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Desmatamento: consumidores europeus cobram mudanças sustentáveis de produtos brasileiros

O Globo - https://oglobo.globo.com/economia
26 de Set de 2020

Desmatamento: consumidores europeus cobram mudanças sustentáveis de produtos brasileiros
Países começam a discutir a responsabilidade de quem compra produtos ligados ao desmatamento e a queimadas. Redes são alvo de pressão de ativistas

Claudia Sarmento, Especial para O GLOBO

LONDRES - A maior rede de supermercados do Reino Unido está na mira do Greenpeace. Ativistas exigem que a Tesco pare de comprar produtos de empresas ligadas ao desmatamento da Amazônia e do Cerrado.

Quem foi fazer compras na filial de Hertfordshire (Sul da Inglaterra) no início do mês, viu um telão no qual se via a líder indígena Sônia Guajajara alertando consumidores sobre incêndios florestais e a importância de boicotar o que vem de área queimada ilegalmente no Brasil.

O protesto é um dos muitos exemplos da pressão internacional crescente contra a política ambiental brasileira, que já levou gigantes varejistas como a própria Tesco a defender legislação que garanta o rastreamento das cadeias de abastecimento. Os supermercados não querem manifestações na sua porta, e muito menos sua imagem ligada a atividades predatórias.

É processo que envolve vários setores, refletindo o aumento da consciência sobre a preservação do meio ambiente.

A discussão não se resume ao Reino Unido, como ficou claro nos recados dados ao governo brasileiro nas últimas semanas por autoridades europeias, empresas e fundos de investimentos. Tampouco é questão distante do cidadão comum.

Segundo o Fundo para a Vida Selvagem e Natureza (WWF), 67% dos britânicos querem que o governo de Boris Johnson aprove uma lei proibindo a venda de produtos como carne, soja e laticínios que saíram de países onde leis de proteção ambiental não são cumpridas. A Alemanha estuda regulação semelhante.
Chiara Vitali, ativista florestal do Greenpeace no Reino Unido, acredita que existe uma mudança de mentalidade. A venda de produtos de origem vegetal no país tem crescimento acelerado, e os supermercados aumentaram estoques de alternativas a carnes e laticínios, mas o abandono da carne industrial ainda é lento, diz o Greenpeace.

Para Chiara, a pandemia acelerou a deterioração da imagem do Brasil no exterior. As imagens da floresta em chamas e de animais carbonizados reforçaram os questionamentos dos europeus.

- A Covid-19 despertou a atenção global para a associação entre o risco de pandemias e o aumento da destruição de ecossistemas. O desmantelamento das proteções ambientais pelo presidente Bolsonaro e os incêndios chocaram o mundo - diz ela, numa referência aos dados oficiais do Inpe sobre a dimensão da devastação.

A ONG Ethical Consumer, que estimula o consumo consciente, desde o ano passado recomenda que os britânicos evitem carne, couro e soja do Brasil por causa da falta de empenho do governo em conter o avanço dos incêndios.

Josie Wexler, porta-voz do grupo, defende pactos entre governos e o agronegócio, como a Moratória da Soja, em vigor no Brasil desde 2006, que conseguiu reduzir o desmatamento:

- Queremos que as empresas rastreiem as cadeias de suprimentos e as tornem transparentes, fazendo tudo para atacar as raízes dos abusos.

A Tesco alega que já não compra carne bovina do Brasil. A empresa está entre os signatários de uma carta enviada ao governo brasileiro em maio com ameaça de boicote a produtos se fossem aprovadas medidas que podem acelerar o desmatamento.

- Os varejistas estão impulsionando o uso de soja sustentável certificada em suas cadeias de abastecimento - confirma Leah Riley Brown, consultora de Sustentabilidade do Consórcio de Varejistas Britânicos (BRC). - O BRC apelou ao Brasil para impedir o desmatamento e está trabalhando para garantir que fornecedores atendam às expectativas sobre sustentabilidade.

Não é contra o país
Para o pesquisador Tiago Reis, da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, que monitora o impacto socioambiental da produção de commodities, as críticas à gestão ambiental brasileira são parte de novo movimento que ganha força nos mercados europeus. É tendência irreversível.

- Sempre falamos em políticas públicas para controlar desmatamento em países produtores, mas agora existe uma mudança clara, e sem volta, de discutir a regulamentação nos países consumidores - aponta. - A França, por exemplo, já exige que importadores provem que não estão associados a danos socioambientais.

Tim Steinweg, especialista em sustentabilidade da consultoria holandesa Aidenvironment, esclarece que o clima de mobilização não é sinônimo de sentimento antibrasileiro:

- Os consumidores ficariam mais do que felizes em comprar produtos brasileiros comprovadamente produzidos de forma responsável.

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