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Dezessete servidores do Ibama presos no Amapá

O Globo, O País, p. 10
10 de Ago de 2006

Dezessete servidores do Ibama presos no Amapá

Jailton de Carvalho

Numa nova operação de combate a crimes ambientais no país, a Polícia Federal prendeu 46 funcionários públicos, empresários e policiais acusados de envolvimento num esquema de contrabando de madeira a partir da concessão ilegal de autorização para transporte de produtos florestais, as chamadas ATPFs. Entre os presos estão o procurador federal do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis( Ibama) Joaquim Gomes de Oliveira e mais 16 fiscais e funcionários da agência do instituto no Amapá, base de operação da quadrilha.
De acordo com as investigações, a organização criminosa movimentou mais de R$ 53 milhões nos últimos seis anos, com o contrabando de 905 mil metros cúbicos de madeira extraída ilegalmente de florestas de Santa Catarina, São Paulo e Pará, entre outros estados. O volume é suficiente para abarrotar 60 mil carretas que, se enfileiradas, se estenderiam do Rio de Janeiro a São Paulo. Preocupada com eventuais críticas, a ministra do Meio Ambiente Marina Silva convocou uma entrevista coletiva para divulgar o resultado da operação e explicar a participação do Ibama no caso.
Segundo ela, a PF deflagrou a chamada Operação Isaías a partir de uma denúncia do próprio Ibama. Ano passado, o gerente do instituto no Amapá acusou o sumiço de um lote de 200 ATPFs em branco. A partir daí, a PF abriu inquérito e chegou à segunda maior quadrilha flagrada em crimes ambientais no país. A quadrilha mais numerosa, que contava com a participação de mais de cem pessoas, foi desmantelada em 2004 durante a Operação Curupira. Numa ataque indireto ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Marina Silva disse também que o esquema de fraudes descoberto agora é antigo.
- Esses crimes vinham sendo praticados há décadas - disse Marina.
Documentos falsos serviam para burlar a fiscalização
As investigações da PF começaram há menos de um ano. Ao longo da apuração, a polícia descobriu indícios de que a organização criminosa vinha agindo desde 2000. Segundo a polícia, funcionários do Ibama aprovavam planos de manejo inexistentes para conceder ATPFs falsas a contrabandistas de madeira. As ATPFs eram expedidas pelo Ibama de Macapá e usadas para transportar madeiras extraídas principalmente de florestas de Santa Catarina. Os documentos falsos eram usados também para burlar a fiscalização em São Paulo e no Pará.
- O Ibama do Amapá era um grande pólo emissor de ATPFs ilegais e criminosas para encobrir desmatamentos clandestinos em outros estados - afirmou o delegado da Polícia Federal Jorge Pontes.
O procurador Joaquim Gomes foi preso na casa dele, em Macapá. Segundo testemunhas, Gomes não esboçou reação quando os policiais chegaram e anunciaram a prisão. O procurador é acusado de emitir pareceres favoráveis a planos de manejos inexistentes. Para a polícia, ele era uma peça-chave na concessão de ATPFs falsas. As licenças eram negociadas por valores entre R$ 1 mil e R$ 5 mil cada e serviam para legitimar o corte ilegal de madeira.
A operação foi chamada de Isaías, em referência a uma profecia de Isaías que diz: "Restarão tão poucas árvores em sua floresta que um menino poderá contá-las".

O Globo, 10/08/2006, O País, p. 10

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