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Desmate na Amazônia permanece em alta

FSP, Brasil, p. A9
04 de Abr de 2008

Desmate na Amazônia permanece em alta
Foram devastados em fevereiro 724 quilômetros quadrados de floresta, 12% a mais que área desmatada em janeiro
Para Inpe não é possível afirmar que houve aumento porque áreas observadas são distintas; Marina crê em redução até o fim de 2008

Da redação
Da sucursal de Brasília

O desmatamento na Amazônia continua em alta, mesmo em mês de chuva. Dados do sistema Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que detecta a devastação em tempo real, mostram que no mês de fevereiro foram derrubados 724 quilômetros quadrados de floresta na região, um número 12% maior que os 639 quilômetros quadrados derrubados em janeiro.
O diretor do Inpe, Gilberto Câmara, disse que os dados confirmam "a continuidade de um processo consistente de degradação", mas que não é possível falar em aumento de um mês para o outro, porque a área observada não foi a mesma.
"Mato Grosso foi observado em fevereiro, Pará e Rondônia não foram", devido à intensa cobertura de nuvens, disse Câmara. As nuvens impedem que o satélite "enxergue" o solo.
De qualquer forma, os dados preocupam o governo porque, tradicionalmente, fevereiro é um mês no qual não se desmata justamente porque é "inverno" (ou seja, estação chuvosa) na Amazônia. O Deter nem sequer tem os dados de fevereiro de 2007 (com os quais seria possível fazer uma comparação ano a ano), porque o Inpe acreditava nessa baixa atividade.
O desmatamento observado pelo Deter em fevereiro é mais alto do que o visto em janeiro, agosto (243 quilômetros quadrados), setembro (611) e outubro (457), mas menor que novembro (974) e dezembro (943), quando a devastação explodiu e fez o governo deflagrar uma série de ações de controle.
Os Estados onde foi observada a maior devastação foram Mato Grosso (639 quilômetros quadrados) e Roraima (51 quilômetros quadrados). Isso não quer dizer, no entanto, que Pará e Rondônia, que compõem com Mato Grosso a tríade da devastação, tenham derrubado menos: só não foram vistos.
O governo de Mato Grosso contesta as informações do Deter. Para a Sema (órgão ambiental estadual), áreas classificadas como pontos de desmate pelo Deter são na verdade locais onde a floresta foi degradada há oito anos ou mais.
O Inpe diz que a polêmica se deve a uma divergência de metodologia. Para o Deter, áreas nas quais o sinal espectral (a luz que o satélite capta) de solo é maior que o de vegetação são florestas degradadas que não funcionam mais como uma floresta -e, portanto, entram na conta da devastação.
O Inpe vai agora cruzar os dados do desmatamento com os de queimadas e flagrar, assim, a degradação progressiva em Mato Grosso.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reconheceu o aumento do desmatamento nos dois primeiros meses deste ano. Ela disse que as medidas anunciadas pelo governo, que ainda estão sendo implementadas para tentar barrar o desmatamento, não têm a mesma "velocidade que a dinâmica" da devastação ambiental.
"Elas [as medidas] com certeza irão surtir efeito, mas não em apenas um ou dois meses. Queremos que todas venham a acontecer e que, se possível, tenhamos em 2008 uma redução do desmatamento", declarou.
(Claudio Ângelo e Lucas Ferraz)

Fazenda de prefeito é interditada por desmatamento

Em Lábrea (AM), que está entre as campeãs de desmatamento, o Ibama embargou e interditou propriedade de 84 hectares do prefeito da cidade, Gean de Campos Barros (PMDB). O Ibama estima que foram derrubadas 16.800 árvores. Procurado, o prefeito delegou o secretário de Habitação, João Maia, para falar. Maia afirmou que o prefeito não foi notificado.

FSP, 04/04/2008, Brasil, p. A9

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