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Dilma chama Blairo, mas PR, 'magoado', faz suspense

O Globo, O País, p. 3
08 de Jul de 2011

Dilma chama Blairo, mas PR, 'magoado', faz suspense

Maria Lima, Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut

Com o veto da cúpula do PR à efetivação do ministro interino dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, a presidente Dilma Rousseff viu dificultada sua intenção de fazer uma limpeza maior no setor e decidiu inverter a tática, chamando pessoalmente o senador Blairo Maggi (PR-MT) para saber se ele estaria disposto a assumir o cargo. Na conversa, Dilma disse que Blairo teria que assumir com autoridade para estancar a crise no PR, provocada pela saída do colega Alfredo Nascimento.
Titular no cargo também no governo Lula, Nascimento foi forçado a pedir demissão anteontem, após a divulgação, pela "Veja", de denúncias sobre um esquema de cobrança de propina no ministério, além das investigações sobre o patrimônio de seu filho, reveladas pelo GLOBO. Blairo, receoso, pediu tempo para analisar se aceita o cargo, alegando que a função pode ser incompatível com sua condição de megaempresário do setor agrícola.
O agrado a Blairo foi visto como sinal para que ele "segure" o diretor do Dnit, Luiz Antonio Pagot, envolvido nas denúncias de irregularidades, mas que ameaça sair atirando contra o governo. Se Blairo não aceitar, Dilma usará a negativa para tentar novamente emplacar Passos, que é filiado ao PR desde 2010, mas não é político tradicional nem pessoa de confiança do partido. O PR está armado para se manter à frente da pasta, e seus líderes dizem que têm "pelo menos outros dez nomes" a oferecer à presidente.
Na primeira reunião da comissão formada no PR para negociar com Dilma o nome do substituto de Alfredo Nascimento, Blairo perguntou aos colegas o que achavam, mas antecipou que tinha dificuldade para aceitar.
- O partido gosta muito do nome dele pela sua boa ligação com a presidente Dilma. Mas ele tem dificuldade de aceitar. Tem uma empresa com cinco mil funcionários, contratos com o governo, com o BNDES, Marinha. Está consultando a família. O PR não fechou questão, mesmo porque tem outros nomes, mas o dele é excelente - disse o líder do PR, deputado Lincoln Portela (MG).
Blairo não deve se decidir esta semana
A comissão é formada pelo próprio Blairo, Portela e o líder no Senado, Magno Malta (ES). Presente à reunião - embora sua assessoria tenha informado na véspera que ele teria embarcado para Manaus -, Nascimento disse que nem ele nem o secretário-geral do partido, deputado Valdemar Costa Neto, querem participar da escolha de seu substituto.
Entre outros nomes do PR para o ministério, os dirigentes citaram dois: os deputados Luciano Castro (RR) e Jaime Martins (MG). A expectativa é que nada seja definido ainda esta semana, segundo Lincoln Portela:
- O próximo passo agora é ir para casa, esfriar a cabeça e digerir isso.
De manhã, Blairo declarou, em entrevistas, que o desmanche do comando do Dnit e do Ministério dos Transportes deixou muita gente magoada no partido e acenou com a possibilidade de rompimento com o governo. Ele foi o parlamentar que mais se irritou com a queda de seu apadrinhado Pagot - Dilma determinou o afastamento de Pagot, mas ele, para evitar a formalização da decisão, entrou de férias.
- O PR acabou de sair de um posto importante, tem bancada de 40 deputados e sete senadores. Precisamos ouvir se querem continuar na base, se querem continuar a defender o Ministério - disse Blairo. - Tem muita gente que ficou magoada. Vou defender a continuidade. Fui companheiro da presidente Dilma desde o início, defendi, fui a palanques. Somos responsáveis pelo governo, e nos solavancos é que precisamos dar o suporte.
Lincoln Portela disse que o nome de Blairo é "o mais cotado":
- Ele disse que está fazendo avaliação se pode ou não ser ministro. Tem um envolvimento empresarial com o governo.
O líder do PR disse que não há "resistência" a Paulo Sérgio, mas afirmou que há outras preferências:
- Vamos crucificar uma pessoa antes de qualquer julgamento?
Blairo descartou, delicadamente, a indicação de Passos:
- Precisamos discutir isso internamente e, se a decisão do partido for de apoiá-lo, não há problema nenhum. Mas não existe essa determinação e, ainda, não existiu essa discussão.
A conversa de Dilma com o senador matogrossense ocorreu na noite de anteontem, e caso ele tivesse dado sinalização positiva, teria sido anunciado como o novo ministro. Ontem, enquanto consultava colegas do partido, chegou a ser alertado que poderia se transformar na "bola da vez", principalmente por causa de suas relações com Pagot, que já começa a ser chamado no PR de "homem bomba".
Diante do cenário de incerteza política, Blairo foi aconselhado a esperar uma semana para dar a resposta. O PR quer avaliar se o noticiário trará novas denúncias envolvendo a pasta, comandada pelo partido desde o primeiro mandato do ex-presidente Lula. Anteontem, Blairo reagiu ao afastamento de Pagot numa reunião com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Mais tarde, foi chamado para conversa com o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência), e repetiu que era injustiça o pretendido afastamento do diretor do Dnit. Carvalho respondeu que quem comprovar inocência tem direito de voltar ao governo. Ontem, o ministro ponderou que aliados não podem ser mantidos a qualquer preço.

'Motosserra de Ouro' com telhado de vidro
Elo com Pagot, fama de desmatador e escândalos no governo de MT dificultam escolha de Blairo

Maria Lima, Adriana Vasconcelos e Catarina Alencastro

BRASÍLIA. Troféu "Motosserra de Ouro", conferido pelo Greenpeace, e empresário biliardário que comanda um império com empresas de navegação, fazendas, portos, empresas de produção e exportação de soja, indústria de óleo e a construção de uma cidade inteira - a moderna Sapezal, encravada na Amazônia -, o senador Blairo Maggi (PR-MT) era ontem quase uma unanimidade no Senado: se ele assumir o Ministério dos Transportes, no dia seguinte cria-se no Congresso uma CPI para apurar sua ligação com o apadrinhado Luiz Antonio Pagot, afastado do Dnit por denúncias de corrupção e esquema de pagamento de propinas.
A aposta, de aliados à oposição, é que a maior dificuldade de Blairo para ser ministro é seu telhado de vidro, além de escândalos acumulados nos dois mandatos como governador de Mato Grosso, primeiro pelo PPS, depois pelo PR.
- Na hora em que o Blairo sentar no ministério, haverá pressão para uma CPI para apurar os malfeitos de seu homem de confiança. Ele não conseguirá separar a gestão do Pagot das coisas que aconteceram em Mato Grosso. E, se aceitar se expor, vai afetar seus negócios. O Maggi é um homem extremamente frio e pragmático - avaliou um senador governista.
Único filho de uma família de pioneiros gaúchos que foi desbravar Mato Grosso, Blairo ganhou seu nome de uma dupla sertaneja. Em 2002, resolveu entrar para a política para pagar promessa a Nossa Senhora Aparecida. Foi governador duas vezes, aliado de primeira hora do presidente Lula - a ponto de colocar seu nome na porta de uma suíte na sede de uma das fazendas - e cabo eleitoral imbatível de Dilma Rousseff no ano passado. Na prestação de contas da campanha da presidente, o Grupo Amaggi aparece como um dos maiores doadores.
No governo Dilma, Blairo vinha mantendo um bom espaço na Esplanada, herdado do governo Lula. Além de Luiz Pagot, tinha um aliado no cobiçado cargo de secretário-geral do Ministério das Cidades, Rodrigo Figueiredo. Perdeu os dois e não se conforma. Por isso as queixas dos últimos dias.
O escândalo mais rumoroso de sua gestão como governador explodiu no fim do seu segundo mandato e ameaçou sua campanha ao Senado. O caso, investigado pelo Ministério Público Federal, foi batizado de "escândalo das máquinas". Segundo as investigações, houve superfaturamento de R$44 milhões na compra de 705 máquinas e equipamentos para recuperação de asfalto e estradas, no valor de R$241 milhões, por meio de licitações fraudulentas. Na época, Maggi disse que chorou ao saber das fraudes e afastou servidores e o secretário de Infraestrutura, Vilceu Marchetti.
Presidindo atualmente uma subcomissão de acompanhamento das obras da Copa no Senado, Blairo comanda um verdadeiro império econômico no Norte e Centro-Oeste do país. Herdado do pai, o Grupo Amaggi produz cerca de 8% da soja brasileira, com faturamento de mais de R$2 bilhões por ano. Em 2003, ao assumir o primeiro mandato, deu uma declaração polêmica ao "The New York Times": "Um aumento de 40% no desmatamento da Amazônia não significa nada. Não sinto a menor culpa pelo que estamos fazendo aqui".
No início da gestão de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente, o desmatamento da Amazônia estava descontrolado, atingindo os mais altos índices na última década. Mato Grosso comandava a derrubada da floresta. Com a divulgação dos dados, a opinião pública vilanizou Blairo, então governador, chamado o "rei da soja". Em uma das Conferências da ONU sobre Mudanças Climáticas, em 2005, o Greenpeace deu a ele o prêmio "Motosserra de Ouro".
No entanto, um dos braços direitos de Marina na época lembrava ontem que Blairo procurou o ministério e se prontificou a participar de uma estratégia contra o desmatamento. Foi um dos principais articuladores da moratória da soja, ação que mais deu resultado na queda do desmate. Mas, quando deixou o governo, Marina disse que sofria pressões de Blairo para rever as medidas de combate ao desmatamento na Amazônia.

O Globo, 08/07/2011, O País, p. 3

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