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Desnutrição é 76% maior entre quilombolas

PrimaPagina
Autor: TALITA BEDINELLI
16 de Mai de 2007

Pesquisa mostra que proporção de crianças com déficit de peso é maior nessas comunidades do que na população brasileira

Uma pesquisa divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento Social mostra que, entre os quilombolas — pessoas que vivem em vilarejos remanescentes de quilombos —, a proporção de crianças de até cinco anos desnutridas é 76,1% maior do que na população brasileira e 44,6% maior do que na população rural. A incidência de meninos e meninas com déficit de peso para a idade nessas comunidades é de 8,1% — maior também do que entre as crianças do Semi-árido brasileiro (6,6%).

Os dados constam do estudo Chamada Nutricional Quilombola 2006, divulgado nesta terça-feira. Os técnicos do ministério entrevistaram 2.941 crianças de 60 comunidades quilombolas de 22 unidades da Federação. Essa foi a primeira pesquisa nacional a abordar dados socioeconômicos das famílias remanescentes de quilombos e o estado nutricional de crianças de zero a cinco anos desses locais.

Para a análise da desnutrição infantil, foram usados questionários respondidos por 2.723 crianças (os demais apresentaram problemas que prejudicaram a análise dos dados coletados). Desse total, 221 (8,1%) apresentaram déficit na relação entre peso e idade — um dos sinais de desnutrição. Entre o total de crianças brasileiras nessa faixa etária, 4,6% têm esse déficit; entre as que moram na zona rural, 5,6% sofrem o problema, segundo dados de 2002 e 2003 da Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A situação das crianças quilombolas é ainda pior quando analisada a desnutrição por déficit de crescimento: 316 (11,6%) têm altura inferior aos padrões recomendados pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Esse é um dos dados mais relevantes, porque mostra que as crianças não crescem bem porque vão acumulando as conseqüências da desnutrição e das infecções, como a diarréia, que pegam por causa do ambiente em que vivem”, comenta a diretora-interina do Departamento de Avaliação e Monitoramento do Ministério do Desenvolvimento Social, Leonor Maria Pacheco Santos.

Os últimos dados desse tipo para as crianças brasileiras como um todo estão na Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, de 1996: 10,5% das pessoas nessa faixa etária tinham déficit de altura — o que significa que a situação das crianças quilombolas em 2006 era pior do que a das brasileiras de dez anos antes.

Comparadas às crianças do Semi-árido brasileiro — região que concentra grande parte dos municípios de pior situação socioeconômica do Brasil —, as quilombolas também apresentam uma situação nutricional inferior: a proporção de pessoas de até 5 anos com déficit de altura é 75,7% maior. Elas têm uma situação de renda muito baixa e um saneamento básico pior. A desnutrição nessa faixa etária é resultado da alimentação e das infecções. A nutrição e o saneamento básico são os binômios fatais para a desnutrição”, destaca Leonor.

A pesquisa mostra ainda que 90,9% das crianças quilombolas moram em domicílio com renda familiar inferior a R$ 424 por mês; mais da metade (57,5%) vivem em lares com renda total menor de R$ 207. O esgotamento sanitário também é precário nesses locais: apenas 3,2% das crianças moram em residência com acesso a rede pública de esgoto e 28,9% com acesso a fossa séptica. No Brasil, 45,6% dos brasileiros moram em domicílios com rede pública e 21,4% em casas com fossa séptica.

A avaliação nutricional foi realizada em parceria com Ministério da Saúde, Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Os dados foram analisados por pesquisadores da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).

Fontes: Pesquisa de Orçamentos Familiares, Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde e Chamada Nutricional Quilombola 2006

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