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Doze reservas indígenas ameaçadas

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: MARIA ANGÉLICA OLIVEIRA
24 de Abr de 2004

Extração ilegal de madeira penaliza os índios, danifica o ambiente e gera situações de possível conflito

O administrador regional da Funai em Cuiabá, Ariovaldo José dos Santos: a atividade clandestina é tolerada

Pelo menos doze terras indígenas em Mato Grosso estão ameaçadas pela ação de madeireiros. O levantamento foi feito nas dez administrações regionais da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Mato Grosso.

As situações mais críticas são relatadas nas regionais de Campinápolis, Cuiabá e Tangará da Serra. "Estão acabando com a reserva Ubauaué", relata um funcionário da regional de Campinápolis. Segundo ele, a área, que conta com quase 7 mil xavantes, já está sendo derrubada em sua quarta parte. As madeiras mais procuradas são aroeira, jatobá, angico e ipê. A situação vem de tempos. "Desde que estou aqui, há cinco anos, é assim. Os madeireiros vêm, entram em contato com os caciques e eles acabam permitindo porque é um dinheirinho que chega", diz.

Não se tem a noção exata do impacto ambiental nas 55 terras indígenas do Estado, que somam 12% do território mato-grossense. O corte desordenado de árvores acaba camuflando o desmate nas imagens de satélite porque muitas vezes a derrubada acontece em pontos espalhados.

"Temos caminhado com a omissão do governo federal, estadual e das prefeituras de não enfrentar o fato de que isso acontece, até mesmo com o consentimento dos índios. A atividade clandestina é tolerada pelo governo brasileiro e pelos municípios que não precisam investir. A madeira é extraída, regularizada nas serrarias e o Estado ganha ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços)", revela o administrador regional da Funai em Cuiabá, Ariovaldo José dos Santos.

O administrador defende a idéia de que é possível trabalhar a floresta de uma forma economicamente sustentável, que gere algum tipo de renda para os índios. Porém, como a situação não é organizada, acabam prevalecendo a exploração e a devastação. "Os contratos de arrendamento pagam dez sacas por hectare mas os fazendeiros oferecem três para os índios", conta.

Outra situação observada em Mato Grosso é a pressão das grandes propriedades monocultoras nos áreas indígenas. Muitas terras ficaram "ilhadas" por causa da monocultura de soja, cana ou algodão. Com a proximidade, os arrendamentos são feitos e surgem as lavouras mecanizadas - o que pode acabar trazendo devastação das florestas e dos mananciais pelo uso de agrotóxicos. "Ainda não é alarmante, mas é preocupante", opina Ariovaldo.

Para ele, é possível tentar reverter a situação para algo positivo para os índios, na produção de alimentos que fazem parte da dieta indígena e que geralmente têm de ser comprados. "É preciso trabalhar a inclusão sócio-econômica dos índios. A roça mecanizada pode ser transformada em plantio de produtos voltados para eles".

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