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Desmatamento confronta Bolsonaro

O Globo, Opinião, p. 2
20 de Nov de 2019

Desmatamento confronta Bolsonaro
Os alertas feitos pelo Inpe, e que levaram o presidente a destituir o diretor do instituto, são confirmados

Editorial

Devido ao discurso antipreservacionista da campanha, Jair Bolsonaro assumiu sob aplausos de desmatadores e garimpeiros ilegais. Estes seriam saudados mais tarde em um inédito minicomício presidencial às portas do Planalto.

Para reafirmar sua defesa da liberação do avanço sem controle de agricultores, pecuaristas e mineradores desprovidos de qualquer consciência ambiental, o presidente Bolsonaro, ao lado do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, logo atacou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de reputação mundial, forçando o afastamento do seu comando do cientista Ricardo Galvão.

Foi claro ao demonstrar desconfiança nos dados captados e analisados pelo Inpe, colhidos por satélites, sobre a destruição da Amazônia. Salles chegou a falar na contratação de algum serviço privado.

O governo trocou Galvão por Darcton Policarpo Damião, com passagem pelo Inpe, e os dados divulgados segunda-feira pela instituição confirmaram o cenário de destruição detectado pelo instituto e que tanto irritara a dupla Bolsonaro-Salles. Reafirma-se a verdade de que não adianta culpar o mensageiro pelas más notícias.

De acordo com o sistema Prodes, do Inpe, que vigia a Amazônia do espaço, de agosto de 2018 a 31 de julho último foram perdidos 9.762 quilômetros quadrados de floresta, um aumento de 29,5% em relação ao período anterior.

Só não superou 1998, em que o desmatamento cresceu 31%. Como são grandes as dimensões amazônicas, os 9,7 mil quilômetros devastados de meados de 2018 ao fim de julho equivalem a mais de seis vezes o tamanho da cidade do São Paulo.

Salles, que divulgou os dados, teve de reconhecer a expansão do desmatamento e chegou a admitir que poderá ser pedida mais uma vez a atuação das Forças Armadas na região. Isso foi feito no pico de queimadas e deu certo.

Disse estar na sua agenda a reativação do Fundo Amazônia, em que há R$ 3,4 bilhões doados pela Noruega e Alemanha, que recuaram diante da tentativa do governo de intervir no próprio fundo.

Nestes quase 11 meses de poder, o governo Bolsonaro perdeu qualquer nesga de credibilidade que pudesse ter em promessas de alguma política ambiental consequente.

A imagem criada pela pressão sobre os sistemas de controle e vigilância no Ibama e ICMBio, por exemplo, exercida por Salles, é mais forte do que qualquer declaração pré-fabricada.

É provável que o Brasil, por tudo o que tem acontecido, seja novamente atingido por críticas de outros países. O espaço para isso poderá ser a próxima Conferência do Clima, a COP-25, agendada para Madri, no mês que vem.

O Globo, 20/11/2019, Opinião, p. 2

https://oglobo.globo.com/opiniao/desmatamento-confronta-bolsonaro-1-240…

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