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Dinheiro tem, faltam hidrelétricas

OESP, Economia, p. B5
24 de Jan de 2007

Dinheiro tem, faltam hidrelétricas
Novo leilão de usinas só deve ocorrer em dois anos, após estudos de viabilidade das bacias hidrográficas

Renée Pereira

Para pôr em prática os planos de expansão do setor elétrico, previsto no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo terá de resolver um problema que já afeta os investidores: a falta de hidrelétricas para leiloar. Muitas das usinas incluídas no plano ainda estão em fase de estudo de inventário hidrelétrico. Depois desse estudo, é hora do licenciamento ambiental, processo que tem sido bastante complexo no Brasil e desestimulado muitos investimentos.

Em entrevista concedida ao Estado, em dezembro, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, reconheceu que novos estudos de viabilidade das hidrelétricas só devem ficar prontos em dois anos. Segundo ele, nesse período não haverá licitação de novas hidrelétricas, à exceção das usinas do Rio Madeira (Santo Antônio, em 2007, e Jirau, em 2008). Ele explica que o processo de inventário dos rios ou bacias, de avaliação ambiental integrada (AAI) e dos estudos de viabilidade econômica e técnica demoram cerca de três anos. Apenas depois disso é possível leiloar os empreendimentos.

A falta de usinas já está sendo sentida por empresas como Energias do Brasil, Suez e indústrias eletrointensivas, que estão com dinheiro em caixa para investir e com a carteira de projetos praticamente vazia. São bilhões de reais estocados,que poderiam gerar muitos MWs de energia.

A preferência da maioria dos investidores é pelas hidrelétrica de médio e grande portes. Mas, na falta de projetos, os empreendedores já pensam em alternativas para ampliar sua produção. Entre as opções estão as térmicas a carvão e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), de até 30 MW. Usinas de biomassa também chamam a atenção, mas são projetos futuros.

'Há várias empresas no setor, com grande capacidade de negócios, que não estão investindo por não ter projeto', afirma António Martins, diretor-presidente da Energias do Brasil, do grupo português EDP. Segundo o executivo, a empresa teria cerca de US$ 1 bilhão para investir de uma só vez em empreendimentos brasileiros, de preferência em parceria com outras empresas.

A companhia inaugurou em dezembro a Hidrelétrica Peixe Angical, de 425 MW, construída com a estatal Furnas Centrais Elétricas. Em 2006, a empresa investiu no País R$ 750 milhões e cerca de R$ 2 bilhões em 2004 e 2005. Hoje a empresa tem apenas a PCH São João, de 25 MW, em construção. A intenção é iniciar ainda este ano as obras da PCH Santa Fé, de 29 MW. Mas é pouco para o tamanha do grupo.

'Nossa visão é que precisaremos de térmicas. Por isso, iniciamos estudos para a construção de uma térmica a carvão', afirma Martins, afastando a possibilidade de a empresa disputar o complexo hidrelétrico do Rio Madeira. Para ele, em megaprojetos como esse o tempo de retorno do investimento é muito longo e os problemas ambientais, enormes.

Outra companhia que também sente a redução da oferta de hidrelétricas é a Suez Energy, que controla a Tractebel - a maior geradora privada do País com 8% da produção nacional. Hoje a empresa tem dois projetos em andamento: São Salvador (241 MW e investimentos de R$ 800 milhões) e Estreito (1.087 MW e R$ 3 bilhões de investimentos).

Para o grupo, só interessa usina com capacidade instalada acima de 100 MW. 'Estamos entrando numa entressafra. Temos dinheiro, mas falta oferta de projetos', avalia o presidente da Suez, Maurício Bähr. A exemplo da Energias do Brasil, a companhia também está à procura de térmicas a carvão para alocar o dinheiro disponível.

Ele afirma que o País precisa investir muito para abastecer os 4% ou 5% de aumento anual de consumo. 'Caso contrário o setor vai parar.' Os autoprodutores também anunciaram que têm R$ 3 bilhões por ano para investir em novos projetos.

Custo não muda para consumidor

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, disse ontem que as medidas de desoneração do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) devem provocar uma redução do custo da geração de energia no País entre 10% e 18%, dependendo do tamanho do projeto.

O grande problema é que os novos empreendimentos que serão construídos no País são caros. Um exemplo são os megaprojetos hidrelétricos, Madeira e Belo Monte, que o governo pretende leiloar. A transmissão de energia do Norte para o Sudeste é caríssima, afirma o vice-presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace). Mas ele admite que a desoneração feita pelo governo ameniza a situação. Outros especialistas lembram que, além dos novos projetos, o principal ponto que poderia reduzir o custo da energia para o consumidor não foi mexido. Trata-se da carga tributária, na casa de 43,7%.

OESP, 24/01/2007, Economia, p. B5

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