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Devastação tem queda de 30% na Amazônia

FSP, Ciência, p. A16
06 de Dez de 2005

Devastação tem queda de 30% na Amazônia
Biênio 2004-2005 registrou 18,9 mil km 2, contra 27,2 mil km2 em 2003-2004; área desmatada ainda é 4ª maior

Eduardo Scolese
Pedro Dias Leite
Da sucursal de Brasília

Cláudio Ângelo
Editor de Ciência

O desmatamento na Amazônia caiu 30,5% em 2004-2005 comparado com o biênio anterior. A estimativa oficial foi anunciada ontem pela ministra Marina Silva (Meio Ambiente) que atribuiu a queda a ações do governo, como o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento, implementado no fim do ano passado.
Os dados, compilados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), indicam que 18,9 mil quilômetros quadrados de floresta sumiram no biênio, contra 27,2 mil quilômetros quadrados em 2003-2004. A cifra foi comemorada pelo governo, que citou, além do aumento das multas e da fiscalização, a criação de unidades de conservação, a homologação de terras indígenas e a limitação administrativa às margens da BR-163 (Cuiabá-Santarém).
A última queda no índice de desmatamento da Amazônia havia ocorrido de 1995-1996 para 1996-1997, quando o volume de floresta abatida caiu 27%.
"O nosso grande desafio é fazer com que essa redução do desmatamento seja sustentável. É a primeira vez que você tem a queda do desmatamento em nove anos. Achamos altamente relevante e importante essa queda, mas não podemos baixar a guarda", afirmou Marina Silva, que anunciou os dados ao lado do colega Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia) e representantes da Casa Civil, do Incra e do Ibama.
A estimativa de queda (o número consolidado só será conhecido no ano que vem, mas sem muita variação) é mais modesta do que os cerca de 40% que o próprio governo previa em agosto com base em dados do Deter, sistema de monitoramento do desmatamento em tempo real criado pelo Inpe. E próxima de uma previsão independente feita por uma ONG de pesquisas de Belém, o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).
Usando dados dos satélites Modis, os mesmos que alimentam o Deter, o Imazon previu que os números do Inpe (que usam um outro satélite, o Landsat, com maior resolução) apontariam um total desmatado entre 15,2 mil e 16,5 mil quilômetros quadrados.
"Estou feliz com o que eu vi", disse Carlos de Souza Jr., pesquisador que desenvolveu a metodologia do Imazon. "O dado fica próximo da nossa abordagem."
Embora longe do recorde de 2003-2004, quando o governo Lula amargou o segundo desmatamento mais alto da história desde o início da série do Inpe, em 1988, em números absolutos o total de 2004-2005 ainda é o quarto maior. A queda de 31%, na verdade, retoma o patamar em que a devastação vinha ocorrendo antes do pico de 2001-2002.
Efeito Curupira
De agosto de 2004 a julho de 2005, o nível de desmatamento caiu em todos os nove Estados da Amazônia Legal (Estados do Norte, além de Maranhão e Mato Grosso). As maiores quedas, segundo os dados anunciados ontem, ocorreram às margens da BR-163, na divisa do Acre com Rondônia e no norte de Mato Grosso, Estado tradicionalmente campeão de desmatamento.
Apesar de a queda do preço dos grãos no mercado externo ter influenciado o arrefecimento da derrubada em Mato Grosso, Souza Jr., do Imazon, atribui a queda naquele Estado sobretudo à Operação Curupira, da Polícia Federal e do Ministério Público, que em junho desmontou um esquema de corrupção no Ibama local e que também teve reflexo em Rondônia. "A queda mais expressiva, de 92%, aconteceu no mês de junho, e Mato Grosso puxa a curva do resto da Amazônia", afirmou. A ONG Greenpeace também credita a redução à presença conjuntural do Estado na Amazônia após o assassinato da freira americana Dorothy Stang, em fevereiro, no Pará.
A região sudeste do Pará, próxima à divisa com Tocantins, foi a que apresentou o maior índice de destruição comparado ao biênio anterior -103%. Houve crescimento também no sul do Amazonas, na região de Apuí, onde, segundo o governo, estão se concentrando aqueles que antes devastavam próximo à BR-163.
Assim como no levantamento passado, São Félix do Xingu (PA) aparece à frente no ranking do desmatamento. O município é o pólo mais próspero de pecuária da região Norte.
Poder de barganha
O anúncio foi planejado para coincidir com a viagem de Marina a Montréal, Canadá, hoje. Ela vai chefiar a delegação brasileira no segmento ministerial da 11ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU.
A notícia de que a devastação caiu deve servir para reforçar a posição brasileira de criar um mecanismo de compensação financeira pela redução no desmatamento -principal fonte de gases de efeito estufa no país. Ela mostra que países pobres e florestados, como o Brasil, têm condições de atacar as emissões domésticas.
"O anúncio é extremamente bem-vindo na negociação, porque um dos grandes argumentos de países como os EUA é que os países subdesenvolvidos não se engajam na redução de emissões", disse Paulo Moutinho, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), que acompanha a COP em Montréal.

FSP, 06/12/2005, Ciência, p. A16

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