordamos que a economia verde é a ferra$para atingir o desenvolvimento sustentável. Concordamos em fortalecer o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). E em estabelecer os meios de financiamento e transferência de tecnologia. Por isso, eu discordo totalmente de quem diz que é um documento fraco. Está tudo lá.

Qual será o legado da Rio+20?

ZUKANG: O legado da conferência é vasto. Tivemos um documento histórico. A participação de quase 500 mil pessoas. Uma vasta participação da sociedade civil e de cem chefes de Estado. Se as pessoas mudarem suas maneiras de pensar e passarem a agir de forma diferente como resultado da conferência, esse é um grande legado. Porque estamos muito acostumados a um estilo de vida insustentável.

É difícil ter acordos mais ambiciosos sob esse modelo de negociação da ONU? O senhor acha que o modelo deveria ser revisto?

ZUKANG: A ONU é a mais representativa e com mais autoridade organização intergovernamental do mundo. O papel da sociedade civil nunca esteve tão forte e tão presente. Vantagens da ONU: universalidade, representatividade, autoridade. A Rio+20 é uma conferência da ONU. Seu documento é político. Os políticos se comprometeram com o que foi acertado aqui. Muita coisa se transforma em ações legais. Não há como dizer que a ONU é fraca, não concordo. Mas te$muito países. Todos eles são diferentes, cada um com suas prioridades. Chegar a um acordo é muito difícil. Mas nós fomos bem-sucedidos desta vez, é uma vitória importante. É claro que depende de como se olha para isso. Talvez não seja o melhor acordo, mas é o melhor dadas as circunstâncias. Não é o melhor para cada um, mas é o melhor para todos. Meu critério para melhor documento é aquele que faz todo mundo igualmente infeliz, o que significa também dizer que todo mundo está igualmente feliz. Isso significa o melhor. Isso é negociação. Queria agradecer ao Brasil, à cidade do Rio, ao povo do Rio, muito amável. Claro que tivemos engarrafamentos gigantes, mas tiveram de construir uma grande infraestrutura em pouco tempo, entendo isso, entendo os problemas, mas acredito que vá melhorar no futuro. Os brasileiros têm 100% de motivos de estarem orgulhosos com a conferência.

O Globo, 23/06/2012, Especial, p. 4

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