VOLTAR

'É muita terra para pouco índio' vira o bordão

Estado de S. Paulo-São Paulo-SP
01 de Mai de 2005

Estimulada pela propaganda bancada por empresários, população se diz contra decreto

BOA VISTA - Editado e publicado de surpresa, o decreto homologatório causou confusão tão grande que, à exceção das entidades indigenistas e comunidades a elas ligadas, é difícil encontrar alguém que esteja a favor. Mesmo sendo fato consumado, em Boa Vista há uma condenação quase unânime à decisão do governo. Estimulados pela propaganda bancada por empresários e produtores rurais, a população já assimilou velhos bordões como "é muita terra para pouco índio". Os especialistas apontam erros que consideram básicos no processo de homologação: o governo ignorou que os índios que vivem na Raposa Serra do Sol - à exceção dos ingarakós - já estão em fase adiantada de aculturação; deixou de lado a opinião das lideranças macuxis que são contrárias ao projeto do governo; e anunciou a portaria sem antes esgotar negociações com os arrozeiros. Há também forte controvérsia em torno dos laudos antropológicos, que apontavam pelo menos três tamanhos de áreas diferentes, todas elas menores que os 1,747 milhão de hectares homologados.

Ocupando de forma legal ou ilegal as terras da reserva, os arrozeiros formam um grupo poderoso e estridente. "O conflito está longe de terminar. Há sérios riscos de derramamento de sangue entre os próprios índios", alerta o juiz Alcir Gursen de Miranda, que coordenou o trabalho de um grupo misto, encarregado de elaborar um parecer que abordasse amplamente a questão. O decreto de Lula nem levou em conta o resultado, que sugeria a manutenção, em formato de ilhas, das três comunidades e os arrozais, numa faixa estimada em cerca de 100 mil hectares.

Nas áreas dos arrozais a vida segue indiferente ao decreto do governo: a terra está sendo arada para receber novas sementes, áreas com arrozal recebendo os jatos de venenos lançados pelos teco-tecos. Em outros locais, plantações já estão prontas para a colheita.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.