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Desmatamento ameaça rios da Amazônia

Jornal do Brasil-Rio de Janeiro-RJ
30 de Jul de 2004

Pesquisador americano alerta para risco de 'sufocamento'

A substituição de zonas de florestas por lavouras, que já ocorre em muitas localidades da Amazônia, pode deixar um rastro de problemas nos rios e até transformar algumas áreas em 'zonas mortas'. A principal preocupação dos especialistas é com o excesso de nutrientes nas águas, em especial o nitrogênio, presente em resíduos de fertilizantes. O alerta foi feito ontem, em Brasília, pelo pesquisador Christopher Neill, no último dia da III Conferência Científica do LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia). O temor ganha relevância em função de a Amazônia ser detentora de 20% de quase toda a água doce do Planeta. Neill explica que o nitrogênio em excesso favorece a proliferação de algas que, ao se decomporem rapidamente, consomem todo o oxigênio disponível na água, 'sufocando' outros seres vivos marinhos. Sem oxigênio, plantas e animais aquáticos também acabam morrendo. A zona morta mais conhecida fica no Golfo do México, na foz do rio Mississipi, em águas dos Estados Unidos.
O pesquisador, que trabalha na instituição americana Marine Biological Laboratory (Massachusetts), faz parte de uma equipe liderada pela Universidade de São Paulo (USP), que começa a desvendar estas transformações das águas na Amazônia, em função da mudança no uso da terra. Por enquanto, a pesquisa está focada na região central de Rondônia. Eles observam como e em que quantidades o elemento químico é carregado da terra para a água. Neill explica que, embora as lavouras de soja - causadoras da expansão da fronteira agrícola - não utilizem muito nitrogênio para fertilização, e sim o fósforo, o elemento químico é usado nas culturas rotatórias, como o feijão e o milho.
Os pesquisadores trabalham em escalas diferentes, isto é, com bacias de tamanhos diferentes. E com um dilema: o que acontece numa escala pequena não pode ser simplesmente transposto para um rio de dimensões maiores, como o Amazonas.
- Mas dá uma idéia do que já está acontecendo - acrescenta Neill.
Entre os primeiros resultados está o fato de que o nitrogênio 'viaja' mais tempo nas águas da Amazônia antes de ser absorvido, do que em rios de clima temperado. Enquanto nos Estados Unidos o nitrogênio percorre apenas alguns metros, na Amazônia trafega por quilômetros.
- Isso aponta para uma maior tendência de o elemento chegar aos grandes rios - informa o cientista.

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