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Diferentes significados da terra

Diário de Cuiabá - Cuiabá - MT
Autor: Carla Pimentel
25 de Fev de 2001

Terra tem significados diferentes para brancos e índios. Segundo a doutora em Antropologia Edir Pina de Barros, o valor comercial de determinada área não faz sentido para as culturas indígenas, que caminham ao revés da ideologia capitalista. Um aspecto comum entre diferentes etnias é a afetividade e os significados sagrados relativos à territorialidade. O direito aos espaços é diferente da lógica do capitalismo, afirma.

As quatro décadas que separam os Kaiabis do Xingu de seu lugar de origem é, para Edir Pina, um período muito curto do ponto de vista histórico. São sociedades milenares, enquanto o país possui apenas 500 anos de história. Fala-se que esses povos chegaram por aqui há cerca de 40 mil anos, explica.

Esses fatores, segundo a antropóloga, explicam a insistência de diversas etnias em retornarem aos seus lugares de origem. A iniciativa dos Kaiabis não traz nada de novo, era previsível, garante. É estrutural, para o índio, voltar para o que é seu.

O caso dos Panarás que, nos anos 90, saíram do Parque Indígena do Xingu para retomarem as suas terras em Peixoto de Azevedo e um ícone desse processo. Edir Pina resgata que o povo foi retirado da área de origem - também pelos irmãos Villas-Boas - em uma época em que corriam sérios riscos de serem dizimados, principalmente em função das doenças decorrentes do contato com os brancos. Mas, depois, já fortalecidos, decidiram voltar - a pé - e ganharam o direito na Justiça.

Segundo a antropóloga, o caso dos Panarás gerou uma espécie de jurisprudência, que animou índios e alertou brancos. Os índios perceberam que é legalmente possível realizar a retomada, afirma ela, apontando que a mesma constatação foi feita pelos fazendeiros - que, hoje, temem perder suas terras. Existem proprietários muito ricos, que têm grandes áreas, mas há também aqueles que uma fatia de terras é tudo o que têm, observa Edir Pina.

A teia de relações transforma a idéia de criação de uma grande e única reserva para os diferentes povos indígenas do Brasil em uma proposta equivocada. Edir Pina exemplifica que, no Xingu, os índios que não eram originalmente provenientes da área são tratados como estrangeiros. É como se, de repente, nossa cidade fosse tomada por um grupo de argentinos. Eles poderiam conviver conosco, mas seriam sempre considerados de fora, compara.

Edir Pina calcula que, quando as caravelas chegaram ao que hoje é o Brasil, o território era ocupado por povos que falavam cerca de 1,3 mil diferentes línguas. Hoje, são 170, observa. Dados do Instituto Socioambiental (ISA) revelam que, nos tempos da chegada dos europeus, haviam de 2 milhões a 6 milhões de pessoas habitando a região. Hoje, são aproximadamente 300 mil índios, divididos entre cerca de 200 povos.

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