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Autor: Fabio de Castro
08 de Nov de 2018
Diagnóstico da biodiversidade brasileira une conservação e desenvolvimento
08/11/2018
FÁBIO DE CASTRO
Relatório para tomadores de decisão elaborado por 100 pesquisadores destaca importância de serviços ecossistêmicos para a economia
Desde o fim de 2015 um grupo independente formado por pouco mais de uma centena de pesquisadores, acadêmicos e gestores ambientais trabalha na produção do 1o Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. O relatório de pouco mais de 400 páginas, que acaba de ser concluído, ficará disponível no início de 2019, mas uma síntese de seus principais resultados acaba de ser divulgada.
O Sumário para Tomadores de Decisão, que consolida os principais pontos do diagnóstico, foi lançado nesta quinta-feira (8) pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES). O resumo de 18 páginas revela o papel central da biodiversidade e dos ecossistemas para a geração de emprego e renda e para a redução das desigualdades sociais e econômicas no Brasil.
Entre 40 mil espécies de plantas nativas, 469 delas, pertencentes a 80 famílias distintas, são cultivadas em sistemas agroflorestais, segundo o diagnóstico. Mais de 245 espécies da flora brasileira são a base de produtos farmacêuticos e cosméticos - e ao menos 36 espécies botânicas nativas possuem registro como fitoterápicos.
O estudo revela ainda que cerca de 40% da cobertura vegetal do Brasil está contida em aproximadamente 400 municípios - apenas 7% dos municípios brasileiros -, onde vive 13% da população economicamente mais carente. Segundo um dos coordenadores do diagnóstico, o biólogo Carlos Alfredo Joly,
o objetivo do Sumário é mostrar a tomadores de decisão das esferas pública e privada, a partir de uma sólida base científica, que a conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos do Brasil é uma oportunidade a ser aproveitada para beneficiar os mais variados setores.
Linguagem acessível
"O Sumário para Tomadores de Decisão resume em linguagem acessível o que conseguimos extrair do Diagnóstico. Entre várias mensagens importantes, ele mostra que a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos representam um patrimônio econômico enorme para o País", disse Joly, que é professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e um dos coordenadores do Programa Fapesp de Pesquisa em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (Biota/Fapesp).
Uma das mensagens, explica Joly, é que esse patrimônio não pode mais ser tratado apenas por ministérios ou áreas específicas do governo estritamente ligadas ao meio ambiente e à ciência, mas também pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento, por exemplo. "O valor desse patrimônio precisa ser levado em conta em todas as decisões que afetam nossos modelos de desenvolvimento", disse o pesquisador.
A produção do relatório teve ampla participação da sociedade, segundo Joly. Além dos cerca de 100 cientistas que fazem parte da BPBES, o grupo realizou reuniões setoriais de trabalho com diferentes grupos de interesse, incluindo atores do governo federal, organizações não governamentais, empresas, representações indígenas e jornalistas. Nas palavras do coordenador do estudo,
O diálogo entre a comunidade científica e os tomadores de decisão sempre foi um desafio e por isso a linguagem era uma preocupação central. Acho que conseguimos dar um passo considerável nessa direção, mas o relatório é dinâmico e pretendemos fazer adaptações se necessário. Conseguir comunicação com os gestores é fundamental, especialmente neste momento em que teremos o início de novos mandatos na presidência, nos governos e no parlamento.
Proteção dos polinizadores
Uma das principais mensagens do relatório, segundo Joly, é o alerta para a importância de se estabelecer uma política de proteção dos polinizadores. O diagnóstico mostra que das 141 culturas agrícolas brasileiras, 85 dependem da polinização.
As espécies polinizadoras são importantes também para as culturas economicamente mais relevantes do país. Elas precisam ser aproveitadas para aumentar a produtividade da agricultura sem avançar a fronteira agrícola sobre os ecossistemas que mantêm sua viabilidade, segundo Joly, que acrescentou:
Mostramos como é possível manter esse serviço ecossistêmico preservando corredores ecológicos e privilegiar áreas agrícolas combinadas com sistemas agroflorestais, para que os polinizadores sobrevivam quando a cultura agrícola não está florescendo.
Novas ferramentas
Embora o trabalho do grupo que compõe o BPBES tenha começado já em novembro de 2015, a plataforma foi lançada oficialmente no fim de 2017. Joly divide a coordenação com Fabio Scarano, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB).
A inspiração para sua criação foi a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), uma iniciativa criada em 2012 por mais de 100 países com o objetivo de fornecer informações científicas aos tomadores de decisão. Conhecido informalmente como o "IPCC da Biodiversidade", em referência ao painel intergovernamental sobre as mudanças climáticas, o IPBES também fornece base técnica e científica à Convenção da Diversidade Biológica (CDB).
Segundo Joly, o sumário mostra aos gestores públicos e privados como novas ferramentas de modelagem, que permitem projetar diferentes cenários, podem ser utilizadas no planejamento de ações a médio e longo prazo.
Assim como nas ciências climáticas, os modelos evoluíram muito nas ciências voltadas para a biodiversidade. Com isso, é possível mostrar aos gestores não apenas o diagnóstico atual, mas também um leque de decisões que eles podem tomar a partir desse diagnóstico e quais serão as consequências dessas decisões dentro de 10 ou 15 anos.
O 1o Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade & Serviços Sistêmicos teve apoio do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). E teve como parceiros a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Academia Brasileira de Ciências (ABC), o Programa Biota/Fapesp, a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) e a Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (Rebipp).
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