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Do clima à demografia, os desafios para os brasileiros

O Globo, Economia, p. 18
Autor: LEITÃO, Miriam
03 de Ago de 2015

Do clima à demografia, os desafios para os brasileiros
Novo livro de Míriam Leitão discute caminhos para o futuro do país

Danielle Nogueira

RIO - Qual o caminho que o Brasil tem de percorrer para ser o país que quer ser? Esta é a pergunta que norteia a reflexão feita pela jornalista Míriam Leitão em seu novo livro, "História do futuro: o horizonte do Brasil no século XXI". Ao olhar o passado e o presente, a autora busca lançar luz sobre o período por vir, para que a nação faça as suas escolhas sobre como caminhar daqui para frente sem desperdiçar o potencial brasileiro.
Míriam parte da convicção de que, apesar dos tropeços do passado e da crise atual, o país tem projeto. Ao longo das últimas décadas, foram formados consensos em torno de objetivos que fizeram o Brasil chegar aonde chegou. O primeiro foi a redemocratização. O segundo, a estabilização da moeda. O terceiro, a inclusão social. Os três movimentos precisam ser aperfeiçoados, diz, mas são conquistas nas quais não veremos retrocessos.
As escolhas a serem feitas também vão girar em torno de três eixos: demografia, clima e tecnologia. É na seara das mudanças climáticas que reside o maior potencial para o Brasil ousar e crescer. Míriam cita dados que permitem enxergar o Brasil como líder na resposta ao desafio do aquecimento global. Alguns deles: há 18 países que têm 70% da biodiversidade do planeta, e o Brasil é o maior deles.
- Quando se olha para o século XXI, o que ele vai pedir? Biodiversidade. O Brasil é G-1 em biodiversidade. Tem de assumir a posição de potência ambiental. Temos de ser ousados nas metas de redução do desmatamento e almejar o desmatamento líquido zero, não o desmatamento ilegal zero. Não se pode pedir tempo para cumprir a lei - afirma.
EDUCAÇÃO, TAREFA PRIMORDIAL
A mudança climática trará restrições para os grandes produtores de alimentos, como Brasil e Estados Unidos. A transição para a economia de baixo carbono igualmente criará desafios para o crescimento, visto que vai demandar o uso de energias menos poluentes. De novo, o Brasil tem a herança como sorte e está pronto para oferecer soluções. O país tem sol o ano todo, e a Embrapa já sabe desenvolver sementes resistentes a estresse hídrico e calor.
Para encontrar essas e outras respostas, Míriam leu relatórios, vasculhou sites e entrevistou, ao longo de quatro anos, dezenas de profissionais - teve a ajuda dos jornalistas Álvaro Gribel, Valéria Maniero e Débora Thomé. Foi numa dessas conversas que se deparou com uma situação inusitada: o século XXI será o primeiro em que o Brasil vai diminuir. Em algum ponto entre 2035 e 2042, a população vai começar a encolher. E envelhecer.
Isso cria demanda imediatas. Na saúde, os gastos terão de aumentar, pois haverá mais velhos, e os tratamentos serão mais complexos. Mas não adianta apenas gastar mais. É preciso gastar melhor. Na educação, que Míriam classificou como a maior e a mais complexa tarefa, os gastos também tendem a aumentar. Serão menos crianças alimentando a pirâmide populacional, mas a demanda por educação mais sofisticada exigirá mais despesas.
AUMENTO DA CARGA TRIBUTÁRIA
Na economia, igualmente, o envelhecimento da população traz implicações. Uma das mais nítidas é a necessidade de uma reforma na Previdência, afirma a autora, o que significa também a revisão do conceito de velhice e uma mudança cultural que leve os jovens a poupar.
- Temos de rever políticas públicas e corporativas. Não é possível uma pessoa aos 60 anos com PhD não arrumar emprego. Não podemos desperdiçar talentos - afirma a autora, que aos 62 anos toma a si mesma como exemplo. - Nunca fui tão produtiva, nunca acumulei tanta sabedoria.
A jornalista também alerta para que o país não retroceda nas conquistas tecnológicas e científicas, seja na expansão da banda larga ou no avanço da genômica. Com a velocidade das mudanças nessas frentes do conhecimento, criar reservas de mercado - como na antiga Lei de Informática - pode deixar o Brasil à margem dessa revolução global.
Com 495 páginas, "História do futuro" é o sétimo livro de Míriam. De certa forma, é uma continuidade de "A saga brasileira", lançado em 2011 e no qual a autora se debruça sobre o passado, para entender como o país conseguiu domar a inflação. Embora o novo livro seja mais abrangente, há um capítulo dedicado à economia, em que se percebe uma clara "contaminação" do momento presente.
Nele, Míriam diz que a presidente Dilma Rousseff foi leniente com a inflação e lembra os truques fiscais. Frisa que as medidas anticíclicas tomadas para enfrentar a crise de 2008 duraram tempo demais e que estamos pagando caro por isso.
- A trajetória de despesas obrigatórias do governo é insustentável. Desde o início da estabilização, a carga tributária subiu em dez pontos percentuais, independentemente de quem estava no poder. É da natureza do animal. Chegou a hora de parar de tirar dinheiro da sociedade.
CORRUPÇÃO, MAL A COMBATER
E é preciso prestar contas à sociedade. Os episódios do mensalão e da Operação Lava-Jato mostram como é fundamental criar mecanismos de controle e transparência. O combate à corrupção, diz Míriam, é certamente um novo consenso em torno do qual os brasileiros vão se unir.
O livro é rico em histórias reais, de pessoas que vão ajudar a escrever o futuro. Como a cardiologista Lilian Paula de Souza, que, apesar de ter nascido na classe média, confessa ter sido vítima de preconceito por ser negra. Uma prova cabal de que a desigualdade caiu, mas que o aperfeiçoamento da inclusão social passa pelo combate ao preconceito. O que Míriam propõe é que os brasileiros se livrem das amarras do presente e caminhem em direção ao futuro.
A obra chega às livrarias hoje, mas será lançado na quinta-feira, na Livraria Saraiva do Shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo. Haverá lançamentos no Rio (dia 12, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon) e em Brasília (dia 20, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi). O preço sugerido é de R$ 49,90, e o e-book custa R$ 24,90.

O Globo, 03/08/2015, Economia, p. 18

http://oglobo.globo.com/economia/do-clima-demografia-os-desafios-para-o…

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