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Diversidade indígena

O Liberal-Belém-PA
19 de Abr de 2005

Dia do Índio, comemorado hoje, é marcado em Belém por vários eventos artísticos que chamam a atenção para a riqueza cultural das etnias da região Amazônica

O território paraense abriga, atualmente, 39 povos indígenas, com uma população de aproximadamente 25 mil pessoas, que vivem em 42 regiões do Estado. Toda essa diversidade cultural é foco de várias programações alusivas ao Dia do Índio, comemorado hoje. De exibição de vídeos a exposições, há programações tão variadas quanto diversas são essas etnias.

No Espaço São José Liberto (Pólo Joalheiro) a programação já está sendo realizada desde domingo, quando foi aberta a mostra de arte indígena "Nossas Raízes", organizada pela Casa do Artesão. A curadoria é do arte-educador Vítor Matos, que foi buscar no acervo do pesquisador autônomo Robinson Silva as peças para compor a exposição.

"Pelas minhas estimativas tenho de mil a mil e duzentas peças, que recolho sempre em viagens. Faço isso de forma autônoma, não sou vinculado a nenhum projeto específico e acabei reunindo materiais de variadas etnias e tipologias com a intenção de desenvolver ações educativas em escolas. Costumo mostrar através da arte a diversidade cultural dos índios", explica o pesquisador.

O pesquisador pretende mostrar que adornos como máscaras, plumárias, armas, utensílios domésticos como cestarias, instrumentos musicais e imagens podem apresentar uma estética e poesia que remontam a um primitivismo comum, mas que apresentam essências completamente identificadas com cada um dos troncos étnicos. Em "Nossas Raízes", por exemplo, é possível identificar as características peculiares de arcos e flechas de índios kaiapó e xavante. "Apesar de terem a mesma função, têm modelos artísticos completamente diferentes", destaca.

A exposição permanecerá aberta à visitação até o dia 22. E o público ainda terá a oportunidade de conhecer os grafismos indígenas que Vítor Matos, também artista plástico, utiliza como referência em suas telas. Vítor ministrará ainda a "Oficina de Grafismo Indígena, uma possibilidade para que, quem trabalha com jóias e artesanato, busque referências que vão ajudar a desenvolver melhorias nos produtos. Está programada ainda a palestra "Diversidade Étnica, Lingüística e Cultural: Povos Indígenas do Pará", com a antropóloga Romélia Julião, da Secretaria Executiva de Educação (Seduc), e apresentações artísticas.

Amanhã, a partir das 18 horas, a Tribos Ballet Teatro, dirigida pelo coreógrafo Maurício Quintairos, apresenta o espetáculo "Tribos", enquanto no próximo domingo, às 18 horas, será apresentado o espetáculo "Ritual Indígena", da Escola de Dança Clara Pinto.

Pintura - A Fundação Nacional de Saúde exibe, em sua sede regional, outra exposição alusiva ao Dia do Índio, composta não só por artesanatos típicos dessa cultura, mas também desenhos e pinturas sobre papel produzidos por índios alojados na Casa de Saúde do Índio (Casai), em Icoaraci, que vieram à capital em busca de tratamento de saúde juntamente com seus acompanhantes.
"Muitos índios que estavam em Belém fazendo tratamento de saúde ficavam ansiosos em querer voltar para a aldeia. Discutimos muito sobre o que fazer para melhorar esse mal estar de ficar longe de casa e aí decidimos ocupar o tempo deles com terapia artística. O resultado foi fantástico", comemora Rosymary Teixeira, coordenadora regional da Funasa.

Rosymary explica que eles constumam praticar a pintura corporal, mas a pintura sobre tela e papel é novidade para muitos deles. O coordenador do projeto foi Pituku Waiãpi, índio tetraplégico cuja produção em artes plásticas acabou se tornando uma referência local. A exposição está aberta ao público sempre à tarde e os próprios índios-artistas de etnias como kaiapó, assurini e tembé estarão à disposição para conversar com o público sobre seus processos criativos. Escolas também podem agendar visitas.

Documentário - O Instituto de Artes do Pará (IAP) apresenta hoje, dentro do projeto "Do Comentário", o vídeo "Programa de Índio", às 19 horas. Realizado por Caíto Martins e Adalberto Júnior, o documentário com aproximadamente 30 minutos é uma espécie de relato do encontro da dupla com as etnias xikrim, assurini, kararaô, arara, tembé, mundurucu e guajá.

O documentário mostra o cotidiano e a difícil realidade destes índios. Algumas gerações mantêm contato com populações urbanas e rurais há mais de 400 anos, outras há apenas dez anos. Caíto e Adalberto avaliam o que mudou nestes anos, como vivem e como esses povos reagem à cultura dominante das outras populações. Depois da sessão, os realizadores vão bater um papo com a platéia.

SERVIÇO:

A exposição "Nossas Raízes" fica no Espaço São José Liberto (Praça Amazonas) até o dia 22 deste mês. Na Funasa (Av. Visconde de Souza Franco, 616), a exposição fica aberta até sexta-feira, de 15 às 17h. O Projeto "Do Comentário" apresenta hoje o documentário "Programa de Índio", às 19h, no teatrinho do IAP (Praça Justo Chermont, ao lado da Basílica). Informações: 4006-2912. Todas as programações têm entrada franca.

Línguas ameaçadas de extinção

Com apenas 40 falantes, a língua indígena parkatêjê sofre ameaça de extinção. Em situação ainda mais preocupante encontra-se a língua anambé, que é falada por apenas cinco pessoas. A urgência em salvar essas e outras línguas em situação similar tem mobilizado um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), que desenvolveu o projeto "Documentação, descrição e preservação de línguas indígenas amazônicas ameaçadas de extinção", contemplado com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Cultural, na classificação de patrimônio imaterial da cultura brasileira.

O parkatêjê será tema da palestra da pesquisadora Marília Ferreira, que estuda essa língua desde 2000. Ela vai tratar da realidade em que se encontram os falantes, localizados numa área a 30 km de Marabá, e sobre como o projeto pretende preservar essa cultura falada. Segundo ela, existem estudos que apontam que as línguas indígenas eram duas mil à época da chegada dos colonizadores portugueses e hoje somam cerca de 180.

O estudo do parkatêjê é um dos mais antigos na UFPA e soma 30 anos de pesquisa. Já em 1989, a pesquisadora Leopoldina Araújo apresentou um vocabulário preliminar com 500 palavras. Os estudos prosseguiram e a universidade dispõe hoje de um registro de três mil vocábulos.

O projeto de preservação das línguas indígenas é coordenado pelo Laboratório de Linguagem da UFPA e prevê a produção de dicionários bilíngües para as línguas anambé, apurinã, makurap, parkatêjê e xipaya, além de um vocabulário semântico bilíngüe para a língua asuriní, do Xingu. A maioria desses idiomas tem um número pequeno de falantes. Daí a urgência em se registrar, documentar e difundir o conhecimento delas. O trabalho dos pesquisadores inclui ainda visitação periódica aos grupos falantes e conscientização desses indígenas sobre a necessidade de manter o uso da língua entre si.

SERVIÇO:

Palestra sobre o projeto "Documentação, descrição e preservação de línguas indígenas amazônicas ameaçadas de extinção", da Universidade Federal do Pará. Hoje, às 9 horas, no Centro de Letras e Artes da UFPA (Guamá). Entrada franca.

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