VOLTAR

Desnutrição e alcoolismo assolam aldeias em MS

FSP, Brasil, p. A10
04 de Mar de 2007

Desnutrição e alcoolismo assolam aldeias em MS
Prostituição, filhas grávidas do pai, violência e suicídio são registrados na região
Famílias dependem de cestas básicas oferecidas por governos estadual e federal; MS suspendeu distribuição em janeiro

Hudson Corrêa
Da Agência Folha, em Dourados (MS)

Donos de menos de 40 mil hectares de terra, cerca de 30 mil índios guaranis e caiuás de Mato Grosso do Sul estão confinados. Falta terra em um ambiente de miséria.
Há casos de desnutrição infantil, alcoolismo, prostituição, filhas grávidas do pai, violência (ao menos 60 índios são presidiários), suicídios (11 enforcamentos em 2006) e conflito pela posse da terra (uma índia de 70 anos foi morta a tiros em janeiro dentro de uma fazenda).
Com esse quadro, as famílias dependem de cestas de alimentos dos governos estadual e federal. Apesar disso, algumas famílias trocam cestas por bebida alcoólica, segundo lideranças.
Nas duas etnias, a desnutrição causou a morte de 47 crianças indígenas menores de quatro anos de 2005 a fevereiro deste ano, segundo a Funasa (Fundação Nacional de Saúde).
Em janeiro e fevereiro deste ano foram seis mortes relacionadas à desnutrição.
"As cestas ajudam muito. O reflexo vem rápido: cortou a cesta, no outro mês começa a complicar. Em janeiro, o número de crianças que perderam peso aumentou muito", afirma Hélder Lúcio Ganacin, médico da Funasa.
Ao tomar posse neste ano, o governador André Puccinelli (PMDB) suspendeu a distribuição de 11 mil cestas de alimentos a indígenas. A Funasa seguiu distribuindo 5.500. O governo federal ainda prepara uma intervenção maior, enquanto a Funai (Fundação Nacional do Índio) está ausente (leia texto nesta página).
O alcoolismo atinge parte das famílias. Não há estatísticas, mas em Dourados (MS) a Funasa tem uma lista de 60 famílias em que os pais bebem e as crianças são desnutridas.
Na reserva de 3.475 hectares vivem cerca de 11 mil índios, incluindo terenas. Entre 2.338 crianças, 8,2% estão desnutridas. Há 20 em estado grave. Três crianças morreram neste ano de causa relacionada à desnutrição nessa área indígena, situada a 5 km da cidade.
Conforme a Funasa, a densidade demográfica na aldeia chega a 331 habitantes por quilômetro quadrado; em Dourados, é de 40,2. Motos, bicicletas e carros ainda dividem espaço com as carroças dos índios.
A situação é semelhante nos 2.430 hectares da reserva de Amambaí, onde vivem 7.000 índios. Dentro das aldeias, a Funasa mantém uma rede de postos de saúde e atendimento nas casas, mas passou também a ser fundamental na distribuição de cestas de alimentos.
O chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena de Mato Grosso do Sul, Wanderley Guenka, montou a estratégia para o mês de março: atenderá 8.239 famílias com crianças menores de seis anos com 44 kg de alimentos cada um. Outras 3.000, sem crianças pequenas, receberão uma cesta de 22 kg.

União diz que vai ampliar Bolsa Família

Da Agência Folha, em Dourados (MS)

O governo federal diz que mantém um programa de apoio à agricultura na aldeia de Dourados e fará a ampliação do Bolsa Família. Não foram informados dados sobre a safra agrícola na área indígena e o número de beneficiados pelo programa.
Segundo o governo, em outubro foi enviado à Casa Civil projeto de criação de um "comitê de ações integradas", entre ministérios, voltadas para aldeias dos guaranis e caiuás.
O governo do Estado, que suspendeu a distribuição de 11 mil cestas alegando que vivia uma crise financeira, informou que acertou com a Funasa a volta da distribuição de comida nas aldeias. O Estado cuidará da embalagem e transporte de cestas. A Funasa comprará os alimentos. A Funai disse que haverá cadastramento para ampliar o Bolsa Família.
Criada há 90 anos, a reserva indígena de Dourados tem hoje 11 mil moradores.
A Funai informou que busca regularizar na Justiça cinco áreas indígenas que somam mais de 46 mil hectares. Outras quatro estão sendo identificadas.

FSP, 04/03/2007, Brasil, p. A10

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.