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É importante, mas não prioritário

CB, Brasil, p. 15
23 de Mai de 2006

É importante, mas não prioritário
Pesquisa aponta que o brasileiro sabe mais sobre os problemas da biodiversidade do país, mas coloca em 12o lugar na lista de temas importantes o cuidado com a natureza

Hércules Barros
Da equipe do Correio

A consciência ambiental dos brasileiros cresceu nos últimos 15 anos. Neste período, aumentou em 30% o conhecimento sobre os problemas com a biodiversidade do país. Antes, os brasileiros só relacionavam o meio ambiente aos animais e plantas. Hoje, relacionam também às questões que envolvem o seu bem-estar e o dia-a-dia, como coleta de lixo e o saneamento básico. Mas, apesar de 70% da população considerar a natureza "sagrada", o meio ambiente não é prioridade.
Configura em 12o lugar em uma lista de 14 principais problemas do Brasil. A constatação é da pesquisa O que os brasileiros pensam sobre a biodiversidade, divulgada pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser). O estudo foi apresentado ontem, Dia Internacional da Diversidade Biológica, durante o anúncio de medidas do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para a preservação e o combate à extinção de espécies da biodiversidade do país.
Desde 1992, a pesquisa é realizada de quatro em quatro anos. A edição divulgada este ano ouviu 2,2 mil pessoas acima de 16 anos nas cinco regiões do país. Os resultados foram divididos em amostragens regionais. O número maior de pessoas que responderam ao estudo foi no Sul e Sudeste. As regiões juntas somam 864 dos abordados pela pesquisa. A margem de erro para os resultados por região é de 5%.
O trabalho funciona como uma espécie de painel de temas ambientais no Brasil. Revela dados de como é a disposição dos brasileiros para ajudar a resolver os problemas identificados e traz uma avaliação das organizações ambientalistas em relação aos hábitos de consumo da população. "Desde a primeira pesquisa (em 1992) temos mais de 70% da população afirmando a sacralidade da natureza, mas a gente nota que houve um ligeiro decréscimo de como o ser humano pode interferir nela", afirma a coordenadora da pesquisa, Samyra Crespo, diretora-executiva do Iser.
Abrir a mão para a natureza é uma das dificuldades da população entrevistada pela pesquisa. Apenas 26% estão dispostos a contribuir financeiramente com a causa. Segundo Samyra, os brasileiros são muito reativos a pagar imposto ou a comprar produtos mais caros porque sejam ecologicamente corretos. "Mas estão mais dispostos a assinar abaixo-assinados ou trabalhar como voluntários", pondera.
Preservação
A destruição das florestas foi apontada como um problema muito grave para o Brasil por 76% dos entrevistados. Se fossem escolher um projeto, 38% deles doariam recursos para as ações de preservação da Amazônia. Desmatamento e queimadas aparecem como o principal problema ambiental do Brasil (65%), seguido de poluição/contaminação de rios, lagos e lagoas (43%).
Para a ministra Marina Silva o trabalho do ministério na conservação das florestas explica a atenção das pessoas com o tema. Presente à divulgação dos dados, a ministra citou operações da Polícia Civil e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) como ações que ajudam a sensibilizar a sociedade. "O desmonte de mil empresas e a desarticulação de verdadeiras quadrilhas faz com que a população tenha uma percepção bem maior do problema."
Embora haja desequilíbrio entre a consciência e a prática ambiental, aumentou o número daqueles que identificam problemas relacionados ao meio ambiente. "Em 1992, cerca de 47% das pessoas entrevistadas disseram não ter problema ambiental ou não souberam opinar. Esse número baixou para 14%, em 2006", contabiliza.
Entre 1992 a 2006, o período mais significativo de crescimento de uma consciência ecológica foi nos últimos quatro anos. "Desconheço um país na América Latina que tenha evoluído tanto em relação à questão", diz Samyra. Quanto ao aprofundamento dos temas relacionados à biodiversidade, a pesquisa mostra aumento no domínio das pessoas sobre assuntos específicos. Pouco mais de 40% já ouviram falar em biodiversidade e 62%, em transgênicos. Dos entrevistados, 61% souberam responder o que significa o conceito de área protegida e apontaram a proteção às espécies vivas de determinada região, como principal função dos bolsões verdes.
Na lista dos 10 primeiros problemas urbanos citados espontaneamente pelos entrevistados, quatro são uma ameaça ao meio ambiente: falta de rede de esgoto e saneamento básico, de coleta de lixo, de limpeza das ruas e dos terrenos baldios, de tratamento de água; enchentes, ruas alagadas e inundações. "Na hora de detectar as necessidades de onde moram, as pessoas não relacionam meio ambiente aos problemas citados", diz Samyra.

CB, 23/05/2006, Brasil, p. 15

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