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Desmate acelera aquecimento

OESP, Vida, p. A11
04 de Fev de 2008

Desmate acelera aquecimento
Manutenção da floresta evitaria o agravamento do efeito estufa e das mudanças climáticas

O desmatamento completo da Amazônia aceleraria o aquecimento global ao liberar na atmosfera cerca de 100 bilhões de toneladas de carbono - valor semelhante à emissão global, por todas as fontes existentes, em dez anos. O alerta é dado por cientistas que participam do Experimento Biosfera-Atmosfera de Larga Escala na Amazônia (LBA, na sigla em inglês).

"Se cortarmos todas as florestas tropicais do mundo, a concentração atmosférica de CO2 pode subir em 25%", diz o climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. "Devemos manter as florestas porque vivemos uma crise com o aquecimento global e é importante não atingir um ponto sem volta."

Segundo estimativas das Nações Unidas, cerca de 25 hectares de florestas tropicais caem a cada minuto no mundo, ou 13 milhões de hectares por ano aproximadamente. Uma geração atrás, o valor era de 20 hectares por minuto.

Calcula-se que o desmatamento na Amazônia liberaria por ano cerca de 400 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), o principal gás do efeito estufa. A manutenção absorveria de 90 a 545 quilos de carbono pela fotossíntese.

Uma variação tão grande nos números é uma das perguntas que permanecem sem resposta e que serão atacadas na segunda fase do LBA. O projeto, liderado por brasileiros e com verba de US$ 100 milhões, inclusive de fontes americanas e européias, já completou uma década com o envolvimento de centenas de cientistas.

Agora, dois aviões medirão as emissões logo acima da floresta, para tentar responder definitivamente se ela absorve mais carbono do que produz. Como a Amazônia é formada por diferentes sistemas ecológicos, com diversos microclimas, a resposta não virá de extrapolações simplistas.

Interrogações

Além dos aviões, outras estratégias são usadas pelos cientistas para tentar elucidar a dinâmica de emissão e absorção de carbono pela Amazônia. Uma delas é conduzida em uma torre de 60 metros, montada pelo LBA.

No topo, o meteorologista Julio Tota, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, observa "rios de ar" sobre a cobertura florestal. Essa "fumaça úmida", diz Tota, indica que os gases-estufa liberados pela degradação do material orgânico no solo não se incorporam a atmosfera de imediato: eles flutuam sobre a floresta.

"Aprendemos que a floresta amazônica é muito mais frágil e complexa do que imaginávamos", diz Tota. "Minha pesquisa é bastante específica: ela é focada em mostrar por que todas as nossas medições anteriores são provavelmente falsas."

A despeito de todas as respostas ainda não serem conhecidas, o físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo, afirma ser essencial que o Brasil reduza a destruição da floresta. "Não há nenhuma maneira mais barata de reduzir as emissões do que pelo controle do desmatamento", afirma. O desmatamento e as queimadas, principalmente da Amazônia, colocam o País entre os cinco maiores emissores de gases-estufa. Mundialmente, o ataque às florestas colaboram com até 20% das emissões.

Estratégias

Resultados iniciais do LBA também indicam que o corte seletivo da floresta, que alimenta o mercado madeireiro, afeta uma área tão grande quanto o corte raso - o que pode alterar a conta de quanto carbono sai da floresta.Além disso, coloca em dúvida o manejo florestal como estratégia sustentável, tal qual tem sido visto pelo governo brasileiro, diz Diane Wickland, gerente do Programa de Ecologia Terrestre da Nasa (a agência espacial americana, um dos financiadores do experimento).

"Olhamos como isso tudo influencia o conceito de sustentabilidade e como podemos melhor informar tomadores de decisão sobre produtividade sustentável e uso da terra", diz Wickland.

OESP, 04/02/2008, Vida, p. A11

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