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Desperdício gera poluição e traz risco à humanidade

O Globo, Razao Social, p. 21
03 de Jan de 2004

Desperdício gera poluição e traz risco à humanidade
Conselho empresarial brasileiro para o desenvolvimento sustentável dissemina pelo país o conceito de ecoeficiência, fundamental para garantir a estabilidade dos recursos naturais

CURSO DE ECOEFICIÊNCIA HOSPITALAR
Aprendendo a maneira correta de classificar e selecionar o lixo e o tratamento adequado do esgoto, com o objetivo de diminuir o índice de infecção entre pacientes e profissionais e evitar o desperdício de medicamentos

A s ensaios de apocalipse descritos pelos ecologistas a partir de tragédias como o aquecimento global jogaram a humanidade numa encruzilhada. Para pavimentar o caminho, recomenda-se doses cavalares de responsabilidade social - no sentido mais ambiental que a expressão pode ter. Vem daí a defesa da produção limpa, preconizada por especialistas como Fernando Almeida, professor da Coppe e presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), que trabalha para disseminar uma preciosa pérola verde - o desenvolvimento sustentável. Agora como meta empresarial.

- A poluição é a disfunção do processo produtivo, quando se joga matéria-prima fora, porque o processo não é eficiente para aproveitar tudo - ensina Almeida. - Por isso, a ecoeficiência é algo que trará lucro às empresas que aceitaram mudar sua lógica de funcionamento.

Para ampliar a luta no país que possui o maior manancial de água potável - este bem natural que se esgota em velocidade inquietante - do planeta, o CEBDS criou 18 núcleos de produção limpa, com apoio do Sebrae. As pequenas e médias empresas têm acesso à metodologia e produzem resultados emocionantes.

- O empregado quer uma indústria mais limpa. Ele dá retorno de graça - atesta Almeida, ex-presidente da Feema, a Fundação do Meio Ambiente do Estado do Rio, que milita no setor desde a década de 70.

Ele exemplifica com a história de uma pequena empresa de construção de tratores de Porto Alegre. A pistola de tinta, mal regulada, desperdiçava material, sem que ninguém se importasse com isso. O simples conserto do bico do equipamento racionalizou o gasto e permitiu economizar o equivalente a cinco tratores ao longo de um ano. Lucrativa consciência.

- E a sociedade organizada tem de pressionar para que todos tenham cuidados semelhantes - arremata ele.

O último capítulo da cruzada do CEBDS elegeu como alvo a área da saúde. Em conjunto com o Consórcio Intermunicipal de Saúde da Baixada Fluminense, que reúne dez municípios da região, o conselho acaba de realizar o primeiro curso de Ecoeficiência Hospitalar, tentativa de modificar o conceito de administração. Os alunos aprenderam a maneira correta de classificar e selecionar o lixo e o tratamento adequado do esgoto, buscando diminuir o índice de infecção entre pacientes e profissionais e evitar o desperdício de medicamentos.

- Se conseguirmos o desvio de material e melhorar a infra-estrutura para evitar que o lixo contaminado chegue às pessoas, faremos uma revolução na área de saúde. Sem construir nada - sublinha Almeida.

Por todos os setores da economia, a ecoeficiência, prega ele, é o caminho. E não adianta falar em responsabilidade social se todas as partes do negócio não estiverem envolvidas. A produção limpa só se materializa a partir de uma fundamental condição: todo mundo praticando o mesmo conceito.

- Sempre que se trabalhar a dimensão ambiental à parte da dimensão social e à parte da dimensão econômica, não funciona. É o grande equívoco - alerta Almeida. - A grande solução é o empreendimento sustentável.

E é bom começar logo, porque se o tal crescimento da economia - brasileira e mundial - finalmente vier, não será necessariamente boa notícia. Os cientistas mais confiáveis estimam que em 2050 os recursos naturais começarão a faltar. Mais fácil se preocupar agora.

O Globo, 03/01/2004, Razão Social, p. 21

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