VOLTAR

Desmatamento, tema de nova polêmica entre Dilma e Marina

O Globo, País, p. 6
24 de Set de 2014

Desmatamento, tema de nova polêmica entre Dilma e Marina
Da ONU, presidente contesta adversária e diz que PT reduziu taxa em 79%; ex-senadora reafirma críticas

FLÁVIA BARBOSA E ISABEL DE LUCA Correspondentes opais@ oglobo.com. br (Colaboraram: Juraci Perboni e Mariana Sanches).

NOVA YORK E FLORIANÓPOLIS- A política ambiental do governo foi tema de novo embate entre as candidatas Dilma Roussef (PT) e Marina Silva (PSB) ontem. Em Nova York, onde fez discurso na Conferência do Clima da ONU, a presidente Dilma afirmou que Marina mente ao afirmar que a atual política ambiental representa um retrocesso e que o desmatamento na Amazônia aumentou em seu governo. Os indicadores não só melhoraram, disse a presidente, como os dados brasileiros, na comparação internacional, "são excepcionais". Marina fez a crítica no último domingo, em Manaus. Afirmou que as medidas adotadas por Dilma "nos fazem andar para trás na questão ambiental", que a criação de unidades de conservação travou, e que o desmatamento da Amazônia "voltou a crescer após quase dez anos de redução".

- O que estou dizendo é que nós, ao contrário, caímos (a taxa de desmatamento). Se ela (Marina) está dizendo que não está caindo, ela está mentindo. Nós caímos, tanto no governo Lula em relação ao FHC (Fernando Henrique Cardoso), quanto no meu caiu em relação ao governo Lula. Ninguém pode ficar estacionado. E o próximo terá que (fazer) cair - disse Dilma.
A presidente afirmou que o Brasil avançou sistematicamente na redução do desmatamento nos 12 anos de governo petista, com a área desmatada na Amazônia Legal recuando 79% desde 2003, de 25.396 quilômetros quadrados para 5.891 km² no ano passado. Entre 2010 e 2013, disse ela, foram registradas as quatro menores taxas de desmatamento da História do país.
No entanto, segundo dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ( Inpe), o desmatamento na Amazônia Legal registrou aumento entre 2012 e 2013 (no governo Dilma), de 4.571 km² para 5.891 km². Dilma considerou a variação "um aumentinho", e garantiu que a trajetória de 2014 já é de queda, embora ainda não tenham sido divulgados os dados deste ano.
Dilma destacou ainda que o Brasil tomou a decisão voluntária, na Cúpula de Copenhague, em 2009, de cortar entre 36% e 39% as emissões de dióxido de carbono até 2020, e já deixou de lançar na atmosfera anualmente 650 milhões de toneladas de gases desde 2010.
- Eu quero saber onde está o retrocesso. Porque quem definiu 36% a 39% voluntariamente, quem reduziu 650 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, foi o meu governo e o governo do presidente Lula. E não foi na época dela (Marina) que fizemos isso. Ela deu a contribuição dela. Agora, o que eu acho interessantíssimo é que os dados dela (ministra de janeiro de 2003 a maio de 2008) não são nada excepcionais. Ela estava também combatendo, ela estava na labuta. Mas os nossos (dados), eu quero dizer, em termos internacionais, são excepcionais. Nos compare com qualquer outro país do mundo e me diga quem teve este tipo de conduta - desafiou Dilma.
Em Florianópolis, Marina criticou o discurso de Dilma na ONU, mas não se referiu diretamente à acusação de que mentiu na apresentação dos dados. Segundo Marina, a presidente não assumiu compromissos para o futuro nas questões do Meio Ambiente, o que leva o país a um retrocesso neste setor.
- Acabo de receber a notícia de que, infelizmente, a presidente Dilma, que está participando em Nova York da cúpula do Clima, a convite do secretário-geral das Nações Unidas, fala tão somente das conquistas já alcançadas no passado (pelo Brasil), mas não sinaliza nem um compromisso para o futuro.
"SÃO RETROCESSOS SOBRE RETROCESSOS"
Marina disse que a presidente, além de não avançar no seu discurso, também não assinou a carta de proteção às florestas - o que, segundo Marina, compromete a agricultura brasileira, já que "o regime de chuvas é determinado pelas florestas, pela biodiversidade e pelas populações que vivem nas florestas".
- Quando o governo, com políticas erráticas, retrocede em relação a processos que vem sendo encaminhados há muito tempo para que se tenha uma agenda de desmatamento zero, isso é um grande retrocesso. E também o acordo de proteção de florestas, que o governo brasileiro não ratificou.

São retrocessos sobre retrocessos - disse Marina.
Durante a gestão de Marina Silva no Meio Ambiente, no governo Lula, o desmatamento começou crescendo até atingir o pico de 27.772 km² em 2004 e depois caiu bastante até chegar aos 11.651 km², em 2007. Mas voltou a subir a 12.911 km² em 2008. Marina deixou o ministério em maio de 2008, mas os levantamentos do Inpe abrangem o período de agosto do ano anterior até 31 de julho. Isso significa que o aumento de 2008 foi majoritariamente na gestão de Marina.
Dilma alfinetou Marina, ao ser perguntada se considerava ter feito mais do que Marina na questão do desmatamento.
- Se você falar em termos absolutos, sem dúvida que sim. Agora, ela (Marina) estava numa trajetória, eu estou em outra - disse a presidente.
Em seu discurso na ONU, Dilma disse que o Brasil está fazendo sua parte para mudar o quadro relativo às Mudanças Climáticas, e que o crescimento econômico não é incompatível com a adoção de medidas de preservação ambiental, como a redução de emissões.
- O Brasil não anuncia promessas. Mostra resultados - afirmou Dilma. - Ao mesmo tempo em que diminuímos a pobreza e a desigualdade social, protegemos o Meio Ambiente. Nos últimos 12 anos, temos resultados extraordinários.

O Globo, 24/09/2014, País, p. 6

http://oglobo.globo.com/brasil/dilma-diz-que-marina-mente-ao-acusar-gov…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.