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Dia do Índio terá oficina de nheengatu

O Liberal-Belém-PA
19 de Abr de 2006

Museu Emílio Goeldi programou diversas atividades para festejar a data, com uma oficina de nheengatu, dialeto indígena ainda hoje falado. A Prefeitura também promove a Semana do Índio, no Bosque Rodrigues Alves.

Ao invés de dar bom-dia, quem for ao Parque Zoobotânico do Museu Goeldi esta manhã vai dizer 'ia ne cuema'. Em comemoração ao Dia do Índio, que hoje transcorre, a instituição realiza uma programação especial, com uma oficina de 'nheengatu', dialeto indígena derivado do tupi, que será ministrada pelo antropólogo Antônio Maria de Souza Santos para cerca de 250 estudantes de escolas de Belém e grupos de idosos atendidos pela Funpapa.

Pela parte da tarde, será lançado um cartaz em homenagem ao cacique Coco, dos Caripunas, morto em 1986 e considerado exemplo de liderança indígena.

Chamada de 'Não Perca seu Tupi', a oficina é uma forma de resgatar a memória e a importância histórica da cultura indígena na formação brasileira. 'Não é algo folclórico ou pitoresco. Quer a gente queira ou não, é algo que faz parte da cultura brasileira', diz Antônio Maria, lembrando que o 'nheengantu', criado pelos jesuítas a partir de uma mistura entre o dialeto tupinambá e a gramática latina, se tornou a primeira língua brasileira e foi amplamente utilizado entre os séculos XVI e XIX.

Segundo o antropólogo, a língua sistematizada pelos missionários não só deixou heranças para o léxico da língua portuguesa no Brasil, como ainda é uma língua viva em vários pontos da Amazônia. 'Deixando de lado as polêmicas sobre os jesuítas terem imposto, criado uma língua, existe um fato que é histórico e o 'nheengatu' deixou uma grande herança. Ainda é amplamente falado em todo o vale do Rio Negro, de Manaus a São Gabriel da Cachoeira. Estimo que haja pelo menos 90 mil falantes de 'nheengatu' ainda, entre índios, caboclos e comerciantes antigos, porque sempre foi uma língua muito ligada ao comércio, aos regatões. Sem contar que está muito presente no vocabulário do português, que tem mais de cinco mil vocábulos de origem tupi que falamos a todo momento. O tupi chegou a ser cátedra nas faculdades de Filosofia entre os anos 30 e 70, inclusive em Belém.'

A oficina foi pensada especialmente para o público de estudantes e grupos de idosos, mas Antônio Maria diz que também deve incluir outros visitantes do parque. 'Entre as 9 e 16 horas, estarei repetindo a oficina para vários grupos, ensinando algumas palavras, expressões e também músicas em 'nheengatu'. Hoje, existem cerca de 150 línguas indígenas faladas em todo o Brasil. O Museu Goeldi tem um departamento específico para o estudo das línguas indígenas, que tem se preocupado com a preservação dessas línguas. Elas têm uma importância grande na identidade desses povos, como em qualquer cultura, ainda mais se lembrarmos que toda a transmissão da cultura nesses povos é feita oralmente. Isso é fundamental', observa.

À tarde, haverá o lançamento do cartaz em homenagem ao cacique Coco, que contará com a presença da filha dele, Suzana Primo dos Santos, funcionária do Centro de Museologia do Museu Goeldi. Foram editadas 500 cópias com o poema escrito por José Maria Lealpes à época da morte do cacique, uma homenagem singela para fazer com que as pessoas se interessem pela história de líderes como Coco. 'O José Maria é filho de uma professora e morou na tribo até os 14 anos. Vamos distribuir para escolas e entidades. Ele era um verdadeiro líder, um homem muito inteligente, muito lúcido e que deu grandes lições', diz Antônio Maria.

No Bosque - A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) também faz sua homenagem ao Dia do Índio, abrindo a Semana do Índio, às 9 horas, no Bosque Rodrigues Alves. Até domingo, 23, várias ações serão realizadas em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai). Hoje, a programação abre com uma palestra do presidente da Funai, Francisco Potiguara Tomaz Filho. Outras atividades com a temática indígena acontecerão em vários locais do bosque. O roteiro inclui exposição e venda de artesanato, exposição de fotografias, sessão de vídeo, passeio de canoa, brinquedoteca e pintura corporal indígena, além de apresentações de dança. Ainda haverá reik e yoga.

Programação marca a Semana do Índio no São José Liberto

O lançamento da Cartilha Parkatejê, a abertura da exposição fotográfica Arte Indígena e a apresentação do ritual Parkatejê abrirão oficialmente, hoje, a programação da 'Semana do Índio', a partir das 18 horas, no Espaço São José Liberto. Com entrada franca, a programação se estenderá até domingo, 23, com exceção da exposição fotográfica, que poderá ser visitada até o dia 30 deste mês, das 10 às 20 horas.

Promovida pela Secretaria Executiva de Esporte e Lazer (Seel), com patrocínio da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), a exposição Arte Indígena reúne 50 fotos, de autoria dos fotógrafos Carlos Silva e João Ramid, que retratam a identidade das tribos por meio de pintura corporal, objetos utilitários, adornos, instrumentos e indumentárias usados em rituais e artesanato em cerâmica, madeira e palha.

Para mostrar o colorido, a simetria e a beleza da cultura indígena, Carlos Silva visitou aldeias dos Kaiapó, Wai Wai e Xikrin, e também fotografou parte do acervo do colecionador Robinson Araújo da Silva. João Ramid aproveitou a realização dos jogos indígenas para captar toda a riqueza de imagens produzidas por várias etnias, como Kaiapó e Gavião.

Cartilha - Após a abertura da exposição será lançada a Cartilha Parkatejê, contendo técnicas de alfabetização na língua dessa etnia, resultado do trabalho da doutora em Lingüística Leopoldina Araújo, professora aposentada da Universidade Federal do Pará (UFPA). Escrita em Português e Parkatejê, a cartilha é um instrumento de preservação da língua Parkatejê, que pertence ao tronco Jê e à família Timbira.

O primeiro dia da programação será encerrado com a apresentação do Ritual Parkatejê, que levará para o Coliseu das Artes 20 indígenas. Também chamados de Gaviões de Mãe Maria, os Parkatejê habitam a Terra Indígena Mãe Maria, localizada às margens da rodovia BR-222, município de Bom Jesus do Tocantins, sudeste do Pará.

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