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Desmatamento cresce 15% na Amazônia

Folha de São Paulo - São Paulo - SP
15 de Mai de 2001

Mais uma má notícia para a imagem do governo FHC: o desmatamento na Amazônia cresceu 15% entre agosto de 1999 e agosto de 2000, em relação aos 12 meses anteriores, anunciou o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Alcançou 19.832 quilômetros quadrados, quase um Sergipe inteiro.
O dado sobre a área devastada, estimado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) com base na comparação de imagens de satélite, ainda é preliminar. Foi obtido por amostragem, e o número real e pode se revelar ainda maior. No ano passado, por exemplo, a estimativa para 98/99 havia sido de 16.926 km2, e o dado final sobe agora para 17.259 km2.
As cifras do Inpe contrariam perspectiva anterior comemorada pelo ministério, de "estancamento" no processo de desmatamento. O aumento de 17.259 km2 na área devastada entre agosto de 1998 e agosto de 1999, embora se mantenha na média dos anos anteriores, ainda representa, na avaliação do próprio ministério, um patamar alto de devastação.
A mesma avaliação é feita por organizações não-governamentais (leia texto à direita).
A extensão acumulada de desflorestamento chegou a 569.269 km2 em 1999 - o que representa 13,9% da área total de floresta da Amazônia (cerca de 4 milhões de quilômetros quadrados dos 5 milhões que compõem a chamada Amazônia Legal). Os dados de 2000 ainda são preliminares, mas sugerem que 14,3% da Amazônia já tenham sido devastados.
Na avaliação da secretária de Coordenação da Amazônia no MMA, Mary Allegretti, essa projeção se reveste de alta confiabilidade e indica uma preocupação que o ministério deverá ter nos próximos anos.
Segundo ela, as medidas tomadas pelo ministério não foram suficientes para diminuir o desmatamento porque dependem de coordenação com políticas de outros ministérios - por exemplo, do Desenvolvimento Agrário, para que não não sejam promovidos assentamentos de sem-terra em áreas de floresta.
"A atuação do ministério é cada vez mais precisa, mas é apenas uma parte do problema. Não temos como controlar a dimensão econômica da região, trabalhamos apenas com fiscalização. É preciso uma coordenação de políticas agrícolas, agrárias e econômicas", disse Allegretti.
Um exemplo frequente da descoordenação entre áreas do governo federal, no que respeita à Amazônia, é o plano desenvolvimentista "Avança Brasil". Dois estudos de ambientalistas e pesquisadores publicados em 2000 previam centenas de milhares de quilômetros quadrados de desmatamento, nas próximas décadas, como resultado das obras de infra-estrutura na região.
Com os dados do Inpe, o ministério fez um levantamento dos 43 municípios que mais desmatam, dentro dos três Estados que concentram desflorestamentos (Pará, Mato Grosso e Rondônia, o chamado Arco do Desflorestamento). A idéia é concentrar nesses municípios as políticas de monitoramento e fiscalização.

Mato Grosso
O plano é estender para esse municípios, a partir deste mês, um projeto piloto de sensoriamento remoto desenvolvido pelo governo do Estado de Mato Grosso, com recursos do PPG-7 (o Programa Piloto financiado pelas sete nações mais ricas do mundo).
De acordo com o projeto, o proprietário rural é obrigado a comprar uma imagem de satélite de sua propriedade, de qualquer uma das empresas que operam na região com a mesma base do Inpe. Com apoio na imagem, é dada ou não autorização para desflorestamento daquela área.
Segundo Allegretti, apesar de começar com uma amostragem pequena de propriedades, o projeto em desenvolvimento no Mato Grosso chegou a uma queda de 20% de desmatamento nas áreas monitoradas. Cada foto de satélite custa cerca de R$ 300 e a implantação do projeto sai, para propriedades acima de 500 hectares, por cerca de R$ 3.000.

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