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Desmatamento na Amazônia cresce 29,5%, indica levantamento

Valor Econômico, Especial, p. A12
19 de Nov de 2019

Desmatamento na Amazônia cresce 29,5%, indica levantamento

Daniela Chiaretti

O desmatamento da Amazônia no período 2018-2019 foi de 9.762 km2, um crescimento de 29,5% em relação a 2017-2018. É a estreia do governo de Jair Bolsonaro no combate ao desmatamento da floresta - os números se referem a 1o de agosto de 2018 a 31 de julho de 2019, ou seja, cinco meses da gestão de Michel Temer e sete da de Bolsonaro. Trata-se da maior taxa de desmatamento da década.
O recorde dos últimos dez anos é de 2008, quando foram registrados 12.911 km2 de desmatamento. Os dados são do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite, sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) conhecido por Prodes. Foram divulgados ontem pela manhã, em São José dos Campos (SP), na sede do Inpe, pelos ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.
Comparados com os dados de outro sistema do Inpe, o de alertas de desmatamento conhecido como Deter, há um indicador alarmante: de janeiro a agosto de 2019, o Deter indica um desmatamento que é quase o dobro do igual período em 2018.
"Temos que adotar uma estratégia diferente para controlar o desmatamento", disse Salles. Ele confere, contudo, uma força inercial à explosão da derrubada do último período, dizendo que o desmatamento está em alta desde 2012. É verdade, mas os problemas são o pico recente e a tendência de alta acentuada do segundo semestre.
Os dados do Deter de agosto de 2018 a 31 de julho de 2019 apontam para 6.840 km2 de desmatamento. Os números do Prodes, que é mais preciso, costumam ser maiores que os do Deter.
O dado divulgado ontem pela manhã não inclui as altas de agosto, setembro e outubro indicada pelo Deter. Somente nestes três meses, segundo o sistema, há um indicativo de desmatamento equivalente à metade de todo o desmatamento no período 2018 - 2017.
O alerta de desmatamento de agosto a outubro foi de 3.704 km2, segundo o Deter. O desmatamento anual do período 2018-2017 (Prodes) foi de 7.536 km2.
Para Salles, os motivos do aumento do desmatamento são os mesmos desde 2012: "a pressão das atividades econômicas, a maior parte ilegal".
Salles anunciou uma reunião na quarta-feira em Brasília com os nove governadores da Amazônia Legal, para discutir medidas de combate ao desmatamento e de "desenvolvimento sustentável".
Na reunião, segundo ele, "um rol de medidas será discutido".
"Vamos discutir os pontos de convergência e possíveis avanços", seguiu Salles, lembrando que parte do desmatamento ocorre em áreas de jurisdição estaduais.
Ele foi vago em relação às medidas em discussão. Citou o "uso de ferramentas tecnológicas", um trabalho integrado com a Polícia Federal, a Embrapa e o Inpe. Citou, também recursos do Fundo Petrobras para fiscalização, equipamentos e custeio. Não deu detalhes.
Ao falar do combate ao desmatamento, o ministro citou "a ideia do governo de tolerância zero com a criminalidade". Deu a entender que desmatadores ilegais se enquadrariam ali em ações de comando e controle "aprofundadas", com apoio de Polícia Federal, Ibama, Inpe e uso de tecnologia.
Salles disse pretender reativar o projeto TerraClass, do Inpe e da Embrapa, que qualifica o desmatamento e está parado desde 2016.
Na agenda com os governadores também estarão em pauta questões fundiárias, de pagamento de serviços ambientais, bioeconomia e da "monetização necessária para dar alternativas econômicas de preservação", disse Salles.
O ministro rejeita a ideia de que a narrativa contra o Ibama, a "indústria das multas" e a defesa de abertura de mineração em terras indígenas e de "várias Serras Peladas na Amazônia", que o presidente repete desde a campanha, tenha influenciado o desempenho ruim.
"Lamentavelmente não surpreende", diz Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA), comentando o grande aumento do desmatamento. "Há uma flagrante leniência do governo com a ilegalidade ambiental."
"Temos observado um aumento do desmatamento desde 2012, mas, se o crescimento das taxas continuasse no mesmo ritmo, deveríamos esperar valores por volta de 8 mil km2 ", diz Raoni Rajão, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. "Com a taxa de desmatamento em quase 10 mil km2 estamos vendo uma mudança de tendência, com a piora substancial do desmatamento", diz ele. "Vale ressaltar também que esse resultado ruim ocorreu por causa, principalmente, de três meses bem acima da média dos anos anteriores", diz, referindo-se ao desmatamento entre maio e julho. "Os picos de desmatamento em agosto e setembro já entram na conta de 2020, que poderá ser ainda pior que a deste ano."
Quatro Estados responderam por 84% do desmatamento da Amazônia: Pará, Mato Grosso, Amazonas e Rondônia. Somados, responderam por 8.213 km 2 do corte raso de árvores na floresta.
O Pará responde por quase 40% do total (39,5%) com 3.862 km2 de floresta vindo ao chão no período. Em segundo lugar ficou Mato Grosso, com 1.685 km2, ou 17, 2% do total.
Depois veio o Amazonas (14,5%), que ultrapassou Rondônia (12,7%) neste período.
Roraima foi o Estado com maior ritmo de desmatamento, uma taxa alarmante. Embora o valor absoluto não seja tão expressivo - 617 km2 -, a taxa alcançou 216,4%, em relação ao período anterior.
"Roraima pode estar se tornando uma nova fronteira de desmatamento e merece atenção", disse Darcton Policarpo Damião, o diretor do Inpe. Ele assumiu o instituto interinamente depois da saída do físico Ricardo Galvão, em agosto.
Galvão, que havia estado no epicentro da controvérsia com o presidente Jair Bolsonaro, foi exonerado depois de duas semanas de críticas do governo sobre os dados do Deter, sistema do Inpe que dá alertas de desmatamento para equipes de fiscalização do Ibama e de órgãos ambientais.
"Não está correto o que ele falou", disse, referindo-se a Salles. "O crescimento do desmatamento não é inercial, que vem desde 2012", seguiu. "Se ele tivesse atuado, não teríamos este valor."
"É claro que as mensagens estimularam fortemente", disse Galvão, rebatendo Salles e referindo-se à narrativa antiambiental desde a campanha eleitoral de Bolsonaro. Só em abril a junho de 2019, lembrou, o Deter emitiu 15 alertas diários apenas na Reserva Nacional de Jamanxim, no Pará, "e todos maiores de 30 hectares". Jamanxim fica em área de influência da BR-163, a mesma que ficou internacionalmente conhecida em agosto, no episódio de queimadas conhecido como "Dia do Fogo". "E o Ibama não fez nenhuma ação", afirmou Galvão.

Valor Econômico, 19/11/2019, Especial, p. A12

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/11/19/desmatamento-na-amazo…

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