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Doença misteriosa mata 13 índios

CB, Brasil, p. 19
06 de Ago de 2004

Doença misteriosa mata 13 índios
Indígenas de seis etnias do Vale do Javari, no Amazonas, estão sendo vítimas de enfermidade ainda desconhecida. Os principais sintomas são febre alta, corpo e olhos amarelados e vômito com sangue

Ullisses Campbell
Da equipe do Correio

O Fundação Nacional de Saúde (Funasa) iniciou uma investigação epidemiológica para descobrir que tipo de doença está dizimando índios de cinco etnias do Vale do Javari, no Amazonas. Desde o ano passado, 13 índios morreram depois de contraírem uma febre muito forte que deixa o corpo e os olhos amarelados. A doença foi batizada de Síndrome Febril Ictéria Hemorrágica Aguda (Sfiha) e tem ainda como sintoma vômito com bastante sangue.
Como o Vale do Javari está numa região endêmica para a hepatite B, essa doença é apontada por médicos da Funasa e da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas como uma das principais causas da síndrome. No entanto, exames feitos em alguns índios que morreram com Sfiha deram positivos para malária e leptospirose, deixando as autoridades em saúde ainda mais confusas. ''Por enquanto, qualquer uma dessas doenças pode ser a causadora da síndrome'', diz a infectologista Maria Paula Gomes Mourão, da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas.
Segundo a coordenadora de operações do Departamento Nacional de Saúde Indígena da Funasa, Marília Rocha, o governo não descarta a possibilidade de uma arbovirose (vírus que se dissemina na floresta) nova e desconhecida na região do Vale do Javari. O Instituto Evandro Chagas, no Pará, está investigando amostras de sangue de índios que morreram de causa desconhecida para atestar se realmente se trata de um arbovírus novo.O Vale do Javari tem 3,8 mil índios e boa parte deles vive isolado. Para imunizá-los contra a hepatite B, a Funasa vai começar ainda neste mês uma campanha de vacinação.

Funasa leva a culpa
O coordenador do Conselho Indígena do Vale do Javari, Jorge Oliveira Morubo, culpa a Funasa pelo avanço das doenças nas aldeias do Amazonas. Segundo ele, o órgão do governo federal não desenvolve ações eficazes para prevenir e combater doenças, como a hepatite B. No mês passado, dezenas de índios chegaram a ocupar o prédio da Funasa no município do Atalaia do Norte. Queriam que o Ministério da Saúde afastasse a chefe do órgão, Cleidiana Rodrigues. O pedido foi negado.
Jorge Morubo acusa ainda a Funasa de omitir o número de índios que estão contaminados com hepatite B. ''É impossível a gente divulgar esse número agora, porque os relatórios mais recentes não foram concluídos'', diz Marília Rocha, da Funasa. Em 213 amostras de sangue de índios morubos coletadas no mês passado, 185 foram reagentes para hepatite B. Isso significa que 89% deles já tiveram contato com o vírus da doença. Além disso, 18 das 213 amostras foram positivos para a Sfiha. ''Só que ainda faltam outros resultados'', diz Marília.
Contágio
A hepatite B é um problema sério em toda a região Norte, principalmente entre os povos indígenas que passaram a ter contato com brancos recentemente. Em seis meses de 2001, seis índios morreram com a doença. No ano passado, morreram mais cinco, segundo a Secretaria de Saúde do Amazonas.
A maioria dos índios que morrem com hepatite contrai a forma mais aguda da doença. O tipo B dessa doença é causado por vírus que se aloja no fígado. Quando o sistema de defesa imunológico reage, acaba destruindo as células hepáticas e levando a pessoa à morte. (UC)

CB, 06/08/2004, Brasil, p. 19

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