CB, Brasil, p.17
21 de Abr de 2005
Relatório da comissão da Câmara que investiga casos de desnutrição na reserva de Mato Grosso do Sul conclui que corrupção praticada por servidores da Funasa contribuiu para a morte de 21 indiozinhos
Desvio de dinheiro em Dourados
Leonel Rocha
Da equipe do Correio
A corrupção de funcionários administrativos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) ajudou a matar 21 crianças de 6 a 14 anos das tribos guarani e kaiowá, no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, entre novembro do ano passado e fevereiro deste ano. Esta foi a conclusão do presidente da comissão externa da Câmara formada para investigar a morte dos índios, deputado Geraldo Resende (PPSD-MS). Há uma relação de causa e efeito entre o desvio de recursos para o funcionamento da unidade da Funasa e as mortes das crianças, denunciou Resende.
Os assessores convocados pela comissão para analisar os documentos contábeis do escritório da Funasa de Campo Grande constataram vários indícios de desvio de dinheiro. O rombo pode superar R$ 1 milhão.
Este dinheiro, segundo o deputado Resende, poderia com folga evitar as mortes se tivesse sido gasto adequadamente com o atendimento aos índios e a distribuição de comida e remédios. Até um funcionário fantasma foi encontrado recebendo salário da Funasa.
Os deputados da comissão constataram que o valor do contrato para a prestação de serviços mecânicos, assinado entre o escritório da Funasa e o Centro Automotivo 500 milhas Ltda ., foi alterado sem qualquer justificativa. No dia 5 de novembro, um termo aditivo ao contrato elevou o valor de R$ 530 mil para R$ 1 milhão. A comissão constatou que a oficina emitiu, na mesma data, várias notas fiscais com numeração seguida e valores elevados.
Também causou estranheza aos deputados o elevado valor da prestação de serviços sem a correspondente quantidade de carros. Não foram encontrados número de carros oficiais compatível com o gasto.
Outro forte indício de corrupção aconteceu em dezembro do ano passado, quando a mesma oficina recebeu R$ 240 mil
para fazer reparos em máquinas de perfuração de poços para a obtenção de água limpa para o consumo dos índios. A comissão constatou que, apesar de as máquinas estarem teoricamente paradas na oficina, foram pagas diárias para os operadores e relatórios de viagens.
Gastos inexplicáveis
Segundo o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) que participou da comissão, isto mostra que as máquinas continuaram funcionando, mas a oficina recebeu por reparos não realizados. Foi gasto mais dinheiro com despesas inexplicáveis enquanto as crianças indígenas estavam morrendo por falta de água limpa, ressaltou Gabeira.
O relatório da comissão, elaborado pela deputada Perpétua de Almeida (PC do B-AC), pedirá abertura de tomada de conta especial pelo Tribunal de Contas da União, investigação do ministério Público Federal e auditoria da Corregedoria Geral da União.
Há indícios graves de corrupção, desvio de dinheiro e descaso com os índios, comentou o deputado Rezende. O relatório final da comissão está pronto para ser votado, o que deve acontecer na próxima semana. Os parlamentares constataram ainda outros entraves administrativos na Funasa desde 2003. Além disso, neste período foram inexplicavelmente suspensas atividades de grande relevância para a nutrição das crianças indígenas, escreveu a relatora Perpétua de Almeida.
No ano passado, as despesas com combustíveis e assistência mecânica aos carros da Funasa superaram R$ 5,2 milhões, 53%maior que os gastos com as compras de alimentos distribuídos aos índios (R$ 3,4 milhões).
Caso será apurado
Hércules Barros
Da equipe do Correio
A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) alega que as supostas irregularidades são apenas evidências. De acordo com Alexandre Padilha, diretor do Departamento de Saúde Indígena, assim que a denúncia dos deputados chegar à Funasa, será feita uma auditoria nos convênios. Até agora, a comissão externa da Câmara não apresentou à Funasa denúncia de irregularidade nos convênios de prestação de serviço, justificou.
Os contratos sob suspeita têm cifras aumentadas em quase 50% do valor inicial da prestação de serviço. Por conta de uma manutenção corretiva em veículos e motos da Funasa, por exemplo, houve aumento de R$ 530 mil para R$ 1 milhão nos gastos. Padilha atribui o crescimento dessa despesa por causa dos deslocamentos difíceis na região. Temos que levar em conta as distâncias, falta de estradas e dificuldade de acesso, explicou. Segundo Padilha, 95,83% do orçamento da Funasa é para o pagamento de profissionais que atuam nas aldeias ou nas unidades de saúde.
CB, 21/04/2005, p. 17
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