VOLTAR

Desmatamento é uma das causas

CB, Cidades, p. 32
20 de Jan de 2008

Desmatamento é uma das causas
Especialistas afirmam que a diminuição das áreas verdes e o crescimento urbano desordenado contribuem para a proliferação da doença em Goiás. Estado perdeu entre 60% e 70% do cerrado nativo

Renato Alves
Enviado especial

Goiânia-Uma área equivalente a 70 mil campos de futebol do cerrado goiano é transformada em carvão para abastecer as siderúrgicas de Minas Gerais anualmente.
O desmatamento e a expansão desordenada dos municípios são uma das explicações para o fenômeno da febre amarela em Goiás. A teoria é de especialistas e autoridades do estado. Eles também apontam a invasão das matas e cachoeiras por turistas não vacinados como causa da concentração de infecções em terras goianas.
Dos 12 casos de febre amarela confirmados pelo Ministério da Saúde no Brasil em 2008, 10 são de pessoas que moram ou estiveram em Goiás recentemente. Oito delas morreram. Os cinco técnicos ouvidos pelo Correio garantem que não há como reverter tal quadro. Afirmam que Goiás sempre será área endêmica e a única forma de evitar a febre amarela é se vacinar. Eles também preocupam-se com a dengue - em função da grande incidência do mosquito transmissor na região - e com as mortes em série de macacos.
Temem que a população passe a sacrificar os símios que vivem em área urbana por medo de contágio.
Coordenador de Fauna e Recursos Pesqueiros do Ibama em Goiás, Léo Caetano da Silva diz não haver relatos de tantos macacos mortos em tão pouco tempo em Goiás. "Certamente, alguns morreram por febre amarela. E eles foram vítimas, tanto quanto os humanos infectados pela doença", ressalta. "Tem que ficar claro que não foi o macaco que invadiu a cidade. Nós é que estamos entrando no habitat dele."
O número de municípios goianos onde ocorreram epizootias - mortes de macacos - aumenta a cada dia. Há 66 cidades em alerta. Somente em Goiânia, entre o fim de novembro e a última sexta-feira, haviam sido encontrados 36 símios mortos em 23 pontos.
Condições climáticas
O biomédico e biólogo Nilson Jorge Júnior, coordenador do mestrado em ciência ambiental e saúde da Universidade Católica de Goiás, diz que a concentração de casos de febre amarela no estado é fruto de um conjunto de fatores. "Eles vão do desmatamento às condições climáticas do Centro-Oeste", comenta.
Nilson Júnior explica que o clima, as matas, a grande diversidade de animais e a expressiva quantidade de vetores fazem do Brasil um dos poucos países das Américas Sul, Central e Norte propícios à febre amarela. "Mas isso não pode ser encarado como algo normal. A doença tem uma letalidade muito alta. Devemos combatê-la", alerta. "O governo brasileiro diz que a febre amarela foi eliminada da área urbana desde 1942. Isso só vale para o Rio de Janeiro. Amapá, Amazônia e Goiás também são Brasil. E aqui as pessoas continuam morrendo", critica.
Obrigatoriedade
Nilson Júnior defende a obrigatoriedade da vacina contra febre amarela no Brasil como forma de exterminar a doença no país. "Para entrar em alguns países precisamos de comprovar a imunidade contra determinadas doenças. Por que não podemos fazer o mesmo aqui?", questiona. "O correto seria isolar a área onde a vítima teria sido infectada e refazer todo o seu percurso para saber como e onde ela realmente pegou a doença, para, depois, fazer um trabalho de combate naquela região", sugere.
O secretário de Saúde de Goiás, Cairo Alberto de Freitas, diz que o estado não fará pesquisa sobre a incidência de febre amarela. "O que está acontecendo é um fenômeno natural. Goiás é uma área endêmica. O estado é a última barreira de matas entre o Centro-Oeste e o Sudeste", argumenta. Ele, porém, reconhece que casos de febre amarela tão próximos aos municípios mais populosos do estado são causados por um problema ambiental. "Nós estamos invadindo as áreas de mata. Em Goiânia, condomínios horizontais são construídos próximos a florestas. Por isso, as pessoas têm que se vacinar."
Diferentemente da capital, o interior de Goiás só vem perdendo área verde.
Estudos calculam de 30% a 40% o restante de cerrado nativo no estado. "Mas certamente esse não é o único fator para a propagação de doenças. Porque, senão, as infecções ocorreriam nas cidades com maior desmatamento, e não em Goiânia e arredores, onde há mais matas conservadas", pondera o superintendente do Ibama em Goiás, Ary Soares dos Santos.
Cercada de verde
Cerca de 30% do território de Goiânia, que tem pouco mais de 1 milhão de habitantes, é coberto de verde. A cidade conta com sete parques e bosques abertos à visitação pública. Nesses espaços, vivem três espécies de macacos, que podem servir de hospedeiros para a febre amarela.
Em casas e prédios do município, agentes do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Goiânia encontram diariamente larvas e mosquitos adultos de Aedes aegypti - transmissor da dengue e da febre amarela na zona urbana. Nos bosques e parques, eles têm identificado Sabetes e Haemagogus, espécies que são vetores da febre amarela silvestre.
O secretário Cairo de Freitas explica a necessidade de que o índice de infestação do mosquito seja igual ou maior que 5% para haver possibilidade de infecção urbana da doença. "Atualmente, a média no estado é de 1%. Por isso, é extremamente difícil casos de febre amarela urbana. Mas temos que controlar o índice de infestação do mosquito e reduzir cada vez mais os focos", afirma.
O diretor do CCZ de Goiânia, Geraldo Edson Rosa, diz que em alguns pontos da capital o índice de infestação chega a 2,5%. "A gente intensificou as campanhas desde 15 de dezembro para evitar as epidemias dos dois últimos anos", explicou. Ano passado, 13.530 pessoas pegaram dengue em Goiás: oito morreram. Em 2006, com 30.424 notificações, o estado ficou em quarto lugar no ranking da dengue no país, atrás apenas do Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

CB, 20/01/2008, Cidades, p. 32

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.